segunda-feira, 14 de maio de 2018

A provocação da embaixada em Jerusalém


   
           Através de canetadas, o presidente Donald Trump procura impor a sua visão da realidade internacional. O caso do Irã e do Acordo firmado por iniciativa de Barack Obama não é o único. Em tempos modernos, aparece como rara e objeto de críticas bastante amplas, essa inquietante disjunção entre sucessor e sucedido na realidade americana.
           Professor universitário e também amante do diálogo e de evitar o conflito quando é possível, Barack Obama está pagando um preço alto pela sua contenção diante da irrupção de Trump nos dias finais do processo eleitoral americano. Em mais de uma oportunidade, ele preferiu não interferir diante de manifestas irregularidades que prejudicavam a candidatura de Hillary. O comitê da candidatura da democrata encareceu-lhe a intervenção, que se resumiria em uma exposição televisiva junto ao público americano, mas apesar da gravidade do assunto, Obama optou por abster-se. Obama temia por acaso ter inquinada de descabida a medida,  alegadamente em favor da candidata, que integrara o seu ministério?
            Quaisquer que fossem os motivos - e o artigo do New Yorker os trata com detalhes que mostram a sua eventual pertinência - Obama optou pelo silêncio.
             Candidato populista, da  direita intrusiva e demagógica, Trump teria o apoio coordenado de Putin, na Federação Russa, e de atores que agem na esfera de opositores à Hillary Clinton, como foi a atuação dos Wiki-Leaks, de Julian Assange, com um viés extremamente negativo contra a candidata democrata, que respondia mais aos rancores  de Vladimir Putin, do que a diferendos de ordem política.
               O caráter nocivo de Trump se tem acentuado, enquanto suas promessas eleitorais estão sendo implementadas. O que se pensara fossem bravatas, ora se transformam em acintosas medidas, em que canetadas irresponsáveis tentam derribar conquistas como o acordo nuclear com o Irã.
               A comunidade internacional - com Frau Merckel  e Monsieur Macron -  é tratada de forma desrespeitosa e mesmo insultuosa.  As viagens a Washington de nada serviram, além de juntarem a humilhação à canetada agressiva e deletéria.
                A arrogância deste senhor não parece conhecer limites.  Agora nos é dada mais uma farsa-espetáculo. Sem  um átimo de atenção à política americana bipartidária de não abrir a embaixada em Jerusalém, pelas conotações políticas e religiosas envolvidas, Mr Trump julga que uma canetada bastará para pôr por terra o que absorvera o pensamento de gerações políticas bem-intencionadas.
                  Este demagogo-megalômano já tem feito muito mal à política internacional, e pesa-me convir que para asseverar tal não é necessário demasiado esforço. A sua ação muita vez se volta para a destruição e a negação, em orientação que é contrária ao progresso no ser humano e nas suas ações.  Por isso, não surpreende que tente desmontar o Acordo de Paris sobre o Clima, porque tal responde a uma postura negativa, deletéria, nefasta mesmo, ao abraçar velhas teses que só a má-fé pode levar a considerar como admissíveis.
                   Mas não percamos de vista os resultados espúrios da antipolítica de Mr Trump. Primo, ele corre em ajuda a Benjamin Netanyahu, um dos políticos israelenses que mais envergonhariam os grandes nomes do Estado de Israel, como David ben Gurion e Golda Meir, e mais tarde Shimon Peres e Iitzhak Rabin.
                    Trump, com essa ideia de instalar a embaixada estadunidense em Jerusalém, além da demagogia (que não é barata, porque é um Moloch a comer vidas) desrespeita toda a tradição estadunidense de diplomacia e de paz. No seu afã de instrumentalizar o que só tende a dividir e a tornar a paz no Meio Oriente ainda mais difícil,  Trump é o demagogo que, por sua falta de conhecimento e cultura, acredita ter um passe-livre para inviabilizar o progresso e o congraçamento nesta região tão conflagrada e tão sofrida quanto é a Palestina.
                      Vejam, senhores passageiros, desse bonde que se aventura ao Meio Oriente. Através de medida fora do tempo, desaconselhada pelos grandes vultos que a visitaram no passado, contemplem os resultados da estranha postura  de Mr Trump. Diante da ofensa, decerto medida e não por acaso, no que tange ao Povo Palestino, a quem Israel de Mr Netanyahu não só humilha, mas mata regularmente, vejam senhores espectadores esta gratuita empresa, que favorece aos planos políticos de Netanyahu, e lhe intenta devolver uma popularidade que acreditava perdida, e que o livra, pelo menos por algum tempo, das questões colocadas pela polícia israelense.
                         Já durante algum tempo a gente palestina tem sofrido em ataques à bala nas suas tentativas pacíficas de livrar-se das barreiras de arame farpado com que Israel  impede os movimentos daqueles que desejam partilhar igualmente da Terra palestina, saindo do inferno de Gaza. Israel não carece de exército para impedir os movimentos da comunidade palestina. Será com o maldito monólogo da morte que pensam impedir ao sofrido Povo da Palestina de rever as terras que seus antepassados percorriam antes da Nakba? Essa boa gente merece pisar a terra que também é sua, e é um acinte,  um desrespeito sem limite ao Direito humanitário que submeter esse pobre povo à artilharia do Exército hebreu, tudo isso sob o silêncio dos protetores de Israel, com Mr Trump à frente, como se esta brava gente não fosse também palestina, nascida no mesmo solo desses soldados bem-armados que os recebem com a munição da morte?

( Fontes: The New York Times;The New Yorker; O Estado de S. Paulo )

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