Nicolás Maduro, na verdade, não se
apega ao poder. É tal a sua negação da
realidade que, ao ver a quase unanimidade nacional - só dela excluídos os
famigerados coletivos, tropa enquadrada,
os sem caráter e a turma do mercado
negro (nunca os lucros foram maiores) e do
narcotráfico, ele realmente acredita que possa ainda ter futuro o seu
projeto de pauperização nacional...
Diante da
hiperinflação, do caos na economia, no desabastecimento generalizado, não
espanta que se sucedam nos subúrbios de Caracas as madrugadas violentas. Os
saques aos estabelecimentos que ainda dispõem de víveres se sucedem durante a
madrugada.
Chamado às pressas mais outro órgão de
segurança - a Guarda Nacional Bolivariana (o poder chavista continua
cinicamente a denominar com o Bolívar da liberação do jugo as forças da repressão,
como se o nome do Libertador pudesse livrá-las de sua pecha de órgão
antipopular...) - houve um saldo de doze mortos. Dez desses óbitos são de
desesperados que tentaram invadir órgãos provedores de alimentos, e foram
abatidos pelos guardas.
As enxovias do poder chavista já
regurgitam de infelizes e consoante a Mesa da Unidade Democrática (MUD) 751 pessoas já foram presas.
Quero crer que os régulos das
prisões brasileiras, conhecidas pelas suas péssimas condições em uma categoria
na qual a concorrência se manifesta mais para baixo da escala humana do que
para cima, lograriam certa melhora quanto ao respectivo ego de carcereiro, se
se tiver presente o submundo que é colocado à disposição dos infelizes que nele
foram jogados.
Se revisitarmos as irrupções do
gênero - o caracazo que preparou o
fim da democracia sob Carlos Andrés Pérez -
essas manifestações, pelos seus danos e perdas humanas surgem hoje como mofinas
em comparação com a luta diuturna dos infelizes que saindo das favelas - não se
esqueçam que Caracas chega à sofisticação de ter transformado um arranha-céu de
mais de vinte andares em moradia popular (i.e.,
favela). O Governo de Maduro poderia ser comparado às sete pragas do Egito, se
tal fosse condicionado a uma aumento em progressão geométrica de tais
transtornos, turbulências, devastações e saqueios generalizados.
Tanto os supermercados, quanto os
armazéns rivalizam nas prateleiras vazias. A hiperinflação corrói o crédito e
retira qualquer incentivo à poupança. Quando o dragão perde as estribeiras, os
bolívares viram um papel com valor próximo a zero.
Se Hugo Chávez legou à Venezuela
esse presente de grego que é o caminhoneiro Nicolás Maduro, a hiperinflação
passará no futuro a ser matéria a ser estudada, em seus efeitos
sociais e outros, dessa virtual pulverização do dinheiro, que é segredo
guardado a quatro chaves por Nicolás Maduro e sua gang.
Humor negro à parte, a população -
que não tem acesso aos polpudos ganhos do mercado do narco-tráfico, que é
monopólio do governo chavista, sob a douta orientação de algum cérebro como
Diosdado Cabello, consoante se especula - vive o seu particular inferno, com o
dia-a-dia pontuado pelas tentativas de saqueio nos poucos armazéns que ainda
existem dotados de bens consumíveis. Como os próprios jornais chavistas
advertem, essa prática pode ser perigosa para a saúde ou eventual incolumidade
física de quem a pratique.
E, mais uma vez, pondo o humor
negro à parte, os saques se repetem. Além disso, a xenofobia governamental
agora parte para expropriar os bens de estrangeiros que por manifesta desrazão
resolveram em priscas eras investir no país chavista. É esta a explicação mais plausível da
recentíssima desapropriação da única fábrica da General
Motors na Venezuela.
Por outro lado - sob o argumento
da falta de bom senso de persistir em terra tão contrária ao comércio e à
indústria como os seres humanos normais a entendem - parece que Maduro iniciou o processo de expropriação da operadora de
telefonia Movistar, subsidiária da espanhola Telefónica, acusada de ter feito
parte da "marcha golpista de quarta-feira".
A situação está tão ruim e o
governo Maduro pior ainda, que para não chorar os venezuelanos recorrem às
piadas de humor negro. Sem embargo, o humor, mesmo negro, carece de um cenário
mínimo de realidade vivível. Como esta - e basta olhar ao redor - já deixou de
existir faz tempo um ambiente propício para que as antirregras do humor possam existir.
No entanto, se pela destruição do país e de suas riquezas é forçoso reconhecer
que os nacionais, a continuarem nesse ritmo tresloucado, dentre em breve
perderão quaisquer condições de poder ter acesso a qualquer tipo de humor, seja el negro,
vermelho ou rosa.
Talvez a solução para tal
cataclismo seja aquela da velha piada do tempo de Salazar, feitas no cartaz as
necessárias adaptações:
a Venezuela mudou-se...
(
Fonte: O Estado de S. Paulo )
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