terça-feira, 4 de abril de 2017

O exame pelo Senado do Juiz Gorsuch

                              

       Ao contrário das antigas regras que presidiam às discussões no Senado americano, marcadas pelo mútuo respeito e pela consequente serenidade na avaliação dos temas, a atual Câmara Alta oferece um quadro bastante diverso.
       Apesar da maioria republicana, reforçada na última eleição, parece estarem criadas as condições para que a designação do Juiz Neil M. Gorsuch se descubra confrontada por um Filibuster.  Essa palavra do vocabulário americano não tem equivalente em português.
       Ela significa tentar 'matar' uma candidatura através da extensão dos discursos contrários, que se destinam a consumir-lhe o tempo necessário para que o eventual candidato possa ser aprovado pela maioria. Como se a votação pela maioria dos Senadores pode oxigenar a candidatura a um posto na administração, ou na magistratura, a tarefa do filibuster será a de retirar pelo domínio da palavra a possibilidade de a maioria proceder como maioria, isto é determinar que a matéria em tela vá a votação.
       Em essência, semelha um processo simples, que é apanágio das minorias, fazer pela manutenção da palavra que a discussão continue indefinidamente. Em tese, o filibuster pode ser realizado por apenas um parlamentar, como é o caso de Jimmy Stewart no filme de Frank Capra 'Mr Smith goes to Washington'[1]. Da tribuna ele denuncia um boss (patrão) partidário, culpado de muitas irregularidades. De início, ignaro das possibilidades que tem, ele pela simplicidade vai conquistando diversos senadores, que o ajudam a evitar as armadilhas que ameaçam quem faz o filibuster (ele não deve jamais ceder a palavra a outrem, a não ser que seja seu partidário).  Pois aí está o segredo da prática do filibuster: 'matar' a discussão de uma proposta, seja de nome, seja de providência, através da posse da palavra, i.e., do direito de discursar. Enquanto tiver resistência, o filibuster continua. Mas bastaria que ele perdesse a palavra para que o procedimento perca o sentido.  
        Na atual tentativa de inviabilizar a designação do juiz  Neil M. Gorsuch para a Suprema Corte, os democratas têm feito progresso. O GOP os tem 'ajudado' de certa forma, pela brutal negativa da maioria republicana no Senado de sequer considerar no ano passado o candidato  Juiz Merrick B. Garland, apresentado pelo Presidente Barack H. Obama.
          O nível da liderança republicana então e agora não mudou. O mais antigo membro do Senado, o democrata de Vermont, Patrick J. Leahy lamentou o fato de que o líder da maioria republicana, Mitch McConnell, do Kentucky se comprometera  a fazer o Juiz Gorsuch sentar-se na curul da Suprema Corte, por qualquer modo, "mesmo se tal prejudique para sempre o Senado dos Estados Unidos".
           A acrimonia presidiu aos diálogos no Senado.  Também no Comitê, a principal Senadora democrata, Dianne Feinstein, da California, criticou os antecedentes do Juiz Gorsuch em termos de direitos dos trabalhadores e na relutância em responder a perguntas.  Ela também não deixou de lembrar o deplorável tratamento dado pela maioria republicana ao Juiz Merrick Garland,  a que o GOP sequer consentira em receber e analisar-lhe a proposta pelo 44º Presidente (Barack Obama).
            Diante dessa atmosfera, a discussão e consequente filibuster pelos democratas, da candidatura Neil Gorsuch, consoante apresentada pelo Presidente Donald Trump, promete ser deveras interessante, especialmente na acepção que a esta palavra dá o Povo Chinês.

( Fonte: The New York Times )




[1] Mr Smith vai para Washington.

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