De certa maneira, o
tamanho da investigação aberta pelo Ministro Edson Fachin nos deixa confusos.
Tem-se mais do que forte impressão de que, dos três poderes da República, dois
estão fundamente envolvidos. Os números são impressionantes, e os percentuais,
deprimentes.
No centro do quadro, está Marcelo
Odebrecht, atualmente preso em Curitiba, por determinação do Juiz Sérgio Moro.
Através do instituto da delação premiada, a sua acusação incrimina por assim
dizer a esmagadora maioria do estamento político-dirigente do país.
Ao ler essa sincopada catilinária, o
cidadão - que decerto vive no mundo de hoje e não naquele dos varões de
Plutarco - se já não tinha dúvidas quanto ao descarado cinismo da elite
dominante no país, se sentirá, ainda assim, perplexo, porque o conhecimento da
verdade costuma ser mais cruel do que as acusações singularizadas.
Que exemplo essa dita elite nacional
está dando para o Brasil? O descaramento está na ordem do dia. E que não se
alimentem dúvidas. Exceções as haverá, mas elas são poucas, dentre, como diria Júlio Tavares (heterônimo de Carlos
Lacerda, na época perseguido pelo regime militar) os alegres compadres de
Brasília.
O grande Juscelino Kubitschek
levantou Brasília em um quinquênio. Na pasmaceira de hoje, eis um grande,
enorme, inatingível exemplo. Infelizmente JK, como político não vívia no vácuo
e teve que fazer várias concessões ao estamento político de então. Muitos delas, infelizmente persistem. Além de um enorme salário com a chamada
dobradinha, os deputados e senadores passaram a ter passagens para a antiga
capital (Rio de Janeiro). Uma suposta nova "ética" para viabilizar a
Nova Capital. Como definir a frequência dos parlamentares em Brasília - em
geral, apenas uma jornada inteira? Que exemplo é esse para o jovem brasileiro?
Brasília - a meta-símbolo -
contribuíu e muito para abrir o interior do Brasil, e não há dúvida de que
antes se vivía ainda como no tempo de frei Vicente do Salvador, como
caranguejos arranhando o litoral, de costas para o mar...
Haverá decerto homens probos e
honestos no Brasil. Embora estatisticamente não seja crível que não os haja na
política, tudo tem contribuído para que o Povo brasileiro suspeite por princípio
de sua existência. Se não me atreveria a tanto, forçoso será reconhecer que na
política são muito comuns tais exemplos.
O espetáculo que se nos depara,
acaso poderia ser mais deprimente? Passou por aqui não faz muito um especialista
dinamarquês em corrupção. Individuou no "jeitinho" a chave mestra da visão
pouco séria da "ética" no Brasil. Querendo ser otimista, pronunciou
que talvez em dez anos esse hábito social possa ser superado...
A corrupção nos acompanha desde o
descobrimento. Na carta de Pero Vaz Caminha a dom Manuel, rei de Portugal, o escrivão-mor
encontra modo de inserir pedido de emprego para um parente seu...
Mas, convenhamos, que ela venha
crescendo vertiginosamente em Pindorama...
(Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo, Estado de S.
Paulo)
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