sábado, 26 de maio de 2018

Greve dos caminhoneiros e o Lockout


                 

           Não se negocia com o caos. Assim, quando se anunciou na noite de 24 de maio um acordo com lideranças dos caminhoneiros, em greve desde a segunda 21, o governo Temer imaginou ter conseguido  desmobilizar o movimento.
           Nesse cenário, sexta-feira seria um dia de estradas sendo desbloqueadas e o abastecimento começando a regularizar-se. 
           Mas não foi o que aconteceu. De manhã (25), o número de pontos de bloqueio ainda cresceu. Com muitos líderes, e diversas orientações, o que se ouviu dos caminhoneiros parados nas estradas era que o acordo fechado com o governo não servia.
           O quadro do caos que encetou a formar-se no início da semana, se agrava. Em todo o país, postos de gasolina fecham, por falta de combustível. Sem conseguir rodar, ônibus ficam nas garagens. Como as cargas não são entregues, as fábricas fecham, por falta de insumos que não lhe são transportados.
           O arco do movimento se estende e se agrava. Os bens não sendo transportados, as fábricas sem insumos fecham. Medicamentos e alimentos principiam a faltar em farmácias, drogarias e supermercados. No fim da esteira, hospitais chegam a cancelar cirurgias.
          Até um certo momento, a visão do Governo é limitada, pois por falha dos serviços de informação, grandes empresas, contando faturar com o desastre, iniciam um lock-out (fechamento para fora),o que é ilegal.
           Ia-se colocando um magno desafio para o Governo Temer e as instituições da República, que se tornou muito maior do que o previsto a princípio. Grandes negócios entram na rota ariscada do lock-out  (fechamento de empresas pelos próprios empresários). Vários prenúncios vão aparecendo, mas somente mais tarde se confirma a aliança espúria entre grandes empresários e empresas de transporte.
            O quadro do caos - que aproveita ao movimento dos caminhoneiros -  se vai agravando. Assim, seja por pontuais paradas dos trabalhadores,  seja por determinações empresariais,  o caos no abastecimento cresce e por entranhar-se, se fortalece.
             Talvez em função do erro inicial - subestimar a amplitude do paro dos caminhoneiros e de entidades correlatas, além do próprio lock-out  das empresas que, como já foi dito é ilegal - o Governo Temer tarda em apelar às forças de segurança (inclusive Forças Armadas e polícias) para procederem ao imediato desbloqueamento das rodovias federais (e estaduais).
              O governo federal pediu igualmente a ajuda dos governadores. Com efeito,  o nó no transporte, ainda mais realizado por profissionais, cresceu demasiado, e terá contribuído para incrementar a gravidade na crise no abastecimento, o emprego inicial de medidas sem a ênfase e a força requeridas pela enorme extensão da rede rodoviária nacional.
                 Acuado, o Governo resolveu apelar sem mais hesitações às Forças de Segurança (Forças Armadas e Polícias federal e estaduais) para desbloquearem o criminoso enredamento das estradas e rodovias (tanto federais, quanto estaduais).
                 Por demasiado tempo, as instâncias federais subestimaram o poder dos caminhoneiros, e, sobretudo, a potencialidade de sua aliança com as grandes empresas, no recurso ao lock-out, que é inadmissível, sendo proibido pela legislação do país.
              Assim, a reação do Governo Temer se assinala a princípio pelas indecisões e as postergações, na esperança  de que o "bom senso" prevalecesse.  
                 Falhou, assim, no começo e nas primeiras reações, por subestimar, não só o adversário, senão a gravidade de o que estava em jogo. Por isso, demoraram bastante para desbloquear, com as forças federais e estaduais, as enormes traffic-jams, em verdade barreiras criminosas desenhadas por profissionais na matéria, para incrementar o agravamento do problema e os consequentes prejuízos na economia. Se está assim, no quanto pior, melhor. Essa tardança contribuí e como, para que a retenção se prolongue muito além do previsto, com as consequentes interrupções no abastecimento de víveres, remédios, e sobretudo de gasolina e querosene, que são os verdadeiros motores da economia moderna, máxime no Brasil.
                 Temos o feitio de aplicar medidas duras para resolver problemas tópicos, mas não de preparar planos de contingência para lidar contra o ilegal  lock-out de empresas, o que assim tornam inevitáveis os gigantescos engarrafamentos gigantes nas rodovias federais e estaduais.
                 É de verificar-se se as lições desta magna crise no abastecimento serão digeridas e articuladas em respostas pontuais no porvir - eis que as piores crises são aquelas ignotas, em termos de extensão de efeitos negativos no abastecimento das grande cidades.
                 Seria uma boa lição que as autoridades passassem a diversificar os meios de combater esses 'entupimentos' artificiais na economia. Entender um problema é já começar a resolvê-lo, porque como me dizia o meu chefe e bom amigo Miguel Ozorio de Almeida, só se vai a knock-out por um soco que não se sabe de onde saíu...

(Fontes: Estado de S. Paulo, O Globo, Folha de São Paulo, Embaixador Miguel Ozório)

Nenhum comentário: