A
queda no nível de renda que assola o estado do Rio de Janeiro é uma vergonha que o carioca sente em
cada canto da cidade. As causas são muitas, mas notadamente podem ser alinhadas
a (i) a corrupção epidêmica no estado com os dois desastrosos governos de
Sérgio Cabral; (ii) a ineficácia de seu sucessor, Luis Fernando Pezão, a quem
igualmente se acusa de corrupção, mas que também teve de enfrentar longos meses
no hospital para combater um câncer linfático
(com linfoma não Hodgkin). Na sua ausência, governou o Rio interinamente o vice Francisco Oswaldo
Neves Dornelles, que é mineiro e tem 81 anos de idade.
O
Estado do Rio, herdeiro do Distrito
Federal, onde se sediava a capital da República, viveu por muito tempo à sombra
do munífero poder federal, eis que toda a maquinária do poder estava aqui
situada. Na verdade, o Rio era capital do Brasil desde a independência, marcada
como é sabido pelo Grito do Ipiranga,
pronunciado pelo Príncipe dom Pedro às margens daquele riacho, já em
setembro de 1822.
Com
algumas modificações, o Rio continuou a ser a Corte desde aquele tempo, até o
dia 21 de abril de 1961, quando o Palácio do Catete não mais sediaria nem
gabinete presidencial, nem seria palco de grandes crises, como o foi aquela que
precedeu o suicídio do Presidente Getúlio Dornelles Vargas, em 24 de agosto de
l954.
Consumou-se, assim, naquele 21 de abril a passagem da bandeira
presidencial para os Palácios do Planalto e da Alvorada (o velho Catete e seu
parque serviam para os dois fins: residencia do Primeiro Mandatário e sua sede
de governo).
Como
se dizia na minha terra, não vou aqui chorar pitanga pela grande meta do
governo de Juscelino Kubitschek de Oliveira - a interiorização da Capital
Federal. Sabemos todos os funcionários federais atingidos pela nova disposição
que os primeiros tempos de JK em Brasília acarretaram algum desconforto para os
funcionários ( e suas famílias) que, por
cargo ou condição, deviam ser transladados para a então poeirenta Novacap.
Os
problemas acarretados pela mudança da Capital, uma heróica tarefa, foram a
princípio de alguma monta, sobretudo em termos de conforto pessoal e de outras
amenidades. Dada a minha situação à época - bastante júnior na carreira - não
estava eu nas primeiras turmas que foram escaladas para abrir o escritório do
Itamaraty em Brasília (os ministérios, por enquanto, permaneciam no Rio). Já a
situação do Itamaraty era diferente. Se ainda permanecia um mero escalão
avançado no Planalto, também é fato que as embaixadas - todas sediadas no Rio -
observavam com inquietude a aproximação da data em que seria necessário
arranchar-se em Brasília.
Mas tudo isso não poderia ser implementado nem com uma dinâmica
juscelineana (JK em breve terminaria o seu mandato), nem o seu sucessor, com o
respectivo brevíssimo governo (Jânio Quadros) trataria efetivamente da questão.
Contudo, o ponto inelutável - e o que aqui nos interessa - mais dia,
menos dia, as repartições federais no Rio partiriam para Brasília. A perda de
prestígio e também do efeito colateral das dotações ministeriais se
consumava. Lenta, mas inexoravel-
mente o
Rio de Janeiro virava uma capital estadual como as demais. Ainda lhe restavam
talvez algumas mordomias, mas todos os envolvidos e atingidos sabiam que agora
era uma questão de prazos. O Rio podia
continuar como Cidade Maravilhosa, e podia ser a Velhacap, mas deixara de ser a Capital Federal, o
centro de todos os poderes nacionais. E como os habitantes do Rio se
capacitariam, isso não é pouca coisa.
Mas não prolonguemos por demasia essa estória da lenta, mas inexorável
decadência do Rio de Janeiro.
Se ela existe, e faz parte da ordem das coisas - como diziam antigamente
- o bom povo carioca não entende por que os poderes que por aqui ficaram ou surgiram,
tenham de ser tão radicais no seu afã de agravar a situação.
Parece óbvio que o Rio se acostumara por tempo demasiado das facilidades
de existir ao lado do poder federal. Mas este já partiu desde 1961
(oficialmente), de modo que, com o
passar dos anos, todas as vantagens e mordomias decorrentes da condição
anterior foram sendo lixiviadas de forma inelutável e inexorável.
O Estadão dedica hoje, domingo, o seu cabeçalho de primeira página, e a sua
principal reportagem à seguinte matéria:
FALIDO, RIO DEVE PASSAR PELO
MENOS UMA DÉCADA EM CRISE
Para os cariocas natos e aqueles adotivos esse artigo não surpreende.
