terça-feira, 18 de abril de 2017

Dois presidentes

                                   
                                           

                  Em nota escrita do complexo penal onde está preso, o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) questionou parte da versão do presidente Michel Temer sobre reunião durante a campanha de 2010, em que, segundo delatores da Odebrecht, foi acertado pagamento de propina ao PMDB.
                  Há aparência de jogo de empurra entre os dois políticos. Nesse sentido, em entrevista à Rede Bandeirantes, no fim de semana, Temer apresentou versão que o distancia do episódio, afirmando que o encontro foi realizado a partir de pedido do deputado Eduardo Cunha.
                  Por sua vez, na supracitada nota, o preso Cunha afirma que "o presidente se equivocou nos detalhes", e que a reunião foi "agendada diretamente com ele (Temer)".
                 E Cunha continua, dentro de sua linha de raciocínio:  "A referida reunião não foi por mim marcada.  O fato é que estava em São Paulo, juntamente com (o ex-deputado e ex-ministro) Henrique Alves e almoçamos os três juntos no restaurante Senzala, ao lado do escritório político dele, após outra reunião e fomos convidados a participar dessa reunião já agendada diretamente com ele."
                   Procurado, o Palácio do Planalto não se posicionou.  A defesa de Alves diz que ele mantém a versão de que "conforme já afirmado pelo próprio presidente da República, ele não se fazia presente em dita reunião."
           De acordo com os dois delatores - Rogério Araújo e Márcio Faria - participaram da reunião, além da dupla, Temer, Cunha, Alves e o lobista João Augusto Henriques.
              A dupla relata que Temer participou da reunião e que nela se acertou o pagamento de US$ 40 milhões de propina a integrantes do PMDB relativos a 5% de um contrato com a Petrobrás.
               Temer confirma a existência da reunião, realizada em seu escritório político em São Paulo, mas nega que nela tenham sido discutidos valores ou acertos escusos.
                Na nota do cárcere,  Cunha reforça essa parte da versão de Temer e diz que na reunião "não se tratou de valor nem (se fez) referência a qualquer contrato daquela empresa".  
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                Por sua vez, embora continue bem nas pesquisas, se os vários escândalos precedentes - Mensalão, Petrolão - atingiram Lula no apoio popular, o efeito das delações e da república da Odebrecht  mais do que enfraqueceram o tribuno, o desmoralizaram,  não só pelo discutível discernimento de 'vender' a sua mensagem esquerdizante às empreiteiras e, em especial, à Odebrecht, a ponto de que a cripto-ascendência  (a dos empreiteiros) se torna irresistível já nos primeiros anos de governo para o ex-torneiro mecânico e líder sindicalista e político.
                  Deixou-se, outrossim, cooptar por essa elite corrupta, que tem liames com os velhos coronéis nordestinos, "liderança" esta que fora combatida nos primórdios do PT - em que animavam esse aguerrido pequeno partido, alas católicas e sindicalistas, dentro de um espírito jacobino que se mostrara com todo zelo e rigorismo na fase inicial, em que se dissociava das grandes causas por jamais lhes satisfazerem, tanto que se recusou a princípio firmar a Constituição Cidadã, de Ulysses Guimarães, assim como expulsou alguns deputados (de uma magra bancada) por descumprirem a ordem unida, e votarem pelo candidato Tancredo Neves.
                  O primeiro escândalo sério do Partido dos Trabalhadores  se confundiria com o covarde assassínio do prefeito Celso Daniel, a vítima imolada quando o PT atravessou o sólio de seu ingresso no poder presidencial, depois de várias tentativas malogradas.
                Agora, diante da desmoralização devida a inúmeras negociatas e ao contubérnio com o principado da Odebrecht, o próprio volume dos negócios escusos de difícil passou para impossível ocultar o envolvimento com as práticas da República da Odebrecht.
                   Lula, como líder carismático que é, dispõe de apoio nos vários movimentos como a CUT (Central Única dos Trabalhadores, Movimento dos Sem Terra, Movimento dos Trabalhadores sem Teto (Guilherme Boulos). De parte dos partidos, além dos caudatários, como o Partido Comunista do Brasil (PCdo B), PCO (partido da Causa Operária),  estão no seu campo o PDT e outros partidos ditos esquerdizantes menores.
                          Para a audiência marcada pelo Juiz Sérgio Moro para o dia três de maio,  estão rumando para Curitiba uma série de caravanas para manifestar  o seu  pró ou contra o lider petista. Dado o número de pessoas  que pensa comparecer, tal decerto  não há de  contribuir para que preexista  um ambiente em que as eventuais discussões fiquem em nível senão pacífico, pelo menos ordeiro e respeitador da opinião alheia.
                           Nesse dia, três de maio, acontece o primeiro encontro entre o Juiz Sérgio Moro e o dirigente político Lula da Silva.  Dados os ânimos envolvidos, é óbvio que a maior parte dos assistentes não poderá adentrar a sala do juizado em que o ex-presidente Lula da Silva, convocado pelo Juiz Sérgio Moro, tem audiência marcada nessa data, quando se inicia o seu julgamento.
                            Como a audiência se vai desenrolar,  como se comportará  o público presente  dentro e fora da sala  são questões que por ora pairam no ar. Se se pode intuir a possível formação de um certo ambiente de feira a circundar esta convocação pelo Juiz  Sérgio Moro do réu Luiz Inácio Lula da Silva, deve-se ter presente que através da convocação maciça de pessoal arregimentado para a defesa à outrance [1]do ex-Presidente, não será difícil supor que essa multitudinização do processo judicial não é - e de longe - a mais adequada para o exame dos prós e contra da conduta do ex-Presidente no que tange à matéria do processo de que é objeto.
                             Multidões não sóem ser personagens em processos penais. Elas têm seu lugar em ambientes circenses. É de esperar-se que as necessárias providências hajam sido tomadas para resguardar, seja o respeito à figura do Juiz, que preside o processo, seja os direitos do acusado, que não está ali para ser condenado, mas sim para ser julgado.

( Fonte:  Folha de S. Paulo )       



[1] sem peias, sem limites

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