segunda-feira, 7 de maio de 2018

Notícias do Acampamento


                                  

        Já passa um mês da prisão do detento Lula na cela especial do prédio da Polícia Federal. O ex-presidente está preso, condenado pela Operação Lava-Jato, no caso do tríplex do Guarujá.
         Também mostra que aí não está um detento comum o drone branco que diuturnamente sobrevoa o dito prédio.  Pela câmera da mini-aeronave, a polícia acompanha o movimento dos moradores locais e dos "acampados" na área que circunda a Superintendência da PF.
          Como seria de esperar, com o lento transcorrer dos dias, a tensão monta. E é por causa dos recorrentes conflitos na área que  Rafael Greca (PMN), o urbanista e prefeito de Curitiba, considera necessário  interceder junto à Justiça pela saída de Lula do local.       
          Segundo Greca, a PF não deve "alojar em caráter de confinamento penitenciário, um preso com a expressiva trajetória política do líder sindical e de movimentos sociais, e ex-presidente da República". Nesse sentido, ele cobra a saída de Lula - e dos manifestantes - do local. No seu entendimento, o zoneamento urbano do bairro onde está a sede da Polícia Federal poderia até comportar um prédio com o serviço de emissão de passaportes, mas não "alojar, em caráter de confinamento penitenciário,  um preso como Lula."
           O zumbido cotidiano do drone da PF é, na verdade, mais um dos barulhos da nova rotina do antes sossegado bairro Jardim Santa Cândida. Com efeito, desde a chegada do preso ilustre e do consequente grupo de apoiadores, essa área virou teatro de relações difíceis e por vezes conflituosas. Nas duas primeiras semanas, após a vinda de Lula, cerca de 500 manifestantes formam o acampamento, com barracas espalhadas pelas ruas do bairro e sobre as calçadas. Com o ajuntamento, veio o comércio clandestino, cantorias, gritos de ordem, rachas nas ruas, a constante presença policial, e os bloqueios do tráfego.
             A partir do dia dezessete, o acampamento encolhe para setenta pessoas (conforme os organizadores), que passam a dormir em barracas, em terreno alugado a 800 m do  ponto principal dos protestos, a "esquina Olga Benário" (cruzamento das ruas Guilherme Matter com a Dr Barreto Coutinho). Este cruzamento é o marco zero do acampamento, que está bloqueado pelos manifestantes e por cordão de isolamento da P.M.- que cumpre ordem da Justiça estadual que interdita a área do entorno da PF.
               Ali estão as quatro barracas da estrutura operacional do movimento, com fins determinados: uma recebe donativos, outra se ocupa da comunicação, a terceira, da organização, e a quarta, das caixas de som. Parte deste local, todas as manhãs, o grito amplificado em coro que quebra o silêncio matinal no bairro: Bom dia , presidente Lula!, com três repetições.  Já uma saudação-protesto se repetirá, cotidianamente, no "boa tarde" e no "boa noite".
               Foi na cognominada "esquina Olga Benário", que na sexta-feira ocorreu o incidente com o delegado da P.F. , também morador do bairro, a que o blog já aludiu.  A irritação com a estridência do som também ocorreu dias antes desse incidente, quando moradores entraram em confronto verbal e houve empurra-empurra, tudo isso por causa do som  das "saudações a Lula".
              Através do aplicativo WhatsApp os moradores envolvidos trocam informações e buscam a remoção dos "invasores". Como forma de precaução, eles igualmente passaram a isolar os canteiros de suas calçadas com fitas de segurança, na tentativa de impedir montagem de barracas e a consequente ocupação pelos apoiadores de Lula.
               Em abaixo-assinado, dirigido à governadora do Paraná, Cida Borghetti (PP) (cópia para a 12ª Vara Federal de Curitiba), os moradores afetados referem "essa baderna (que) nos impede de ir e vir com tranquilidade e segurança, nos coloca medo em relação a nossas esposas e filhos, nos coloca a mercê de maus odores e ao risco de doenças em razão do lixo que por vezes se acumula." E os moradores completam: "Vivemos acuados e amedrontados. Não conseguimos dormir em paz em nossas casas e próprias camas. Ressaltamos que não existe aqui qualquer manifestação de posicionamento ideológico."
              Assinale-se que tal documento foi enviado no dia anterior ao acampamento ser alvo de disparos de arma de fogo - ferindo de raspão no pescoço um dos manifestantes.  Em reação a tal ocorrência, um ato de protesto contra os tiros bloqueou uma das principais vias de ônibus do bairro com pneus incediados.    
                 A Justiça Federal recebeu até aqui quatro pedidos de remoção de Lula da P.F. (e por conseguinte a saída dos manifestantes): (a) moradores; (b) prefeitura de Curitiba;  (c) de um deputado estadual; (d) da própria Polícia Federal.  Nesse sentido, o pedido da Prefeitura (Procuradoria-Geral do Município) feito a 13 de abril, resultou na abertura de processo por ordem da juíza federal da 12ª Vara Federal, Carolina Moura Lebbos. O M.P.F. se posicionou contra a transferência de Lula da sede da P.F., no atual momento: "a princípio, é dificil afirmar a existência de outro local no Estado do Paraná que possa garantir o controle das autoridades federais sobre as condições de segurança física e moral" de Lula. Nesse documento, o procurador-regional da República Januário Paludo, da força-tarefa da Lava-Jato diz que há "um aparente conflito constitucional" na questão: o direito à livre manifestação; à liberdade de locomoção dos moradores do entorno da PF; o direito do Estado de aplicar a pena; e o do preso, que até o momento não pediu para ser removido da "cela" especial montada para ele no 4º andar do prédio da PF em Curitiba.
                Lula completa hoje, sete maio, seu  primeiro mês de prisão. A defesa quer esgotar todos os recursos no processo antes de pedir uma remoção da Superintendência da Polícia Federal.
                Em adendo ao relato dos problemas colocados pela prisão de Lula na Superintendência da P.F. em Curitiba, há o registro de maior flexibilidade da Justiça quanto a visitas de políticos. Na semana passada, o visitam o amigo, ex-governador da Bahia, e possível 'plano B' do PT para a disputa presidencial, Jaques Wagner, e a presidente do partido, Gleisi Hoffman.  Por outro lado, sem dispor do acesso esperado a aliados, no cárcere,  Lula manteve nos primeiros trinta dias o contato com o partido por meio dos advogados.


( Fonte da transcrição: Estado de S. Paulo )

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