Vivemos em civilização
- ou talvez seria melhor dizer, em uma fase de civilização - em que o vazamento
para a imprensa seria o que os italianos chamariam de normale amminastrazione. O confidencial e o secreto não são vistos
pelo que devam ser, mas sim como eventuais formatos a que uma das partes pode
dar o tratamento que melhor lhe aprouver, se adotar as necessárias precauções.
Nada disso, obviamente, é
reconhecido pelas partes, sobretudo aquela acusada, eis que semelha mais fácil
e provável que o lado submetido à investigação possa recorrer a tais
procedimentos.
Na noite de segunda-feira o New York Times publicou, em primeira
mão, dezenas de perguntas que o Procurador Robert Mueller III enviara aos advogados do presidente. Tais
quesitos mostram como a equipe do procurador especial pretende
aprofundar algumas informações sobre as relações pessoais do presidente.
Em tal sentido, o escopo é
esclarecer se houve obstrução de Justiça - um crime grave na legislação
estadunidense - por parte de Donald Trump na investigação sobre conluio com os
russos.
De saída, a publicidade dos
questionamentos serve à tática de "vítima" do Presidente: " É
difícil obstruir a Justiça por um crime que nunca foi cometido! Caça às
bruxas!", tuitou Trump, acrescentando que nenhuma das questões contém o
termo "conluio".
Não é à toa que Trump aprecia muito
a serventia do twitter. Na sua
simplicidade e suposta concisão, ele serve para manejo ultraprudente das
questões, evitando o supérfluo, onde pode morar o perigo.
As questões de Mueller podem ser
divididas em vários tópicos. Alguns se referem à "equipe" de governo
da atual gestão: (a) Michael Flynn,
que por imenso descuido - para dizer o mínimo - fora nomeado conselheiro de
Segurança Nacional, sem ter, como logo se comprovou, condições éticas mínimas
para o cargo (além de haver de saída mentido para o Vice-presidente acerca de
questão com a Rússia);(b) sobre a demissão do então diretor do FBI, James Comey; e (c) sobre Jeff
Sessions, secretário de Justiça, que alegou conflito de interesses e se eximiu
de participar da investigação sobre a Rússia.
Há outras perguntas, que concernem
fatos relacionados com um potencial
complô entre a equipe da campanha Trump e o Kremlin.
"Quando o senhor teve conhecimento da reunião na Trump Tower? - é a pergunta do Procurador Mueller, sobre a reunião
ocorrida em junho de 2016 entre integrantes da campanha do republicano e uma
advogada russa.
Segundo o citado ex-diretor do FBI
James Comey, Trump lhe pedira que abandonasse a investigação sobre seu
ex-conselheiro de Segurança Nacional, Michael Flynn. Este último acabaria por
ser forçado a deixar o cargo.
Consoante um viés de
interpretação dos quesitos colocados pelo Fiscal, tais perguntas não
indicariam, porém, que Trump seja considerado suspeito de algum crime na
investigação a cargo de Mueller. De acordo com a banca de advogados do
Presidente, há vários meses Mueller
pensa em interrogar Trump no contexto das investigações acerca da ingerência
russa na eleição americana de 2016.
Por outro lado, há cerca de duas
semanas, o Presidente contratou outro advogado para o caso, o ex-prefeito de
New York Rudy Giuliani. Para tanto, o peso pesado Giuliani dá a seguinte
explicação ao Washington Post:
"Faço isso porque espero poder negociar um acordo que seja bom para o país
e porque tenho muito respeito pelo Presidente e por Robert Mueller".
Mesuras à parte, Giuliani, alem
de ser um bom slugger
(metaforicamente, os seus murros são fortes), poderá agregar no apoio de Trump
um grupo republicano importante.
(
Fonte: O Estado de S. Paulo )
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