O pleito em que Nicolás Maduro encenou a respectiva 'reeleição'
foi representação na qual faltou quase tudo o que caracteriza uma eleição.
O público participou
sem entusiasmo. As transgressões ao processo eleitoral digno deste nome estavam
à vista de todos.
Postos de informação e
controle chavistas a menos de duzentos metros dos locais de votação
(transgredindo a norma eleitoral).
A flagrante compra do
sufrágio para todos votantes que registrarem seu voto por meio da carteira da pátria
(sistema paralelo criado pelo chavismo para monitorar o eleitorado). Segundo
denunciou o candidato Henri Falcón 'prometeram
dez milhões de bolívares' (doze dólares pelo mercado negro)
Maduro sublinhou
a necessidade do "diálogo". Que diálogo é esse? O chavismo criou a Constituyente dos bairros populares,
eleita pela fraude, que, na prática, tirou todo o poder da Assembléia
Legislativa, antes dominada pela Oposição, por determinação da maioria dos
eleitores venezuelanos. Além de subjugar o Legislativo, o chavismo controla o
Conselho Nacional Eleitoral, o Judiciário e o poder legislativo, como referido
acima. A abstenção dos eleitores foi enorme (mais de 50%) o que invalidaria o
pleito em qualquer país democrático. Com as seções eleitorais desertas, ali
estavam as urnas prontas para receberem as cédulas de votação no candidato
oficial, seguindo o modelo árabe (ambos tentam disfarçar a falta de legitimidade
do pleito).
A ausência de protestos, de
demonstrações mais vivas de repúdio ao modelo da "democracia
chavista" não devem, contudo, enganar quanto às causas desta apatia. Na
verdade, tal alheamento reflete o cansaço com a demagogia e, sobretudo, o
fracasso do regime, refletido em todos os planos de governo. A aparente tolerância
com esse estado de coisas é ilusória.
Tudo leva a crer que o regime chavista, marcado pela violência, o
irrealismo e o desastre sem paralelo
na economia, com todo o inútil sacrifício que cobra diuturnamente do Povo sem
qualquer sinal de recuperação, constitui
o pior dos sinais e da imagem que a podridão do regime espalha por toda a
parte.
O
chavismo arruinou a rica Venezuela. Em termos econômicos (a miséria por toda a
parte). Em termos financeiros, com o
descalabro da hiperinflação. Por fim, em termos humanos, fazendo com que a
esperança resida em plaga estrangeira, através do trauma da migração, em que a
gente pobre deixa quase tudo para trás.
Será que todo esse desespero,
refletido na fome, na miséria e na falta de qualquer esperança, não reagirá afinal no furioso estertor da
revolução, e sob as chicotadas do desespero crescerá a consciência, confusa
decerto,mas carregada de fogo, fúria e frenesi que o olhar tolda e, com a explosão da raiva ressentida e descontrolada
que, por fim, lança o fogo que só as
grandes, afrontosas injustiças atiçam, alimentam e ao cabo de tudo arrastam, afinal alcançada a pujança que de há
muito dormitara e que, de repente, sem pré aviso, se lança como as enormes vagas
surgidas não se sabe de onde, e que levam de roldão sonhos e realidades no
furioso estertor da indignação das forças
que tudo carregam, sem que os que antes se pavoneavam sequer tenham tempo e
espaço para escapar do horrendo fim que,
estúpidos, vinham cortejando desde muito...
( Fonte: O Estado de S. Paulo )
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