domingo, 30 de abril de 2017

A U.E. endurece o Brexit

                              

        A jogada do Brexit - em que a incompetência de David Cameron  ora se junta ao mau caratismo de Theresa May - não se prenuncia tão indolor  como os atuais negociadores britânicos, sob as instruções da Primeira Ministra, tentavam fazer crer como possível.
        Nesse sentido, os 27 líderes da União Europeia, reunidos em reunião de cúpula em Bruxelas, aprovaram ontem, 29 de abril, por unanimidade, os termos para a separação do Reino Unido do bloco. São duras as medidas aprovadas e os líderes alertaram as autoridades britânicas  a não ter "ilusões", como o livre acesso a mercados da União Europeia. As negociações devem começar em junho p.f., após as eleições gerais convocadas pela Premier.
        A reunião - a primeira desde que a May invocou o artigo 50 do Tratado de Lisboa, assim iniciando formalmente a contagem regressiva de dois anos para a conclusão da saída do Reino Unido da União Europeia - também mostrou rara unidade de vistas entre os 27 líderes da UE.  Eles levaram apenas quinze minutos para aprovar oito páginas de diretrizes negociadas por seus diplomatas no mês passado.
        O encontro também evidenciou clima tenso, que alguns temem possa vir a dificultar  o acordo. Nesse sentido, autoridades europeias acusaram Londres de cinicamente vetar algumas despesas da União Europeia e exigiram que a medida fosse revertida.
         Nas diretrizes de negociação, os 27 países defendem a garantia de direitos dos cidadãos europeus no Reino Unido e vice-versa; assegurar a obrigação de que Londres pague os compromissos já assumidos com os sócios europeus (que podem chegar a 60 bilhões de Euros), a par de manter a situação fronteiriça atual entre a Irlanda e a Irlanda do Norte, garantida em 1998, após anos de negociações de paz na área. Nesse sentido, o premier irlandês, Enda Kenny, pediu que os colegas reconheçam os norte-irlandeses  dentro da U.E., no caso de uma unificação, como ocorreu  com a Alemanha Ocidental, em 1990.
           O negociador-chefe da União Europeia, Michel Barnier, criticou políticos britânicos, inclusive a própria May, por haver difundido  a ideia da possibilidade de um acordo rápido, ignorando a complexidade e os detalhes das negociações.
              Aproveita decerto à May ignorar de caso pensado os óbices das tratativas,  pois lhe parece favorecer, em termos de ambição política, minimizar os riscos da jogada inglesa. Assim agindo, Mrs Theresa May não inova. Como foi da parte britânica a iniciativa de romper com permanência de 40 anos no Mercado Comum (longamente pleiteada e batalhada pelos líderes britânicos de então), ora aproveita à Mrs May minimizar-lhe as dificuldades.
               E a luta promete ser amarga e onerosa. Com efeito, a transferência da Autoridade Bancária Europeia e da Agência Europeia de Medicamentos, ambas  localizadas hoje em Londres, já conta com cidades interessadas em sediá-las.
               E é bom não esquecer que a Escócia, desde muito desejosa de recuperar a respectiva independência,  já pensa colocar sua candidatura a tornar-se mais um membro da Organização de Bruxelas.
               É a velha estória:  não desejes muito chegar a determinada situação,  porque para os sôfregos  sua   satisfação pode vir a ser mais amarga de o que  imaginar-se possa.



(  Fonte:  O  Globo  )

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