Através de canetadas, o presidente Donald Trump procura impor a sua visão
da realidade internacional. O caso do Irã e do Acordo firmado por iniciativa de
Barack Obama não é o único. Em tempos
modernos, aparece como rara e objeto de críticas bastante amplas, essa inquietante
disjunção entre sucessor e sucedido na realidade americana.
Professor universitário e também
amante do diálogo e de evitar o conflito quando é possível, Barack Obama está pagando um preço alto
pela sua contenção diante da irrupção de Trump nos dias finais do processo
eleitoral americano. Em mais de uma oportunidade, ele preferiu não interferir
diante de manifestas irregularidades que prejudicavam a candidatura de Hillary. O comitê da candidatura da
democrata encareceu-lhe a intervenção, que se resumiria em uma exposição televisiva
junto ao público americano, mas apesar da gravidade do assunto, Obama optou por
abster-se. Obama temia por acaso ter inquinada de descabida a medida, alegadamente em favor da candidata, que
integrara o seu ministério?
Quaisquer que fossem os motivos - e
o artigo do New Yorker os trata com
detalhes que mostram a sua eventual pertinência - Obama optou pelo silêncio.
Candidato populista, da direita intrusiva e demagógica, Trump
teria o apoio coordenado de Putin, na
Federação Russa, e de atores que agem na esfera de opositores à Hillary Clinton, como foi a atuação dos
Wiki-Leaks, de Julian Assange, com um viés extremamente negativo contra a
candidata democrata, que respondia mais aos rancores de Vladimir Putin, do que a diferendos
de ordem política.
O caráter nocivo de Trump se tem
acentuado, enquanto suas promessas eleitorais
estão sendo implementadas. O que se
pensara fossem bravatas, ora se transformam em acintosas medidas, em que
canetadas irresponsáveis tentam derribar
conquistas como o acordo nuclear com o Irã.
A comunidade internacional - com
Frau Merckel e Monsieur
Macron - é tratada de forma
desrespeitosa e mesmo insultuosa. As
viagens a Washington de nada serviram, além de juntarem a humilhação à canetada
agressiva e deletéria.
A arrogância deste senhor não
parece conhecer limites. Agora nos é dada
mais uma farsa-espetáculo. Sem um átimo
de atenção à política americana bipartidária de não abrir a embaixada em
Jerusalém, pelas conotações políticas e religiosas envolvidas, Mr Trump julga
que uma canetada bastará para pôr por terra o que absorvera o pensamento de
gerações políticas bem-intencionadas.
Este demagogo-megalômano já tem
feito muito mal à política internacional, e pesa-me convir que para asseverar
tal não é necessário demasiado esforço. A sua ação muita vez se volta para a
destruição e a negação, em orientação que é contrária ao progresso no ser humano
e nas suas ações. Por isso, não
surpreende que tente desmontar o Acordo
de Paris sobre o Clima, porque
tal responde a uma postura negativa, deletéria, nefasta mesmo, ao abraçar
velhas teses que só a má-fé pode levar a considerar como admissíveis.
Mas não percamos de vista os resultados
espúrios da antipolítica de Mr Trump. Primo,
ele corre em ajuda a Benjamin Netanyahu,
um dos políticos israelenses que mais envergonhariam os grandes nomes do Estado
de Israel, como David ben Gurion e Golda Meir, e mais tarde Shimon
Peres e Iitzhak Rabin.
Trump, com essa ideia de
instalar a embaixada estadunidense em Jerusalém, além da demagogia (que não é
barata, porque é um Moloch a comer
vidas) desrespeita toda a tradição estadunidense de diplomacia e de paz. No seu
afã de instrumentalizar o que só tende a dividir e a tornar a paz no Meio
Oriente ainda mais difícil, Trump é o
demagogo que, por sua falta de conhecimento e cultura, acredita ter um
passe-livre para inviabilizar o progresso e o congraçamento nesta região tão
conflagrada e tão sofrida quanto é a Palestina.
Vejam, senhores
passageiros, desse bonde que se aventura ao Meio Oriente. Através de medida
fora do tempo, desaconselhada pelos grandes vultos que a visitaram no passado,
contemplem os resultados da estranha postura de Mr Trump. Diante da ofensa, decerto medida
e não por acaso, no que tange ao Povo Palestino, a quem Israel de Mr Netanyahu
não só humilha, mas mata regularmente, vejam senhores espectadores esta
gratuita empresa, que favorece aos planos políticos de Netanyahu, e lhe intenta
devolver uma popularidade que acreditava perdida, e que o livra, pelo menos por
algum tempo, das questões colocadas pela polícia israelense.
Já durante algum tempo
a gente palestina tem sofrido em ataques à bala nas suas tentativas pacíficas
de livrar-se das barreiras de arame farpado com que Israel impede os movimentos daqueles que desejam
partilhar igualmente da Terra palestina, saindo do inferno de Gaza. Israel não
carece de exército para impedir os movimentos da comunidade palestina. Será com
o maldito monólogo da morte que pensam impedir ao sofrido Povo da Palestina de
rever as terras que seus antepassados percorriam antes da Nakba? Essa boa gente merece pisar a terra que também é sua, e é um
acinte, um desrespeito sem limite ao Direito
humanitário que submeter esse pobre povo à artilharia do Exército hebreu, tudo
isso sob o silêncio dos protetores de Israel, com Mr Trump à frente, como se esta
brava gente não fosse também palestina, nascida no mesmo solo desses soldados
bem-armados que os recebem com a munição da morte?
( Fontes: The New York Times;The New Yorker; O Estado
de S. Paulo )
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