Em nota escrita do complexo penal
onde está preso, o ex-deputado Eduardo
Cunha (PMDB-RJ) questionou parte da versão do presidente Michel Temer sobre
reunião durante a campanha de 2010, em que, segundo delatores da Odebrecht, foi acertado pagamento de
propina ao PMDB.
Há aparência de jogo de empurra entre
os dois políticos. Nesse sentido, em entrevista à Rede Bandeirantes, no fim de
semana, Temer apresentou versão que o distancia do episódio, afirmando que o
encontro foi realizado a partir de pedido do deputado Eduardo Cunha.
Por sua vez, na supracitada nota, o
preso Cunha afirma que "o presidente se equivocou nos detalhes", e
que a reunião foi "agendada diretamente com ele (Temer)".
E Cunha continua, dentro de sua
linha de raciocínio: "A referida
reunião não foi por mim marcada. O fato
é que estava em São Paulo, juntamente com (o ex-deputado e ex-ministro)
Henrique Alves e almoçamos os três juntos no restaurante Senzala, ao lado do escritório político dele, após outra reunião e
fomos convidados a participar dessa reunião já agendada diretamente com
ele."
Procurado, o Palácio do Planalto
não se posicionou. A defesa de Alves diz
que ele mantém a versão de que "conforme já afirmado pelo próprio
presidente da República, ele não se fazia presente em dita reunião."
De acordo com os dois delatores - Rogério Araújo e Márcio Faria - participaram da reunião, além da dupla, Temer,
Cunha, Alves e o lobista João Augusto Henriques.
A dupla relata que Temer participou
da reunião e que nela se acertou o pagamento de US$ 40 milhões de propina a
integrantes do PMDB relativos a 5% de um contrato com a Petrobrás.
Temer confirma a existência da
reunião, realizada em seu escritório político em São Paulo, mas nega que nela
tenham sido discutidos valores ou acertos escusos.
Na nota do cárcere, Cunha reforça essa parte da versão de Temer e
diz que na reunião "não se tratou de valor nem (se fez) referência a
qualquer contrato daquela empresa".
* *
Por sua vez, embora continue
bem nas pesquisas, se os vários escândalos precedentes - Mensalão, Petrolão -
atingiram Lula no apoio popular, o
efeito das delações e da república da Odebrecht
mais do que enfraqueceram o tribuno, o desmoralizaram, não só pelo discutível discernimento de
'vender' a sua mensagem esquerdizante às empreiteiras e, em especial, à
Odebrecht, a ponto de que a cripto-ascendência
(a dos empreiteiros) se torna irresistível já nos primeiros anos de
governo para o ex-torneiro mecânico e líder sindicalista e político.
Deixou-se, outrossim, cooptar
por essa elite corrupta, que tem liames com os velhos coronéis nordestinos,
"liderança" esta que fora combatida nos primórdios do PT - em que
animavam esse aguerrido pequeno partido, alas católicas e sindicalistas, dentro
de um espírito jacobino que se mostrara com todo zelo e rigorismo na fase
inicial, em que se dissociava das grandes causas por jamais lhes satisfazerem,
tanto que se recusou a princípio firmar a Constituição
Cidadã, de Ulysses Guimarães,
assim como expulsou alguns deputados (de uma magra bancada) por descumprirem a
ordem unida, e votarem pelo candidato Tancredo
Neves.
O primeiro escândalo sério
do Partido dos Trabalhadores se
confundiria com o covarde assassínio do prefeito Celso Daniel, a vítima
imolada quando o PT atravessou o sólio de seu ingresso no poder presidencial,
depois de várias tentativas malogradas.
Agora, diante da desmoralização
devida a inúmeras negociatas e ao contubérnio com o principado da Odebrecht, o
próprio volume dos negócios escusos de difícil passou para impossível ocultar o
envolvimento com as práticas da República
da Odebrecht.
Lula,
como líder carismático que é, dispõe de apoio nos vários movimentos como a CUT
(Central Única dos Trabalhadores, Movimento dos Sem Terra, Movimento dos
Trabalhadores sem Teto (Guilherme Boulos). De parte dos partidos, além dos
caudatários, como o Partido Comunista do Brasil (PCdo B), PCO (partido da Causa
Operária), estão no seu campo o PDT e
outros partidos ditos esquerdizantes menores.
Para a audiência
marcada pelo Juiz Sérgio Moro para o
dia três de maio, estão rumando para
Curitiba uma série de caravanas para manifestar
o seu pró ou contra o lider
petista. Dado o número de pessoas que
pensa comparecer, tal decerto não há de contribuir para que preexista um ambiente em que as eventuais discussões
fiquem em nível senão pacífico, pelo menos ordeiro e respeitador da opinião
alheia.
Nesse dia, três de
maio, acontece o primeiro encontro entre o Juiz Sérgio Moro e o dirigente
político Lula da Silva. Dados os ânimos
envolvidos, é óbvio que a maior parte dos assistentes não poderá adentrar a sala
do juizado em que o ex-presidente Lula da Silva, convocado pelo Juiz Sérgio
Moro, tem audiência marcada nessa data, quando se inicia o seu julgamento.
Como a audiência se
vai desenrolar, como se comportará o público presente dentro e fora da sala são questões que por ora pairam no ar. Se se
pode intuir a possível formação de um certo ambiente de feira a circundar esta
convocação pelo Juiz Sérgio Moro do réu
Luiz Inácio Lula da Silva, deve-se ter presente que através da convocação
maciça de pessoal arregimentado para a defesa à outrance [1]do
ex-Presidente, não será difícil supor que essa multitudinização do processo
judicial não é - e de longe - a mais adequada para o exame dos prós e contra da
conduta do ex-Presidente no que tange à matéria do processo de que é objeto.
Multidões não sóem
ser personagens em processos penais. Elas têm seu lugar em ambientes circenses.
É de esperar-se que as necessárias providências hajam sido tomadas para
resguardar, seja o respeito à figura do Juiz, que preside o processo, seja os
direitos do acusado, que não está ali para ser condenado, mas sim para ser
julgado.
(
Fonte: Folha de S. Paulo )
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