A
jogada do Brexit - em que a
incompetência de David Cameron ora se
junta ao mau caratismo de Theresa May - não
se prenuncia tão indolor como os atuais
negociadores britânicos, sob as instruções da Primeira Ministra, tentavam fazer
crer como possível.
Nesse
sentido, os 27 líderes da União Europeia, reunidos em reunião de cúpula em
Bruxelas, aprovaram ontem, 29 de abril, por unanimidade, os termos para a
separação do Reino Unido do bloco. São duras as medidas aprovadas e os líderes
alertaram as autoridades britânicas a
não ter "ilusões", como o livre acesso a mercados da União Europeia.
As negociações devem começar em junho p.f., após as eleições gerais convocadas
pela Premier.
A reunião
- a primeira desde que a May invocou o artigo 50 do Tratado de Lisboa, assim
iniciando formalmente a contagem regressiva de dois anos para a conclusão da
saída do Reino Unido da União Europeia - também mostrou rara unidade de vistas
entre os 27 líderes da UE. Eles levaram
apenas quinze minutos para aprovar oito páginas de diretrizes negociadas por
seus diplomatas no mês passado.
O
encontro também evidenciou clima tenso, que alguns temem possa vir a
dificultar o acordo. Nesse sentido,
autoridades europeias acusaram Londres de cinicamente vetar algumas despesas da
União Europeia e exigiram que a medida fosse revertida.
Nas
diretrizes de negociação, os 27 países defendem a garantia de direitos dos
cidadãos europeus no Reino Unido e vice-versa; assegurar a obrigação de que
Londres pague os compromissos já assumidos com os sócios europeus (que podem
chegar a 60 bilhões de Euros), a par de manter a situação fronteiriça atual
entre a Irlanda e a Irlanda do Norte, garantida em 1998, após anos de
negociações de paz na área. Nesse sentido, o premier irlandês, Enda Kenny,
pediu que os colegas reconheçam os norte-irlandeses dentro da U.E., no caso de uma unificação,
como ocorreu com a Alemanha Ocidental,
em 1990.
O negociador-chefe da União Europeia,
Michel Barnier, criticou políticos britânicos, inclusive a própria May, por
haver difundido a ideia da possibilidade
de um acordo rápido, ignorando a complexidade e os detalhes das negociações.
Aproveita decerto à May ignorar de caso pensado os óbices das
tratativas, pois lhe parece favorecer,
em termos de ambição política, minimizar os riscos da jogada inglesa. Assim
agindo, Mrs Theresa May não inova. Como foi da parte britânica a iniciativa de
romper com permanência de 40 anos no Mercado Comum (longamente pleiteada e batalhada
pelos líderes britânicos de então), ora aproveita à Mrs May minimizar-lhe as
dificuldades.
E a luta promete ser amarga e onerosa. Com efeito, a transferência da
Autoridade Bancária Europeia e da Agência Europeia de Medicamentos, ambas localizadas hoje em Londres, já conta com
cidades interessadas em sediá-las.
E é bom não esquecer que a Escócia, desde muito desejosa de recuperar a respectiva
independência, já pensa colocar sua
candidatura a tornar-se mais um membro da Organização de Bruxelas.
É a velha estória: não desejes
muito chegar a determinada situação,
porque para os sôfregos sua satisfação pode vir a ser mais amarga de o que
imaginar-se possa.
( Fonte:
O Globo )
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