segunda-feira, 21 de maio de 2018

A Farsa Eleitoral


                                   

       O pleito em que Nicolás Maduro encenou a respectiva 'reeleição' foi representação na qual faltou quase tudo o que caracteriza uma eleição.
       O público participou sem entusiasmo. As transgressões ao processo eleitoral digno deste nome estavam à vista de todos.
        Postos de informação e controle chavistas a menos de duzentos metros dos locais de votação (transgredindo a norma eleitoral).
        A flagrante compra do sufrágio para todos votantes que registrarem seu voto por meio da carteira da pátria (sistema paralelo criado pelo chavismo para monitorar o eleitorado). Segundo denunciou o candidato Henri Falcón 'prometeram dez milhões de bolívares' (doze dólares pelo mercado negro)
         Maduro sublinhou a necessidade do "diálogo". Que diálogo é esse? O chavismo criou a Constituyente dos bairros populares, eleita pela fraude, que, na prática, tirou todo o poder da Assembléia Legislativa, antes dominada pela Oposição, por determinação da maioria dos eleitores venezuelanos. Além de subjugar o Legislativo, o chavismo controla o Conselho Nacional Eleitoral, o Judiciário e o poder legislativo, como referido acima. A abstenção dos eleitores foi enorme (mais de 50%) o que invalidaria o pleito em qualquer país democrático. Com as seções eleitorais desertas, ali estavam as urnas prontas para receberem as cédulas de votação no candidato oficial, seguindo o modelo árabe (ambos tentam disfarçar a falta de legitimidade do pleito).
         A ausência de protestos, de demonstrações mais vivas de repúdio ao modelo da "democracia chavista" não devem, contudo, enganar quanto às causas desta apatia. Na verdade, tal alheamento reflete o cansaço com a demagogia e, sobretudo, o fracasso do regime, refletido em todos os planos de governo. A aparente tolerância com esse estado de coisas é ilusória.  Tudo leva a crer que o regime chavista, marcado pela violência, o irrealismo e o desastre sem paralelo na economia, com todo o inútil sacrifício que cobra diuturnamente do Povo sem qualquer sinal de recuperação,  constitui o pior dos sinais e da imagem que a podridão do regime espalha por toda a parte.
          O chavismo arruinou a rica Venezuela. Em termos econômicos (a miséria por toda a parte).  Em termos financeiros, com o descalabro da hiperinflação. Por fim, em termos humanos, fazendo com que a esperança resida em plaga estrangeira, através do trauma da migração, em que a gente pobre deixa quase tudo para trás.
           Será que todo esse desespero, refletido na fome, na miséria e na falta de qualquer esperança,  não reagirá afinal no furioso estertor da revolução, e sob as chicotadas do desespero crescerá a consciência, confusa decerto,mas carregada de fogo, fúria e frenesi que o olhar tolda e, com a explosão da raiva ressentida e descontrolada que, por fim,  lança o fogo que só as grandes, afrontosas  injustiças  atiçam, alimentam e ao cabo de tudo arrastam, afinal alcançada a pujança que de há muito dormitara e que, de repente, sem pré aviso, se lança como as enormes vagas surgidas não se sabe de onde, e que levam de roldão sonhos e realidades no furioso estertor  da indignação das forças que tudo carregam, sem que os que antes se pavoneavam sequer tenham tempo e espaço  para escapar do horrendo fim que, estúpidos, vinham cortejando desde muito...


 ( Fonte: O Estado de S. Paulo )

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