Muitos vem tomando conhecimento dessa realidade madrasta não pelas páginas de
diários, mas sim pelas dificuldades do dia-a-dia.
Se a pessoa é aposentada do ente estadual, o atraso nos contra-cheques
não mais a surpreende. Não sei se a
Administração carioca estaria por acaso imitando a gaúcha, que parcela os
décimos-terceiros a perder de vista, quando não atrasa a pensão do aposentado
ou o eventual adicional de férias.
Por outro lado, tampouco é fora do comum que o atraso nos pagamentos dos
respectivos salários ou pensões não venha também a trans-formar-se em
suspensões que se prolongam sem que o servidor
e o aposentado seja inteirado do tempo que levará o pagamento.
Ainda na primeira página, a foto de uma pensionista - cuja mísera pensão
foi descontinuada há meses - que teve de recorrer a ir para a praça da Assembléia e com um cartaz que a
mostra "Sem Salário e Sem dignidade" pede uma esmola. Com o que essa
senhora arrecadou pôde pagar a sua conta de luz, e evitar que ela fosse
cortada...
Dentre as causas dessa magna crise na administração carioca, está o
Governo Sérgio Cabral, como símbolo da Corrupção que assolou e ainda assola o
Rio de Janeiro. Há duas semanas, o procurador da República Eduardo El-Hage, da
força tarefa da Lava Jato afirmou que a gestão Sérgio Cabral (PMDB)
"roubou dos cofres públicos em todas as áreas". A declaração foi dada
depois que a Operação Fratura Exposta mostrou que ao menos R$ 300 milhões foram
desviados da Secretaria da Saúde.
Cabral está encarcerado
desde novembro de 2016. Réu em sete ações penais relativas à Lava-Jato,o
ex-governador é acusado de instituir propina de 5% sobre todos os contratos
celebrados com o Estado e ter-se apropriado
de ao menos R$ 270 milhões.
A aliança entre Cabral e o PT do então presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, em 2007, fortalecida pela adesão,
dois anos depois, da prefeitura carioca sob Eduardo Paes (PMDB) criou um cenário político sem oposição, segundo o cientista político da PUC-Rio
Ricardo Ismael.
A partir daí,
parcerias foram firmadas, linhas de crédito facilitadas,grandes eventos,
marcados. "A aliança entre Rio e governo federal era vista com bons olhos
pela elite carioca (representada pelos empresários Fernando Cavendish e Eike
Batista, ambos alvo da Lava-Jato), e o
mundo político abraçou o projeto. Não existia, na prática, oposição. Os
mecanismos de controle foram enfraquecidos."
O professor de
Direito da PUC-Rio Manoel Messias Peixinho concorda. "A impressão é de que
o poder de Cabral era ilimitado. Ele era o rei. E todos queriam ser amigos do rei. A vida política e social
parecia girar em torno dele".
Outro aspecto
deveras interessante era a aliança entre o PMDB de Sérgio Cabral e o PT de Lula
da Silva. Em diversas comissões de inquérito, por ordem - que se supõe do
Planalto - diversas gestões não prosperavam se se voltassem para uma eventual
fiscalização do Governo Sérgio Cabral. E a palavra corrente em Brasília era que
havia uma aliança não-declarada, mas efetiva de qualquer forma, entre o PT do
Presidente Lula, e o PMDB de Sérgio Cabral, o que levava à blindagem de
qualquer iniciativa tendente a investigar ou a fiscalizar de algum modo a
atuação do Governador do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.
A queda
ulterior de Sérgio Cabral se originaria do fenômeno da húbris. Tantas fizera e aprontara, sem que nada de o
que fizera, acarretasse alguma ação dos órgãos coatores da Administração
Pública que o Governador Cabral terá pensado que estaria acima de tais
vicissitudes.
Mas as evidências foram muitas e a soberba
de Cabral, que se julgava acima das vicissitudes da Administração Pública
Estadual, acabou por condená-lo. A
corrupção atacou por toda a parte, inclusive na previdência do Estado.
Por outro
lado, a falta de fundos afeta uma suposta vitrine da gestão Cabral e agora
Pezão. Assim, as UPAs (unidades de pronto atendimento) vivem momento sério: a
crise provocou atrasos nos pagamentos às Organizações Sociais (OSs) e isto se traduziu em menos médicos e
menos remédios para a população.
De acordo
com o relato de pacientes, as farmácias estão esvaziadas e não há reposição de
insumos. Médicos e enfermeiros estão sobrecarregados. Se não forem retomados os repasses regulares
"Não há luz no fim do túnel", conforme frisa o presidente da Cremerj,
Nelson Nahon.
A
Secretaria de Saúde declara que atua com 40% do orçamento previsto para 2007 e mantém abertas 30 UPAs. A pasta
responsável negou que faltem medicamentos.
(
Fonte: O Estado de S. Paulo )
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