Não tenho a
pretensão de ser o único a pensar e a meditar sobre o brexit. Poupo, por conseguinte, aos meus eventuais críticos esse
trabalho.
Sem
embargo, no meu entendimento, e havendo, s.m.j.,
analisado aqueles segmentos que reúnem maior interesse imediato, quero crer
que essa momentosa questão esteja ainda a exigir uma tópica reflexão ulterior.
Com
efeito, parece-me que, arrastado pela importância do tema, esqueceu-me dilatar
sobre um aspecto colateral deste fenômeno político. No entanto, essa alegada
marginalidade do brexit não nos deve induzir em erro no que tange à etiologia desse
tardo fenômeno da história inglesa.
O brexit, decerto, não surgiu por acaso.
Desde muito, ele fermentava, seja no proletariado,seja em outros setores
marginais do povo inglês.
A
sua abrupta explosão nas semanas que antecederam o verão inglês - não ignoro
que, pela brevidade de sua duração, é sazão algo esquiva e evasiva na terra de
Shakespeare - não terá surgido por acaso.
Além de alimentado por alotrópicas alianças, marcadas mais por
contradições internas irresolvidas ou irresolvíveis - o indefectível salto para
a frente, que explicaria até mesmo movimentos inexplicáveis, como o dos lemingues
[1]-
a tentação do velho nacionalismo e do retorno aos estreitos limites do
nacionalismo de outrora - que, como o superhomem na cabine telefônica mostraria
a túnica e os super-poderes -, o brexit estará
para sempre entremeado e refugiado nos partidos facistóides que pregam uma
absurda independência inglesa, como na mini-formação do UKIP (Partido da
Independência do Reino Unido),liderado por Nigel Farage.
Retirada do vácuo, e colocada no contexto da suposta independência do
Reino Unido, cresceu a importância do movimento liderado pelo UKIP. No momento
em que os opositores do Mercado Comum, abandonaram a vacuidade dos
mini-partidos, eles voltaram a empunhar o pavilhão que a direita jamais
abandonara.
Aglutinaram-se, então, as forças dormentes, não só do velho
nacionalismo, mas também o monstro do brexit
se libertaria de suas mini-divisões, e tornaria sérias as forças colaterais da
xenofobia. Como na França, mas com mais timidez, o antissemitismo se confundiria
com o xenófobo. Tampouco se deve
esquecer que a terra dos teares e da industrialização, conviveu com os luditas e
a respectiva aversão às máquinas. Nada mais natural, portanto, que sob a velha
bandeira do Império essas forças se congregassem no seu ódio às ditas máquinas,
a impessoalidade das fábricas, e o revoltante crescimento do Continente, com a
ressurgência da Comunidade Europeia e
tudo que ela significar possa de anti-Império e, em consequência, a
ressurreição de forças que pela sua impessoalidade faziam desaparecer a velha
Álbion.
O
Brexit, por conseguinte, pode ser caracterizado por uma coalizão de muitos
nãos, além da raiva oriunda da presença maciça de estrangeiros (xenofobia) , da
aspiração por um Reino Unido mais forte, poderoso, e por conseguinte, sem necessidade de alianças estrangeiras, e a par
disso por um retorno a um mundo em que a vida fosse mais fácil e as comunidades
mais afluentes, com a reminiscência do
movimento ludita.
O
brexit será portanto a aliança das
contradições. Mais do que somam, elas puxam para o passado e a mítica
existência de comunidades mais ricas ou menos pobres. O Ukip nesse aspecto é
uma metáfora. Na Grécia atual metáfora é
um caminhão que leva as mercadorias para
outros lugares (meta - o prefixo que indica mudança, seja de lugar ou de
qualidade; phoros (foros) que leva,que
transporta... Daí a ideia da metáfora, que é a mudança, o transporte (mudança
de lugar) ...
Como
vemos, o passado e a velha Hellas estão
em toda a parte. Ela merece muito
respeito pelo seu aporte ao pensamento do Ocidente.
Mas pensem, meus caros amigos ingleses, acaso não seria melhor que voltassem para o futuro, ao
invés de um disfarçado saudosismo, que a nada leva, senão à volta às
contradanças do velho nacionalismo...
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