sábado, 12 de maio de 2018

O Problema Trump


                              

        Se Donald John Trump fosse presidente da Ruritânia, as suas atitudes e medidas estranhas e mesmo bizarras não representariam maior problema  para as grandes nações da Europa Ocidental, da Ásia, Oceânia e América Latina.
         Há impressão, quase um consenso, no mundo atual quanto à pobreza intelectual do presente Presidente americano, ou à sua opção de priorizar, não as sutilezas e os argumentos mais sofisticados nas relações e nos valores a serem defendidos, mas  em plano de ação que se basearia na alegada fraqueza intelectual do atual presidente estadunidense  - e isto seria suposta verdade de Monsieur de La Palice.[1]
          Com efeito, não é dizer muito que Mr Trump não é um intelectual. No entanto, ainda que com um substrato bastante rudimentar, em que a intelectualidade e sua sofisticação não surgem como elementos proeminentes, há muito no caráter de Donald John daquela argúcia camponesa  que os eventuais adversários tendem a menosprezar, malgrado os riscos e perigos que incorrem.
          Ele está longe de ser um intelectual, mas os seus adversários na política (e fora dela) não deveriam desconhecer aquele instinto animal de sobrevivência e também de fazer-se passar por um papalvo, coisa que igualmente não é.
          Daí o aparente sucesso de Mr Trump na atividade  da construção civil, hotelaria  e em outros ramos conexos.
           O egoismo e o egolatria são os seus princípios cardiais. Ele não trepida em aliar-se com quem quer que seja, sob a condição de que tal consórcio possa beneficiá-lo.  Isso explica a sua aliança com gospodin Putin, em que faz a parte do parceiro menor, embora não haja para ele nenhuma proibição ética de que tal possa ser contra o interesse do seu respectivo país.
            Na construção das alianças - abertas ou secretas - para lograr a respectiva eleição, só lhe faltou aliar-se com o demônio, tal a naturalidade que dispensou a uma aliança com a Rússia a qualquer preço (como os contatos com advogada russa para obter eventuais informações privilegiadas que prejudicassem à sua adversária, Hillary Clinton).  Como contatos seus o demonstram na campanha, ele não faz restrições éticas para obter o apoio de um inimigo de sua concorrente,  no que se basearia talvez na regra de que o adversário da minha inimiga (no caso, Hillary), passa a ser o seu amigo. Para ele não há valores éticos que barrem os seus próprios interesses.
               Daí a naturalidade com que ele se comportou com um adversário do próprio país, e que tinha o interesse prevalente de derrotar a sua concorrente Hillary, na medida em que esta era considerada inimiga por Vladimir Putin.
              Assim, tanto para Trump, quanto para Putin não há valores éticos predominantes. Para que esses prevaleçam, primo se tem que considerar os aspectos concretos da disputa.
                Trump, o anti-estrategista.  Enganam-se redondamente aqueles que acreditem que o atual presidente americano tenha valores pelos quais norteie a sua ação política. Em verdade, Donald John Trump tem o interesse primordial, supremo mesmo, de prevalecer.  Tudo o que lhe aproveita deve ser utilizado, na ocasião oportuna ou mesmo como se fosse algo permanente.  Dada a sua personalidade, assim como age com as pessoas e as mulheres com quem se relaciona,  ele utiliza o carisma que eventualmente tenha para obter ganhos determinados e específicos. De resto, como tem demonstrado sobejamente, ele se serve das pessoas que estão no seu círculo, movido pelos objetivos de aumentar o respectivos poder, e para tanto, como o próprio comportamento com o seu advogado pessoal, Mr Michael Cohen, o demonstra, as restrições éticas só tendem a ser batidas se os riscos envolvidos forem desproporcionalmente maiores.
                    A velha frase de Aristóteles - e um dos meus maiores amigos, Pedro Neves da Rocha, escreveu um livro para provar que o conceito do animal político pode ser um contrassenso - se se der preponderância ao aspecto político (com todas as suas conotações sociais), Trump seria uma exceção, porque a sua animalidade teria um limite extremo,  que estaria no interesse dele próprio...
                     Tomemos o governo de Trump, que desde o princípio, por querer atender ao preconceito contra certos tipos estrangeiros - árabes, entre outros - que ele partilha com o seu eleitorado formado por gente rústica, xenófoba (em especial contra gente muçulmana e de cor) - lançou uma rajada de disposições por decreto, com uma interpretação inconstitucional do direito estadunidense.  Nessa sua ouverture, seria derrotado e humilhado por suas ordens retrógradas e anti-americanas.
                      O princípio básico de sua política externa é o da insegurança jurídica, e tal se deve às contradições com que a sua mente convive. Alguém que apesar de ser de baixo nível cultural afirma defender as suas posições em termos de clima e de ecologia, demonstra claramente agir segundo os próprios interesses egoísticos, inconfessáveis e oportunistas, ao investir contra o Acordo do Clima, de Paris, colocar  na agência de Meio Ambiente americano alguém contrário à teoria ecológica, o que hoje só pode refletir três coisas: burrice, estupidez ou interesses inconfessáveis.
                         Depois de humilhar a Europa com a investida contra o Acordo de Paris sobre o Clima, ele agora passa ao desmantelamento do acordo ocidental com o Irã.
                          Não faltam adjetivos ou substantivos para qualificar tais atitudes, que tanto politicamente, quanto cientificamente são de um valor abaixo de zero.
                             O único erro que não se deve cometer  é pensar que exista algo de sincero ou genuíno nesta postura. 
                             Trump é o que um dos nossos maiores poetas brasileiros - Carlos Drummond de Andrade - definiria como uma pedra no meio do caminho.
                              Ninguém sabe como ela foi parar lá, mas aqueles que têm cabeça para pensar devem penetrar-lhe os desígnios, que decerto não são bons, nem hão de aproveitar à grande pátria americana.
                               Se o obstáculo é descomunal ou não, isso depende muito da velha ,,teoria do grande historiador  e filósofo da história, Arnold Toynbee, que escreveu o monumental "A Study of History".
                                Os desafios estão na essência da progressão (ou regressão) das civilizações e dos principais países que não só as integram, mas também lhes dão consistência e avanço (ou regresso).
                                  Mr Trump parece ser surdo aos apelos da razão e da retórica.  Os países europeus - e outros - deveriam dar-se conta de que esta não é a boa resposta ao desafio do presidente estadunidense, se se ativerem aos termos e ao contexto em que o atual presidente americano pensa agir sem qualquer perigo ou ameaça.
                                    Se não pensarem em alternativa que a Europa e o Japão possam colocar, estarão condenados a serem pouco mais de símios na Corte de Mr Trump.
                                     Pelo visto, a Europa não se conscientizou que Mr Trump ignora apelos à razão ou mesmo à Aliança ocidental. Com o atual dono da casa em Washington esse paradigma cessou de valer.  Kaputt! Que tal a independência de uma resposta centrada nos respectivos interesses nacionais e regionais, e não em vãs tentativas de agradar ao Senhor da Casa Branca?  Não vêem que papel ridículo ora desempenham, enquanto dos balcões do Kremlin  o presidente Vladimir Putin escarnece, com seu sorriso amarelo?

( Fontes:Aristóteles, Pedro Neves da Rocha, Carlos Drummond de Andrade, Arnold Toynbee, Nouveau Larousse Encyclopédique, The New York Times )                              


[1] Uma verdade de Monsieur de la Palice, i.e., uma afirmação tola, óbvia  (Nouveau Larousse Encyclopédique, vol. II.)

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