A
greve, ou o que seria mais preciso, as manifestações de protesto, determinadas
por centrais sindicais, em que os
trabalhadores são utilizados como massas de manobra por essas mesmas centrais,
continuam instrumentos válidos nas lutas por melhores condições de trabalho e
salário?
Em
tese, sim. No entanto, enquanto
manifestação de massa, convocada pelas grandes centrais, como a CUT, por
exemplo, a greve passou a privilegiar o objetivo político, alegadamente
reivindicatório, mas na verdade, divulgatório, eis que na organização de
jornadas com escopo de publicidade, o que se quer divulgar é uma disposição de
luta e, precipuamente, de oposição ideológica, em que o partido político se
sobrepõe à organização sindical, em termos de fins a serem atingidos.
Tais
manifestações de protesto, ainda que denominadas de movimento grevista, na verdade empregam
pano vermelho para apresentar-se como defensoras de melhores condições para os
trabalhadores - em termos de salário,
notadamente, mas o escopo não é precisamente este. Como se utilizasse arma de
largo efeito em termos de cone destrutivo, os móveis político e sindical são as
bandeiras da vanguarda, porém a
retaguarda, com o considerável incômodo às massas trabalhadoras entra
igualmente no real cômputo da manifestação.
Assim, a jornada de protesto na prática equivale a um exercício
vandálico (no qual a queima dos ônibus, como meio de transporte das massas, é
privilegiada), a par de outras
destruições, que visam sempre a dificultar eventuais acessos e outras
facilidades de que dispõem os trabalhadores,
Na
verdade, toda essa pluralidade de variações para tornar mais eficaz a
manifestação grevista tem a ver com a limitação de meios de parte das organizações
sindicais de conduzir operação autenticamente sindical. No século XXI, os sindicatos e as
respectivas confederações semelham ter pressa, ou melhor, essa intenção de
encurtar o tempo da manifestação é
contingência das mudadas condições da luta sindical.
Assim, para tentar atingir os respectivos objetivos - ou constranger
melhor o adversário (no caso, os patrões) - as greves ganham características
que pouco têm a ver com a sua conformação anterior, em que a luta sindical não
saía do terreno que lhe caracterizava a atividade.
É
passado o tempo das românticas resistências ao patrão através seja da ocupação
dos locais de trabalho, seja da respectiva ausência. As lutas sindicais do século XIX, conforme
descritas em romances contemporâneos, como os de Émile Zola, podem ser
consideradas românticas, mas eram temidas pelos patrões, na medida em que a negação
do trabalho, conjugada com a ocupação dos respectivos locais constituía temível
instrumento de luta da classe operária.
Por ser uma luta a peito aberto e sem quartel, ela dependia da
respectiva resistência das duas partes. De um lado, a patronal, alegadamente
mais forte, mas igualmente condicionada pelas exigências do capital. Por outro
lado, a operária - disposta a pagar com o próprio sacrifício a respectiva
reivindicação, o que tendia a torná-las mais
verazes e também mais difíceis de serem facilmente rendidas.
O
que vemos na atualidade é muito diverso. As greves são em geral substituídas
pelas chamadas "jornadas de protesto", em que o objetivo é plúrimo.
Valendo-se das comunidades servidas pelos meios de transporte, elas entram em
um cômputo que é menos honesto do que o do enfrenta-mento do passado, eis que
se vale de contingentes que não deveriam
ser eticamente envolvidos. Hoje,
as greves se transformaram em atividades
curtas de tempo, e que por isso têm de empregá-lo na maneira mais destruti-va
possível no curto espaço cronológico que lhes é aberto.
Daí
as destruições que parecem vandálicas, mas que são mais oportunistas do que os
seus exemplos do passado. Se o escopo é
queimar e destruir, há uma meta maior - decerto não revelada - que é a de
atingir os demais componentes da sociedade, dentro de uma chantagem coletiva.
Sem
embargo, como toda a violência, ela pode ser contra-arrestada, dela retirando a maior parte do prejuízo aos
agentes envolvidos (por exemplo, onerando o transporte coletivo com o seguro
anti-demonstração, o que torna mais cara a passagem para o trabalhador, mas
garante que o serviço de ônibus não seja interrompido).
(a
continuar)
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