A vitória de Emmanuel Macron lhe deu
confortável maioria no Parlamento, mas a sua implementação à risca das reformas
que prometeu, ao ensejo da eleição, pode exacerbar a oposição a querer mudar na
marra o que não é possível em termos parlamentares.
Ora, a história francesa está aí para
sinalizar prudência a Macron. Se alargar-se o fosso entre os que se opõem e
aqueles que estão de acordo com as reformas por ele preconizadas, quem mantiver
a iniciativa terá maiores probabilidades de vencer o embate.
O retrato que circula do novo
Presidente, apresentado em quadro de busto, como se fora um Bourbon, do século
XVIII, deve relembrar ao Chefe de Estado que o domínio formal de Câmara e
Senado será... formal mesmo, no sentido em que diante das chamadas conquistas
sindicais ameaçadas haveria grande possibilidade de formação de situação contestatária.
Ora, Monsieur le Président, a França, em várias épocas, tem dado sobejas
indicações de que tal estado de coisas continua possível, se crescer a
consciência nas classes ameaçadas de que não têm outra escolha senão recorrer
às famosas mobilizações gerais, em que l'Hexagone
se paralisa, e se coloca a situação de domínio de fato.
Se surgir um apoio popular suficientemente
grande para criar condições ao surgimento da paralisação das instituições, a situação tenderá a agravar-se ainda mais,
com a transmissão em termos de contágio viral de postura de contestação do
poder do jovem Presidente. Não se deve, em tais circunstâncias, atentar
demasiado para a lógica.
Se se confirmar que há um
enfrentamento entre a Nação levantada, e de outra parte, as instituições que
respaldam o Presidente Macron, não está
escrito que esses órgãos refletirão as votações anteriores, assim como terão
presente o respeito à ordem que é decorrência da última eleição, em que por uma
série de circunstâncias, entre as quais o fator surpresa, houve um ras de marée, que condicionou a vitória
do campo presidencial.
Ora, como em sublevações passadas - e
a França é um dos países em que o fenômeno revolucionário tende a revestir mais
força, e a levar de roldão os agrupamentos que a tal estado de coisas se opõem
- se a reação à reforma proposta por Macron tender a uma virtual conversão das
forças contrárias em uma resistência galvanizada que impressionará o grupamento
dos neutros, a progressão para a revolução passará de aritmética a geométrica.
Em tais momentos, a revolução tende
a tomar o lugar da ordem.
Se Macron lograr convencer o campo adversário
de que está disposto, dentro da Lei e da Constituição, a dialogar com as
lideranças envolvidas, enquanto mantém o
controle da situação, pode haver uma saída.
(
Fonte: O Estado de S. Paulo )
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