No blog de ontem, me ocupei precipuamente das causas da pauperização da Belacap
ou Cidade Maravilhosa. Hoje tratarei
sobretudo das consequências dessa diminuição de
recursos, que também atinge os órgãos estatais cariocas.
Nesta semana, passava
de táxi na área vizinha à Praça da Paz, exata-mente aquela em que, a pretexto
de construir garagem subterrânea, e estação de metrô com duas saídas, o
prefeito Eduardo Paes - que é também caça da Lava Jato, como as últimas listas o demonstraram - quando dei com a parte frontal do prédio que
abriga (ou melhor, abrigava) agência da Caixa Econômica Federal parcialmente
destruída.
Hoje se sabe que esta explosão e mais
cinco outras foram realizadas em uma semana pelo Primeiro Comando da Capital
(PCC). Das duas últimas, ambas na madrugada de sexta-feira, uma foi em Ipanema
(a que acabo de me referir), pelas seis da manhã, e outra no município de
Tanguá, região metropolitana.
O Grupo de Atuação Especial em Combate
ao Crime Organizado (Gaeco), do MP
estuda esse tipo de crime há coisa de nove meses. Descobriu que criminosos
do Rio, ligados ao Comando Vermelho (CV) - facção até o ano passado ligada ao
PCC - receberam da quadrilha de São Paulo "aulas" sobre como
manusear e posicionar os explosivos. O escopo precípuo desses "cursos"
era ensinar a não danificar o dinheiro guardado nos caixas. O promotor Fabiano
Gonçalves explica: "Existe um intenso intercâmbio entre eles. Não é
simples explodir caixas eletrônicos e os criminosos de São Paulo tem essa
expertise há mais tempo. Eles vieram para o Rio e ensinaram as técnicas para
que o caixa inteiro não fosse explodido, e não se perdesse o dinheiro."
A Agência da Caixa atingida ficou
parcialmente destruída. Na Pirajá, que é a principal artéria do bairro, ali se
atravessa comércio voltado para classes com mais recursos. Os prédios dão de
frente para a velha Praça agora com novas e raquíticas palmeiras, cortesia do
Prefeito Eduardo Paes, que a pretexto de não dificultar o trabalho de
escavadeiras e outros petrechos destruidores, mudou as árvores centenárias que
embelezavam a praça. Deixou, é verdade, algumas, no passeio dos pedestres, fora
do espaço gradeado, mas com isso só contribuíu para aumentar no antigo
logradouro de Ipanema um ar de decadência e de abandono.
Os moradores dos prédios que
confrontam a praça, do lado da Visconde de Pirajá, acordaram sobressaltados
pela mega-explosão, que a principio pensaram fosse cousa de tubulação de gás...
Posso garantir que a parte
fronteira da agência da Caixa - a que visitei no passado, mas com as melhores
intenções - ficou totalmente destruída. Pode-se, portanto, dizer, lendo a
abrangente reportagem do Estadão, que nesse setor o crime organizado se está
desenvolvendo deveras. A reportagem do jornal paulista dá um quadro bastante abrangente
de quanto esse falso progresso se está espraiando pelos brasis afora (antes era
só em São Paulo...)
No entanto, uma coisa me
preocupou, entre muitas, na dita matéria. Pelo visto, o crime no Brasil não é
só organizado, mas também parece sofisticar-se. Esse dito progresso não creio
que seja do gosto de ninguém.
Para que ele seja combatido, os Estados carecem de dinheiro e de uma polícia digna desse
nome.Senão, o que se contempla é o progresso dos bandidos, enquanto as forças
estaduais ficam sem pessoal especializado, e além disso, pela paucidade (eis aí
a pobreza se inserindo de novo no quadro) subgrupos preparados para desmontar
esses grupões de bandidos que para cá vem, a fim de pôr em perigo a vida dos
cidadãos honestos. E é por isso mesmo que temos de incentivar a criação de
operações novas, tipo Lava Jato e similares, não só para desmontar o crime
organizado, mas também e sobretudo para garantir a segurança da população que
em geral é morigerada, e prefere que todos possam viver em áreas tranquilas e
serenas.
Seria como voltar ao Rio antigo, flanar nas avenidas sem temor de
pivetes e bandidos, andar pelas artérias dos bairros sem ter que parar a cada passo - para verificar
se não há meliantes pelas redondezas - e, sobretudo, não deixar, como dizia
antes um condômino nosso (que teve de mudar-se porque o condomínio subia sem
cessar), toda a segurança por conta de Deus.
Com efeito,gente bem informada no ramo nos disse que Ele não mais estava
dando conta...
(
Fonte: O Estado de S. Paulo e outras mais,
que se perderam pelo caminho)
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