Sob a pressão da Copa
do Mundo, em que a mediana equipe russa, como anfitriã, goza dos favores, mas
também das pressões da torcida, o presidente Vladimir V. Putin terá decerto
preferido abrir os jogos sob uma perspectiva mais favorável, com o principal
líder da oposição fóra do cárcere.
Não são poucos
os que não ignoram o quanto o Kremlin
tem controle da vida parlamentar. Putin tem igualmente presente, que não lhe
aproveitaria manter na prisão - máxime, ao ensejo da Copa - uma figura
carismática e com apoio em largos extratos da população como Alexei Navalni.
A própria frase
de Navalni, divulgada em rede social, lhe mostra o realismo:
"aparentemente veio uma ordem para não me prender antes da posse".
Ser líder da
oposição na Federação Russa de gospodin
Putin, mostra principalmente dois aspectos: a coragem física e política de
Navalni, ao lançar-se contra o Senhor do Kremlin,
assim como a própria habilidade em costurar uma aliança política, e manter-se à
tona em um combate no qual o poder não lhe
dá trégua política e também física.
Tampouco o Judiciário russo pode dar
ilusões a quem tenha renome e coragem bastante para disputar o poder contra o
presidente de todas as Rússias.
Não é pequeno o
número de líderes oposicionistas que ficaram pelo caminho. Igualmente, Vladimir
Vladimirovich não restringe a própria ação a líderes oposicionistas. Há uma
longa linha de casos infelizmente não resolvidos, que terminaram muito mal para
quem, no passado, terá aparecido como se fora uma ameaça a ser levada a sério.
A morte - ou a saída de cena, se se
prefere uma imagem mais consentânea com os costumes do Ocidente - é para o
chefe político muita vez um percalço, infelizmente nesses determinados casos.
Não há limites para a sua atuação, salvo a desimportância do personagem. Já houve jornalista e não das menores que
mereceu tal honra.
Vladimir Putin,
que o círculo de oligarcas de Boris
Ieltsin pensara pudesse manejar, não demorou muito em livrar-se deles de
forma política. De baixa estatura, mas de férrea disposição tem em Dmitriy
Medvedev um segundo de confiança, a quem de resto confiaria a
presidência por um período, em que Putin estava muito desgastado politicamente,
sobretudo no plano externo.
Não é de resto à toa que o agente
secreto Putin, do KGB - que em
Dresden passou um mau momento, dada a crise e o desfazimento da URSS, no final
do mando de Mikhail Gorbachev - indicaria o fiel escudeiro Medvedev para
assumir a presidência, a fim de
dar-lhe a cobertura necessária para recolher-se como Primeiro Ministro, até passar a borrasca de suas primeiras ações,
algo intempestivas.
Não
se poderia apresentar o camarada Stalin, que ainda supera a Putin em tempo na
direção máxima do Estado, como um molde de que o atual presidente seja uma
cópia. Não é decerto desconhecido quão nervosos os seus subordinados
compareciam às audiências marcadas pelo chefe supremo. Dadas as características do antigo
seminarista na Geórgia, não sabiam os altos funcionários quem os esperava: se o
chefe durão e sádico, ou se aquele que se comprazia em liquidar aqueles de quem
por paranoia desconfiava.
Putin é decerto diferente.
Os seus métodos têm de adequar-se aos novos tempos, nem as audiências
representam uma travessia de vida ou morte. Os tempos decerto mudaram. Mas devagar com o andor. Não é aconselhável
te-lo como inimigo, nem que ele possa considerar alguém não como adversário,
mas sim como uma pedra no seu
caminho.
(
Fontes: Putin's Kleptocracy, de Karen
Dawisha; Folha de S. Paulo; Carlos Drummond de Andrade)
Nenhum comentário:
Postar um comentário