Tenho para mim que a
decadência do Clube de Regatas Vasco da Gama
acentuou-se nos anos finais do século XX. Ao contrário de outros times
cariocas - e o primeiro que me vem à lembrança é o tradicional rival do time da
Colina - o CRVG sofreu por um longo período sob a direção de Eurico Miranda, um
senhor que se diz vascaíno, mas cujas atitudes são de molde a que sejamos
forçados a duvidar da pujança desse sentimento.
Atualmente, depois da chamada questão
da urna eleitoral, a direção pode estar em outras mãos, porém tenho minhas
sinceras dúvidas quanto a uma real mudança de atitude quanto à orientação da
atual presidência do clube.
Provocou revolta na torcida, não só a
rapidez, mas a falta de qualquer transparência no episódio - que vem constituindo uma triste,
melancólica tradição no Vasco da Gama - em que o novel presidente do clube,
Alexandre Campello, de uma forma para lá de estranha, incompreensível mesmo, se
desvencilhou do seu melhor valor, ao cabo de venda que chocou a torcida, tanto
pela respectiva celeridade, quanto pela falta de qualquer debate ou análise
dentro do clube sobre esta compulsão da direção de um clube de livrar-se tão
logo quanto possível do seu melhor (e mais promissor ) valor, como se o Vasco
tenha de conformar-se com a circunstância de ser um time no limite, sempre
ameaçado - e faz tempo que isso ocorre - em cair para a Segundona, pela falta
de qualidade técnica de boa parte de seu conjunto.
Não é de hoje que a orientação de
Eurico Miranda e de sua turma - como a do atual Senhor Campello - é a de
desvencilhar-se dos eventuais valores que crescem em São Januário. Creio que a expressão mais correta seria
compulsão - o chefe da diretoria quer
livrar-se logo do principal valor que apareça em condições de ser mandado para
fora de São Januário e o mais rapido que for possível, em termos de ser vendido
- na verdade, a palavra é outra, despachado para a Europa muito antes que se
tenha firmado o respectivo valor, mas já na fase em que os olheiros reconhecem
a potencialidade de um futuro craque.
Como o jogador é vendido cedo, na prática queimado em cotação muito
abaixo da que recolheria se fosse posto no mercado mais tarde, quando já
estivesse formado o craque e a respectiva qualidade no campo, em termos de
valor.
Quantos jogadores saíram do CRVG como
simples promessas, vendido em geral às pressas, como se temessem a pressão da
torcida, aquela que se verificou no último jogador vendido em tais condições,
como simples projeto, e que provocou, creio eu por primeira vez, a revolta da
torcida, por essa posição que pode ter uma dupla interpretação, ou um jovem valor que recém desponta é logo queimado pela direção que deseja
vendê-lo para o mercado europeu por cotação
ainda baixa em respeito à sua potencialidade, mas que já esteja nos parâmetros
da direção, de modo que a perda para o plantel do clube possa ser mascarada de
uma certa forma.
Como definiríamos essa atitude
senão a de uma direção de clube de segunda ordem, de timinho, que não tem
qualquer ambição com relação à grandeza do próprio clube, e que dá a impressão
de cuidar unicamente de seus próprios interesses, através de transações a que
falta a transparência que caberia no caso. Pode ser até que as direções clubísticas
não tenham esse sentimento, mas então porque tanta pressa em desfazer-se de
alguém que pinta como um grande valor? Pois o que estranha no Vasco da Gama de
hoje é a compulsão da diretoria - e isso se deve, sobretudo, ao prisma inserido
no clube pelo que muitos consideram seu grande benemérito Eurico Miranda - de
digamos livrar-se o mais rápido do craque em potencial, repassando-o para algum
team europeu. Se não é por motivos venais,
fica difícil entender que sejam tão burros a correr desse jeito para vender
logo o grande valor potencial.
Para que essa síndrome de timinho, como se viu na venda às
carreiras de mais um valor saído da incubadeira do clube, com tal pressa que só pode despertar a
revolta da torcida?
Pois essa torcida, se tal prática
de vender, ou talvez melhor, torrar o grande valor potencial sem maior
tardança, como se o clube deva ter o destino de uma agremiação pequena e que
não possa ter em suas fileiras um grande valor, um grande craque, como
estávamos nós os torcedores da velha guarda vascaína habituados no passado.
Qual será o modelo que essa turma
se prefigura? Que dizer São Cristóvão? não, não é piada, porque o velho São
Cristóvão e quem não terá passado perto do seu antigo campo, na área da Central
do Brasil? E, no entanto, acreditem, não o salvou o Rum Creosotado, como dizia
o velho anúncio na rádio, mas a sua conquista, no ano da independência, do
Campeonato Carioca!
E de minha parte, quando entrei,
ainda bastante jovem, para a torcida vascaína,
foi nos tempos de Flávio Costa, como técnico, e naquela época o CRVG,
além de ser a base da seleção canarinho, ganharia invicto o campeonato carioca (naqueles
anos, em termos de futebol, só havia
para valer Rio e São Paulo).
Vejam qual foi o resultado da
política de vendas da nova direção. Gostaria de saber o que o novo presidente Campello está achando da equipe. Como está
vendo o time, outra vez caindo para a rabeira do Campeonato Nacional ?
Viramos fregueses agora do futebol
baiano? (a
continuar)
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