segunda-feira, 14 de maio de 2018

Inauguração da Missão em Jerusalém


                              
                                 
        
          O reconhecimento por Donald Trump da nova política é anátema àquela seguida por sete décadas pelos Estados Unidos ao colocar sua embaixada em Jerusalém. A superpotência, embora defensora de Israel, sempre evitara que tal posição fosse confundida com perigosa e incondicional submissão à política israelense.
          Não é decerto por acaso que Benjamin Netanyahu possa celebrar com a Superpotência um alinhamento sem precedentes. No passado, a despeito dos favores de Washington, a superpotência sempre cuidara de manter uma sombra de abertura para o lado palestino.  Essa sombra se torna de difícil determinação diante de Mike Pompeo, o atual Secretário de Estado, e do Conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, este último sobretudo marcado por atuação radical, que o marginalizara em diversas administrações dos dois partidos.
          O primeiro ministro de Israel, que tem sérios problemas na área interna, por ser investigado por corrupção, pode também celebrar a dádiva da missão estadunidense em Jerusalém, algo impensável em tantas décadas da crise oriental.

           Nunca presidente americano terá assumido posições tão nefastas - e manifestamente contrárias ao interesse da paz no Oriente Médio - quanto esse estranho no ninho.  E 'Bibi' Netanyahu terá dificuldade de acreditar em tantas benesses em tão curto espaço de tempo. Perseguido por investigação policial em matéria de corrupção, eis que surje Trump benefactor, com a maçã na boca do inacreditável reconhecimento da embaixada dos EUA em Jerusalém, o que despedaça toda a louça de cuidadosa diplomacia quanto à paz  no Oriente Médio, que carece senão de equidade, pelo menos de uma crível sombra de igualdade de direitos às Partes nesse litígio.

           Tal inauguração ensejada pelo calamitoso despreparo, ou coisa pior, de parte de Donald Trump - que escarnece de tantas décadas de respeito aos cuidados e rituais políticos de imponente número de antecessores políticos (bipartidários na verdade na observância de regras que não mudavam, tanto sob democratas, quanto republicanos) - ao irromper agora nesse terreno, com o descuidado que é próprio dos eternos aprendizes - só tende a prometer ulteriores dissabores, eis que a direita de Trump, pela sua incompetência, das duas uma, ou é instrumentalizada pelo finório Netanyahu, ou se deixa carregar a ulterior crise oriental, órfã que está essa antiga causa de um guardião que, por ter boas ideias na cabeça,  possa vir a livrar-se dos instrumentalizadores de plantão.

( Fontes: O Estado de S. Paulo, Gláuber Rocha )

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