sábado, 8 de abril de 2017

Reflexão sobre o Brexit

                              

         Não tenho a pretensão de ser o único a pensar e a meditar sobre o brexit. Poupo, por conseguinte, aos meus eventuais críticos esse trabalho.
         Sem embargo, no meu entendimento, e havendo, s.m.j., analisado aqueles segmentos que reúnem maior interesse imediato, quero crer que essa momentosa questão esteja ainda a exigir uma tópica reflexão ulterior.  
         Com efeito, parece-me que, arrastado pela importância do tema, esqueceu-me dilatar sobre um aspecto colateral deste fenômeno político. No entanto, essa alegada marginalidade  do brexit não nos deve induzir em erro no que tange à etiologia desse tardo fenômeno da história inglesa.
         O brexit, decerto, não surgiu por acaso. Desde muito, ele fermentava, seja no proletariado,seja em outros setores marginais do povo inglês.
          A sua abrupta explosão nas semanas que antecederam o verão inglês - não ignoro que, pela brevidade de sua duração, é sazão algo esquiva e evasiva na terra de Shakespeare - não terá surgido por acaso.
           Além de alimentado por alotrópicas alianças, marcadas mais por contradições internas irresolvidas ou irresolvíveis - o indefectível salto para a frente, que explicaria até mesmo movimentos inexplicáveis, como o dos lemingues [1]- a tentação do velho nacionalismo e do retorno aos estreitos limites do nacionalismo de outrora - que, como o superhomem na cabine telefônica mostraria a túnica e os super-poderes -, o brexit estará para sempre entremeado e refugiado nos partidos facistóides que pregam uma absurda independência inglesa, como na mini-formação do UKIP (Partido da Independência do Reino Unido),liderado por Nigel Farage.
           Retirada do vácuo, e colocada no contexto da suposta independência do Reino Unido, cresceu a importância do movimento liderado pelo UKIP. No momento em que os opositores do Mercado Comum, abandonaram a vacuidade dos mini-partidos, eles voltaram a empunhar o pavilhão que a direita jamais abandonara.
           Aglutinaram-se, então, as forças dormentes, não só do velho nacionalismo, mas também o monstro do brexit se libertaria de suas mini-divisões, e tornaria sérias as forças colaterais da xenofobia. Como na França, mas com mais timidez, o antissemitismo se confundiria com o xenófobo.  Tampouco se deve esquecer que a terra dos teares e da industrialização, conviveu com os luditas e a respectiva aversão às máquinas. Nada mais natural, portanto, que sob a velha bandeira do Império essas forças se congregassem no seu ódio às ditas máquinas, a impessoalidade das fábricas, e o revoltante crescimento do Continente, com a ressurgência da Comunidade Europeia  e tudo que ela significar possa de anti-Império e, em consequência, a ressurreição de forças que pela sua impessoalidade faziam desaparecer a velha Álbion.
             O Brexit, por conseguinte, pode ser caracterizado por uma coalizão de muitos nãos, além da raiva oriunda da presença maciça de estrangeiros (xenofobia) , da aspiração por um Reino Unido mais forte, poderoso, e por conseguinte, sem  necessidade de alianças estrangeiras, e a par disso por um retorno a um mundo em que a vida fosse mais fácil e as comunidades mais afluentes,  com a reminiscência do movimento ludita.
              O brexit será portanto a aliança das contradições. Mais do que somam, elas puxam para o passado e a mítica existência de comunidades mais ricas ou menos pobres. O Ukip nesse aspecto é uma metáfora. Na Grécia atual  metáfora é um caminhão que leva as mercadorias  para outros lugares (meta - o prefixo que indica mudança, seja de lugar ou de qualidade; phoros (foros)  que leva,que transporta... Daí a ideia da metáfora, que é a mudança, o transporte (mudança de lugar) ...
              Como vemos, o passado e a velha Hellas estão em toda a parte.  Ela merece muito respeito pelo seu aporte ao pensamento do Ocidente.
               Mas pensem, meus caros amigos ingleses, acaso não  seria melhor que voltassem para o futuro, ao invés de um disfarçado saudosismo, que a nada leva, senão à volta às contradanças do velho nacionalismo...   



[1] aqueles animaletes que, de repente, correm para uma falésia, de onde despencam para a morte.

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