Se
Donald John Trump fosse presidente
da Ruritânia, as suas atitudes e medidas estranhas e mesmo bizarras não
representariam maior problema para as
grandes nações da Europa Ocidental, da Ásia, Oceânia e América Latina.
Há impressão,
quase um consenso, no mundo atual quanto à pobreza intelectual do presente
Presidente americano, ou à sua opção de priorizar, não as sutilezas e os argumentos
mais sofisticados nas relações e nos valores a serem defendidos, mas em plano de ação que se basearia na alegada
fraqueza intelectual do atual presidente estadunidense - e isto seria suposta verdade de Monsieur de
La Palice.[1]
Com
efeito, não é dizer muito que Mr Trump não é um intelectual. No entanto, ainda
que com um substrato bastante rudimentar, em que a intelectualidade e sua sofisticação
não surgem como elementos proeminentes, há muito no caráter de Donald John
daquela argúcia camponesa que os
eventuais adversários tendem a menosprezar, malgrado os riscos e perigos que
incorrem.
Ele está
longe de ser um intelectual, mas os seus adversários na política (e fora dela)
não deveriam desconhecer aquele instinto animal de sobrevivência e também de
fazer-se passar por um papalvo, coisa que igualmente não é.
Daí
o aparente sucesso de Mr Trump na atividade da construção civil, hotelaria e em outros ramos conexos.
O
egoismo e o egolatria são os seus princípios cardiais. Ele não trepida em
aliar-se com quem quer que seja, sob a condição de que tal consórcio possa
beneficiá-lo. Isso explica a sua aliança
com gospodin Putin, em que faz a parte do parceiro menor, embora não haja para
ele nenhuma proibição ética de que tal possa ser contra o interesse do seu
respectivo país.
Na
construção das alianças - abertas ou secretas - para lograr a respectiva
eleição, só lhe faltou aliar-se com o demônio, tal a naturalidade que dispensou
a uma aliança com a Rússia a qualquer preço (como os contatos com advogada russa
para obter eventuais informações privilegiadas que prejudicassem à sua
adversária, Hillary Clinton). Como
contatos seus o demonstram na campanha, ele não faz restrições éticas para
obter o apoio de um inimigo de sua concorrente,
no que se basearia talvez na regra de que o adversário da minha inimiga
(no caso, Hillary), passa a ser o seu
amigo. Para ele não há valores éticos que barrem os seus próprios interesses.
Daí
a naturalidade com que ele se comportou com um adversário do próprio país, e
que tinha o interesse prevalente de derrotar a sua concorrente Hillary, na
medida em que esta era considerada inimiga por Vladimir Putin.
Assim, tanto
para Trump, quanto para Putin não há valores éticos predominantes. Para que
esses prevaleçam, primo se tem que
considerar os aspectos concretos da disputa.
Trump, o anti-estrategista.
Enganam-se redondamente aqueles que acreditem que o atual presidente
americano tenha valores pelos quais norteie a sua ação política. Em verdade, Donald
John Trump tem o interesse primordial, supremo mesmo, de prevalecer. Tudo o que lhe aproveita deve ser utilizado,
na ocasião oportuna ou mesmo como se fosse algo permanente. Dada a sua personalidade, assim como age com
as pessoas e as mulheres com quem se relaciona,
ele utiliza o carisma que eventualmente tenha para obter ganhos
determinados e específicos. De resto, como tem demonstrado sobejamente, ele se
serve das pessoas que estão no seu círculo, movido pelos objetivos de aumentar
o respectivos poder, e para tanto, como o próprio comportamento com o seu
advogado pessoal, Mr Michael Cohen, o demonstra, as restrições éticas só tendem a ser batidas se os
riscos envolvidos forem desproporcionalmente maiores.
A velha frase de Aristóteles - e um dos meus maiores amigos, Pedro Neves da Rocha, escreveu um
livro para provar que o conceito do animal
político pode ser um contrassenso - se se der preponderância ao aspecto
político (com todas as suas conotações sociais), Trump seria uma exceção,
porque a sua animalidade teria um limite extremo, que estaria no interesse dele próprio...
Tomemos o governo de Trump, que desde o princípio, por querer atender ao
preconceito contra certos tipos estrangeiros - árabes, entre outros - que ele
partilha com o seu eleitorado formado por gente rústica, xenófoba (em especial
contra gente muçulmana e de cor) - lançou uma rajada de disposições por
decreto, com uma interpretação inconstitucional do direito estadunidense. Nessa sua ouverture,
seria derrotado e humilhado por suas ordens retrógradas e anti-americanas.
O princípio básico de sua
política externa é o da insegurança jurídica, e tal se deve às contradições com
que a sua mente convive. Alguém que apesar de ser de baixo nível cultural
afirma defender as suas posições em termos de clima e de ecologia, demonstra
claramente agir segundo os próprios interesses egoísticos, inconfessáveis e
oportunistas, ao investir contra o Acordo do Clima, de Paris, colocar na agência de Meio Ambiente americano alguém
contrário à teoria ecológica, o que hoje só pode refletir três coisas: burrice,
estupidez ou interesses inconfessáveis.
Depois de humilhar a
Europa com a investida contra o Acordo de Paris sobre o Clima, ele agora passa
ao desmantelamento do acordo ocidental com o Irã.
Não faltam adjetivos
ou substantivos para qualificar tais atitudes, que tanto politicamente, quanto
cientificamente são de um valor abaixo de zero.
O único erro que
não se deve cometer é pensar que exista
algo de sincero ou genuíno nesta postura.
Trump é o que um
dos nossos maiores poetas brasileiros - Carlos Drummond de Andrade - definiria
como uma pedra no meio do caminho.
Ninguém sabe como
ela foi parar lá, mas aqueles que têm cabeça para pensar devem penetrar-lhe os
desígnios, que decerto não são bons, nem hão de aproveitar à grande pátria
americana.
Se o obstáculo é
descomunal ou não, isso depende muito da velha ,,teoria do grande
historiador e filósofo da história,
Arnold Toynbee, que escreveu o monumental "A Study of History".
Os desafios
estão na essência da progressão (ou regressão) das civilizações e dos
principais países que não só as integram, mas também lhes dão consistência e
avanço (ou regresso).
Mr Trump parece ser surdo aos apelos da
razão e da retórica. Os países europeus
- e outros - deveriam dar-se conta de que esta não é a boa resposta ao desafio
do presidente estadunidense, se se ativerem aos termos e ao contexto em que o
atual presidente americano pensa agir sem qualquer perigo ou ameaça.
Se não
pensarem em alternativa que a Europa e o Japão possam colocar, estarão
condenados a serem pouco mais de símios na Corte de Mr Trump.
Pelo visto, a Europa não se
conscientizou que Mr Trump ignora apelos à razão ou mesmo à Aliança ocidental.
Com o atual dono da casa em Washington esse paradigma cessou de valer. Kaputt! Que tal a independência de uma
resposta centrada nos respectivos interesses nacionais e regionais, e não em
vãs tentativas de agradar ao Senhor da Casa Branca? Não vêem que papel ridículo ora desempenham,
enquanto dos balcões do Kremlin o presidente Vladimir Putin escarnece, com
seu sorriso amarelo?
( Fontes:Aristóteles, Pedro Neves da Rocha, Carlos Drummond de Andrade, Arnold Toynbee,
Nouveau Larousse Encyclopédique, The New York Times )
[1]
Uma verdade de Monsieur de la Palice, i.e., uma afirmação tola, óbvia (Nouveau Larousse Encyclopédique, vol. II.)
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