Não se negocia com o caos. Assim,
quando se anunciou na noite de 24 de maio um acordo com lideranças dos
caminhoneiros, em greve desde a segunda 21, o governo Temer imaginou ter
conseguido desmobilizar o movimento.
Nesse cenário, sexta-feira seria um
dia de estradas sendo desbloqueadas e o abastecimento começando a
regularizar-se.
Mas não foi o que aconteceu. De
manhã (25), o número de pontos de bloqueio ainda cresceu. Com muitos líderes, e
diversas orientações, o que se ouviu dos caminhoneiros parados nas estradas era
que o acordo fechado com o governo não servia.
O quadro do caos que encetou a
formar-se no início da semana, se agrava. Em todo o país, postos de gasolina
fecham, por falta de combustível. Sem conseguir rodar, ônibus ficam nas
garagens. Como as cargas não são entregues, as fábricas fecham, por falta de insumos
que não lhe são transportados.
O arco do movimento se estende e se
agrava. Os bens não sendo transportados, as fábricas sem insumos fecham.
Medicamentos e alimentos principiam a faltar em farmácias, drogarias e
supermercados. No fim da esteira, hospitais chegam a cancelar cirurgias.
Até um certo momento, a visão do
Governo é limitada, pois por falha dos serviços de informação, grandes
empresas, contando faturar com o desastre, iniciam um lock-out (fechamento para fora),o que é ilegal.
Ia-se colocando um magno desafio para o
Governo Temer e as instituições da República, que se tornou muito maior do que
o previsto a princípio. Grandes negócios entram na rota ariscada do lock-out (fechamento de empresas
pelos próprios empresários). Vários prenúncios vão aparecendo, mas somente
mais tarde se confirma a aliança espúria entre grandes empresários e empresas
de transporte.
O quadro do caos - que aproveita ao movimento dos caminhoneiros - se vai
agravando. Assim, seja por pontuais paradas dos trabalhadores, seja por determinações
empresariais, o caos no abastecimento
cresce e por entranhar-se, se fortalece.
Talvez em função do erro
inicial - subestimar a amplitude do paro dos caminhoneiros e de entidades
correlatas, além do próprio lock-out das empresas que, como já foi dito é ilegal - o Governo Temer tarda em apelar às forças de
segurança (inclusive Forças Armadas e polícias) para procederem ao imediato desbloqueamento das rodovias federais (e estaduais).
O governo federal pediu
igualmente a ajuda dos governadores. Com efeito, o nó no transporte, ainda mais realizado por
profissionais, cresceu demasiado, e terá contribuído para incrementar a
gravidade na crise no abastecimento, o emprego inicial de medidas sem a ênfase e
a força requeridas pela enorme extensão da rede rodoviária nacional.
Acuado, o Governo resolveu
apelar sem mais hesitações às Forças de Segurança (Forças Armadas e Polícias
federal e estaduais) para desbloquearem o criminoso enredamento das estradas e
rodovias (tanto federais, quanto estaduais).
Por demasiado tempo, as
instâncias federais subestimaram o poder dos caminhoneiros, e, sobretudo, a
potencialidade de sua aliança com as grandes empresas, no recurso ao lock-out,
que é inadmissível, sendo proibido pela legislação do país.
Assim, a reação do Governo
Temer se assinala a princípio pelas indecisões e as postergações, na
esperança de que o "bom senso"
prevalecesse.
Falhou, assim, no começo e nas
primeiras reações, por subestimar, não só o adversário, senão a gravidade de o
que estava em jogo. Por isso, demoraram bastante para desbloquear, com as
forças federais e estaduais, as enormes traffic-jams,
em verdade barreiras criminosas desenhadas por profissionais na matéria, para
incrementar o agravamento do problema e os consequentes prejuízos na economia. Se está assim, no quanto pior, melhor. Essa tardança contribuí e como, para que a
retenção se prolongue muito além do previsto, com as consequentes
interrupções no abastecimento de víveres, remédios, e sobretudo de gasolina e
querosene, que são os verdadeiros motores da economia moderna, máxime no Brasil.
Temos o feitio de aplicar
medidas duras para resolver problemas tópicos, mas não de preparar planos de
contingência para lidar contra o ilegal
lock-out de empresas, o que assim tornam inevitáveis os gigantescos engarrafamentos
gigantes nas rodovias federais e estaduais.
É de verificar-se se as lições
desta magna crise no abastecimento serão digeridas e articuladas em respostas
pontuais no porvir - eis que as piores crises são aquelas ignotas, em termos de
extensão de efeitos negativos no abastecimento das grande cidades.
Seria uma boa lição que as
autoridades passassem a diversificar os meios de combater esses 'entupimentos'
artificiais na economia. Entender um problema é já começar a resolvê-lo, porque
como me dizia o meu chefe e bom amigo Miguel Ozorio de Almeida, só se vai a knock-out por um soco que não se sabe de
onde saíu...
(Fontes: Estado de S.
Paulo, O Globo, Folha de São Paulo, Embaixador Miguel Ozório)
Nenhum comentário:
Postar um comentário