Não, caro leitor, não se trata de
erro tipográfico ou simples engano. Se amanhã é o dia da eleição, diante de um
figurante e Nicolás Maduro, trata-se realmente de uma manifestação, ainda que
sem esperança.
Maduro é um ditador, incompetente e
corrupto. Desse mato não sairá outro coelho,
e o pleito é pro-forma. Com a
situação como está, ele há de invectivar contra os demônios da vez. O protetor
Chávez e o afilhado aprontaram uma boa para o povo venezuelano.
Como toda ditadura, contemplamos um senhor
presidente gordo e sorridente. Preside a um povo a que sai mais barato ficar no
próprio casebre dormindo, do que pagar a condução para o trabalho.
De acordo também com o figurino,
arranjou um figurante, depois de afastar todos aqueles que poderiam fazer-lhe
sombra.
Por isso, amanhã é uma eleição sem
esperança. E no dia seguinte, à Venezuela
caberá mais do mesmo. A hiperinflação continuará, a sopa do governo ficará mais rala, o nédio Maduro cumprirá o
ritual dos ditadores, e o cordão dos puxa-sacos (daquela marchinha
carnavalesca, lembram-se?) seguirá firme, à espera... Porque é comovente a devoção dos áulicos...
Eles só faltam quando a vaca vai pro
brejo e a onça aparece...
A Venezuela - e tenho poucas dúvidas de que
esse señor não ficará muito tempo naquele palácio que o seu protetor, o
tenente-coronel Hugo Chávez tentara invadir na ausência do presidente Carlos
Andrès Pérez, que gostava muito de viajar, e a partir daquela infausta data tudo
começou a sair errado para a Terra de Bolívar... E tenham em mente que Venezuela
e Colômbia, na longa noite das ditaduras militares na América do Sul, tinham
sido as duas solitárias democracias...
E agora, José? Perdão, Nicolás, a festa ainda não acabou,
mas só um daqueles nojentos puxa-sacos diria hoje que Su Excelencia tem ainda mucho
tiempo...
Os ditadores costumam pensar
que a redoma em que vivem é daquelas fabricadas na Alemanha, que duram muito...
Lamento dizer-lhe que, além de todas as desgraças que o Señor causou para esse
povo triste, que toma a penosa estrada do exílio e a pé!, para escapar desse inferno, que nem é de Dante, sendo
sul-americano legítimo, tenho a impressão que o dia em que o sofrido Povo
venezuelano o verá pelas costas não está assim tão longe...
Aproveite, portanto, os
elogios dos cortesãos. Os tiranos fingem que os menosprezam, mas na verdade
carecem deles. Se achar oportuno, arranje um gravador discreto para registrar o
que dizem. Menos a fita, tudo é falso, mas talvez, quem sabe?, no desterro ou
na prisão, possam ser espécie de cantiga de ninar para quem entra nesse eterno
palácio de los señores dictadores...
(
Fonte: Carlos Drummond de Andrade )
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