sábado, 29 de abril de 2017

Considerações sobre a greve

                          

        A greve, ou o que seria mais preciso, as manifestações de protesto, determinadas por centrais sindicais,  em que os trabalhadores são utilizados como massas de manobra por essas mesmas centrais, continuam instrumentos válidos nas lutas por melhores condições de trabalho e salário?
        Em tese, sim.  No entanto, enquanto manifestação de massa, convocada pelas grandes centrais, como a CUT, por exemplo, a greve passou a privilegiar o objetivo político, alegadamente reivindicatório, mas na verdade, divulgatório, eis que na organização de jornadas com escopo de publicidade, o que se quer divulgar é uma disposição de luta e, precipuamente, de oposição ideológica, em que o partido político se sobrepõe à organização sindical, em termos de fins a serem atingidos.
        Tais manifestações de protesto, ainda que denominadas  de movimento grevista, na verdade empregam pano vermelho para apresentar-se como defensoras de melhores condições para os trabalhadores  - em termos de salário, notadamente, mas o escopo não é precisamente este. Como se utilizasse arma de largo efeito em termos de cone destrutivo, os móveis político e sindical são as bandeiras da vanguarda, porém  a retaguarda, com o considerável incômodo às massas trabalhadoras entra igualmente no real cômputo da manifestação.
         Assim, a jornada de protesto na prática equivale a um exercício vandálico (no qual a queima dos ônibus, como meio de transporte das massas, é privilegiada), a  par de outras destruições, que visam sempre a dificultar eventuais acessos e outras facilidades de que dispõem os trabalhadores,
         Na verdade, toda essa pluralidade de variações para tornar mais eficaz a manifestação grevista tem a ver com a limitação de meios de parte das organizações sindicais de conduzir operação autenticamente sindical.  No século XXI, os sindicatos e as respectivas confederações semelham ter pressa, ou melhor, essa intenção de encurtar o tempo da manifestação  é contingência das mudadas condições da luta sindical. 
          Assim, para tentar atingir os respectivos objetivos - ou constranger melhor o adversário (no caso, os patrões) - as greves ganham características que pouco têm a ver com a sua conformação anterior, em que a luta sindical não saía do terreno que lhe caracterizava a atividade.
           É passado o tempo das românticas resistências ao patrão através seja da ocupação dos locais de trabalho, seja da respectiva ausência.  As lutas sindicais do século XIX, conforme descritas em romances contemporâneos, como os de Émile Zola, podem ser consideradas românticas, mas eram temidas pelos patrões, na medida em que a negação do trabalho, conjugada com a ocupação dos respectivos locais constituía temível instrumento de luta da classe operária.  Por ser uma luta a peito aberto e sem quartel, ela dependia da respectiva resistência das duas partes. De um lado, a patronal, alegadamente mais forte, mas igualmente condicionada pelas exigências do capital. Por outro lado, a operária - disposta a pagar com o próprio sacrifício a respectiva reivindicação,  o que tendia a torná-las mais verazes e também mais difíceis de serem facilmente rendidas.
          O que vemos na atualidade é muito diverso. As greves são em geral substituídas pelas chamadas "jornadas de protesto", em que o objetivo é plúrimo. Valendo-se das comunidades servidas pelos meios de transporte, elas entram em um cômputo que é menos honesto do que o do enfrenta-mento do passado, eis que se vale de contingentes que não deveriam  ser eticamente envolvidos.  Hoje, as greves se transformaram  em atividades curtas de tempo, e que por isso têm de empregá-lo na maneira mais destruti-va possível no curto espaço cronológico que lhes é aberto.
         Daí as destruições que parecem vandálicas, mas que são mais oportunistas do que os seus exemplos do passado.  Se o escopo é queimar e destruir, há uma meta maior - decerto não revelada - que é a de atingir os demais componentes da sociedade, dentro de uma chantagem coletiva.
        Sem embargo, como toda a violência, ela pode ser contra-arrestada,  dela retirando a maior parte do prejuízo aos agentes envolvidos (por exemplo, onerando o transporte coletivo com o seguro anti-demonstração, o que torna mais cara a passagem para o trabalhador, mas garante que o serviço de ônibus não seja interrompido).                

                                                                                    
   (a continuar)                                    

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