sexta-feira, 28 de abril de 2017

Abuso de autoridade mira a Lava Jato

                    

       Segundo José Robalinho Cavalcanti, presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República, houve avanços no projeto de lei sobre abuso de autoridade aprovada na última quarta-feira, dia 26 de abril, pelo Senado Federal. No entanto, assinala que o texto do aludido projeto continua com falhas que têm a Operação Lava-Jato como "endereço certo".
       Consoante o Procurador Robalinho, apesar de a parte geral da norma ter sido revista pelos senadores - que suprimiram possibilidade de que simples divergência  de interpretação em decisões possa vir a ser punida - a tipificação de alguns crimes de abuso de autoridade mantém brechas nesse sentido.
        Ainda de acordo com o Procurador, até que essa contradição seja resolvida pelo Judiciário, haveria espaço para ações contra magistrados e integrantes do Ministério Público. E a título de explicação, aduz: "Teríamos a utilização dessas ações  pelas defesas para dizer que juiz é suspeito, que é prova de que perseguiu. Isso é o tipo da situação absolutamente indesejável."
          Há dois pontos referidos por Robalinho que são os artigos que definem o que pode ser considerado  abuso em casos de prisão preventiva e condução coercitiva - instrumentos considerados  fundamentais para o sucesso da Lava Jato.
         No caso da prisão preventiva, o texto diz que incorre em crime "a autoridade judiciária que, dentro de prazo razoável, deixe de relaxar prisão manifestamente ilegal".
          Pela norma, explica Robalinho, tanto Sérgio Moro quanto magistrados do Tribunal Regional Federal ou do Superior  Tribunal de Justiça ficariam expostos  a processos a partir da decisão do Supremo de soltar João Carlos Genu e José Carlos Bumlai na terça (dia 25 de abril).
          Para o procurador Robalinho "Isso abriria, em tese, a possibilidade de processo de abuso de autoridade contra todo mundo que está abaixo (do Supremo). Isso não é algo desejável nem que se possa entender como positivo."
            Além disso, para Robalinho o trecho que trata da condução coercitiva é "mais confuso ainda". "O projeto trata como se ela fosse,por si só, um abuso, quando, na verdade, é uma medida usada para evitar a decretação de prisão temporária", aduz o procurador.
             Para ele, não há dúvidas de que a tipificação do abuso ligado  à condução coercitiva "está lá colocada erradamente com endereço certo, para fazer crítica à Lava Jato".
              Ao que tudo indica a inclusão dessa tipificação de abuso que estaria ligado à condução coercitiva, segundo se presume, visa à condução coercitiva de Lula da Silva, consoante determinada pelo Juiz Moro.
               A par disso, a tipificação da obtenção de prova ilícita, também precisa de ajustes, para que erros sem dolo não sejam punidos, adverte a propósito o procurador Robalinho.
               Em consequência de o que precede,  Robalinho quer manter o diálogo com parlamentares para aprimorar o texto na Câmara.  "Não temos mais críticas severas à parte geral.  Mas a parte da punição dos crimes ainda tem muita coisa que precisa ser retirada, que está lá com endereço certo."
                Em nota na quarta-feira, dia 26 de abril, o juiz Moro usou tom semelhante, porém mais ameno.  Nesse sentido, escreveu o juiz Sérgio Moro: "O texto aprovado ainda merece pontuais críticas, mas alguns receios mais graves foram afastados".



( Fonte: Folha de S. Paulo )

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