terça-feira, 15 de maio de 2018

A Colcha de Penélope


                          A  Colcha  de  Penélope[i]

        John Bolton, novo Conselheiro de Segurança Nacional do Presidente Trump, quer agora punir com sanções  as empresas europeias  que continuem a negociar com o Irã. Bolton, que estava escanteado faz bastante tempo por causa de suas posições radicais, confirmou a intenção de Trump de pressionar os aliados europeus para que eles busquem mais restrições ao programa nuclear do Irã.
        Dentro do estilo errático de liderança de Donald Trump, que é mais afeito a destruir do que construir, o Conselheiro Bolton que, pelas suas posições radicais, curtiu um longo inverno em posições governamentais, agora confirma à rede CNN a intenção de pressionar os aliados europeus para que eles busquem mais restrições ao programa nuclear do Irã.
        Apesar de que o difícil Bolton insinue que é do interesse dos europeus concordarem com o fim do acordo (proposto pelo antecessor Barack Obama, e aprovado pelos principais países envolvidos), os europeus - e notadamente Ângela Merkel e Macron - resistem.
        Com efeito, a Chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou que tentará manter no pacto.  Por sua vez, Jean-Yves Le Drian, ministro dos negócios estrangeiros da França,  disse nesta sexta-feira que pediu isenções ou períodos de carência mais longos para a saída de empresas francesas do Irã, como a Total (petrolífera) e a montadora Peugeot.
        No entanto, as assertivas do conselheiro de Segurança Nacional, o radical Bolton - que busca aniquilar as pretensões geopolíticas iranianas na região, se chocam com a posição do Secretário de Estado, Mike Pompeo, que defende uma aproximação com os europeus para tentar um novo acordo com Teerã.
       Como quase tudo que tem o estampo de Trump, tende a ser pouco hábil e contraditório.  Para Dennis Ross, experiente ex-diplomata americano com especialidade no Oriente Próximo, Trump cometeu o erro de desagradar a todos os envolvidos. "Você só sai de um acordo se conseguir um acordo melhor - e Trump não tem chance alguma de conseguir algo melhor."
       As razões são simples.  Para Ross, "ele irritou os iranianos, que não querem um novo acordo, e os europeus, que não querem sanções às suas companhias". A metáfora da colcha de Penélope, referida na Odisseia de Homero, se reporta às modificações contínuas, motivadas por uma força inesperada ou superior.



[i] Como mais um estratagema para ganhar tempo com os pretendentes - que desejavam desposá-la, na ausência de Ulisses -  Penélope, a fiel esposa, desfazia de noite o que costurava de dia, na colcha que preparava para o tálamo das segundas núpcias, que a sua solidão núbil parecia tornar inexorável.

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