A
Colcha de Penélope[i]
John Bolton,
novo Conselheiro de Segurança Nacional do Presidente
Trump, quer agora punir com sanções
as empresas europeias que
continuem a negociar com o Irã. Bolton, que estava escanteado faz bastante
tempo por causa de suas posições radicais, confirmou a intenção de Trump de
pressionar os aliados europeus para que eles busquem mais restrições ao
programa nuclear do Irã.
Dentro do estilo errático de liderança de Donald Trump, que é mais afeito a destruir do que construir, o
Conselheiro Bolton que, pelas suas posições radicais, curtiu um longo inverno
em posições governamentais, agora confirma à rede CNN a intenção de pressionar os aliados europeus para que eles
busquem mais restrições ao programa nuclear do Irã.
Apesar de que o difícil Bolton insinue
que é do interesse dos europeus concordarem com o fim do acordo (proposto pelo
antecessor Barack Obama, e aprovado
pelos principais países envolvidos), os europeus - e notadamente Ângela Merkel
e Macron - resistem.
Com efeito, a Chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou que tentará
manter no pacto. Por sua vez, Jean-Yves
Le Drian, ministro dos negócios estrangeiros da França, disse nesta sexta-feira que pediu isenções ou
períodos de carência mais longos para a saída de empresas francesas do Irã,
como a Total (petrolífera) e a montadora Peugeot.
No entanto, as assertivas do
conselheiro de Segurança Nacional, o radical Bolton - que busca aniquilar as
pretensões geopolíticas iranianas na região, se chocam com a posição do
Secretário de Estado, Mike Pompeo,
que defende uma aproximação com os europeus para tentar um novo acordo com
Teerã.
Como quase tudo que tem o estampo de
Trump, tende a ser pouco hábil e
contraditório. Para Dennis Ross, experiente
ex-diplomata americano com especialidade no Oriente Próximo, Trump cometeu o
erro de desagradar a todos os envolvidos. "Você só sai de um acordo se
conseguir um acordo melhor - e Trump não tem chance alguma de conseguir algo
melhor."
As razões são simples. Para Ross, "ele irritou os iranianos,
que não querem um novo acordo, e os europeus, que não querem sanções às suas
companhias". A metáfora da colcha de Penélope, referida na Odisseia de
Homero, se reporta às modificações contínuas, motivadas por uma força inesperada
ou superior.
[i]
Como mais um estratagema para ganhar tempo com os pretendentes - que desejavam
desposá-la, na ausência de Ulisses -
Penélope, a fiel esposa, desfazia de noite o que costurava de dia, na
colcha que preparava para o tálamo das segundas núpcias, que a sua solidão
núbil parecia tornar inexorável.
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