sexta-feira, 11 de maio de 2018

Geisel autorizou execuções


                                     

          Ver a foto de 1973, publicada em O Globo desta sexta-feira, do general Ernesto Geisel, futuro presidente da República, acompanhado por quem o sucederia no poder, general João Figueiredo, transporta para aqueles tempos difíceis os contemporâneos que viveram naqueles dias da ditadura militar de 1964 a 1985.
          O pesquisador Matias Spektor localizou ontem o documento secreto, feito pelo então diretor da CIA, William Colby, a onze de abril de 1974, e dirigido ao Secretário de Estado Henry Kissinger. No entender de Spektor, o memorandum é evidência direta do envolvimento dos presidentes militares Emilio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo com a diretiva de assassinatos de opositores da ditadura militar.
          Na comunicação, William Colby descreve reunião realizada em 30 de março de 1974, quinze dias após a posse de Geisel. Na presença do presidente, ali estavam três generais encarregados do combate aos opositores: Milton Tavares de Souza, Confúcio Dantas de Paula Avelino e o que sucederia mais tarde a Geisel, João Baptista Figueiredo.
           Tavares enfatizou na reunião que o Brasil não poderia ignorar a ameaça subversiva e terrorista, e por isso recomendou que métodos extralegais deveriam continuar a ser empregados contra subversivos perigosos. Nesse teor, o general Milton disse que cerca de 104 pessoas nessa categoria foram sumariamente executadas pelo CIE (Centro de Inteligência do Exército) durante cerca de um ano (1973). Por sua vez, Figueiredo apoiou essa 'política' e insistiu na sua continuidade.
             Geisel, após ouvir as observações, pediu para pensar durante o fim de semana sobre a continuidade da "política". A esse propósito, o memorandum da CIA informa que em 1º de abril o presidente disse ao general Figueiredo que a "política deveria continuar". No entanto, Geisel acrescentou que apenas subversivos perigosos  fossem executados.
              Ambos concordaram que a "política deveria continuar" e também determinou que "todas as execuções deveriam ser então aprovadas pelo então chefe do SNI, Figueiredo. 
                Passou a haver uma subordinação de fato da CIE ao SNI de Figueiredo. Para completar o reforço da autoridade do SNI e, por conseguinte, do general Figueiredo - que, de resto, o sucederia em 1979 - Geisel  determinou (com a anuência de Figueiredo) que a CIE deveria  dedicar quase todo o seu esforço à subversão interna. Completando o controle institucional da CIE, esse esforço geral da CIE seria coordenado pelo general Figueiredo.
                   O Exército informa que os documentos sigilosos, relativos ao período em questão e que eventualmente pudessem comprovar a veracidade dos fatos narrados, foram destruídos, de acordo com as normas existentes à época - Regulamento da Salvaguarda de Assuntos Sigilosos (RSAS)".
                   Na longa reportagem "Execuções Oficiais" há dois outros parágrafos que se deveria ressaltar: "Entre 1972 e 1973, a Comissão Nacional da Verdade identificou 138 vítimas, 69 em cada ano. Esse número inclui tanto mortos ditos oficiais como os chamados desaparecidos políticos, que, depois do governo Geisel, chegaram a um total de 53 só em 1974. Ao todo, durante os 21[1] anos da ditadura as vítimas fatais chegaram a 434, sendo 208 desaparecidos.
                   Por fim a estranha figura do Cabo Anselmo. José Anselmo dos Santos, que denunciou, na sua qualidade de agente duplo, um grupo de seis da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), e que provocou a "chacina da chácara de São Bento" com a execução do grupo.
                   O cabo Anselmo, que configura o personagem do delator, levava tão a sério a própria atividade, que chegou a dar informações até sobre a  sua então companheira Soledad Barret Viedma ...

( Fonte: O Globo - Execuções Oficiais ).


[1] é de notar-se que o fascismo de Benito Mussolini dura 22 anos,e termina com a morte do Duce na praça Rieti, justiçado pelos partigiani, e pendurado com a amante Clara Petacci, na cerca de arame.

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