Não carece ser especialista em
Washington para notar-se que algo está muito errado na capital federal, ou no
que chamam o Belt-way. E não é
necessário ser experto nos assuntos do governo estadunidense para determinar a
causa do pandemônio.
Esta causa, óbvia e evidente, reponta em quase
todas as páginas e, sobretudo, nas
folhas de rostro e nas colunas políticas. Foi necessária grande operação
político-legislativa para torná-la possível. Como dizem os nossos irmãos
hispânicos, no acredito en brujas pero
que las hay las hay.
Para desmontar a candidatura real da
primeira mulher à Presidência, muita coisa foi necessária. De início, a entrada
em cena de estranho chefe do FBI, que
começou por destratar gratuitamente a candidata a Presidente, ao referir-se com
desdém sobre a maneira que ela tratava a correspondência por e-mail. Hillary
Clinton em má hora julgara oportuno utilizar terminal privado de
computador. Em seguida, e a fortiori,
as estranhas comunicações de Comey ao Congresso que, de forma ainda mais
surpreendente, só levantavam suspicácias acerca de possíveis irregularidades na
tal correspondência oficial que nunca foram encontradas a posteriori.
Não contente com isso, a estranha
figura de James B.Comey deixaria para levantar estranhíssima lebre junto
aos eleitores - justo na hora da votação antecipada - quanto a possíveis irregularidades
no computador do marido afastado da secretária (de Hillary) Huma Abedin. Para tanto, o republicano
que Barack Obama colocara no FBI não atentou, nem para as disposições
da Secretaria de Justiça, nem para o próprio juízo pessoal, em não levantar
problemas políticos no período eleitoral, mormente quando inexistiam quaisquer
elementos de prova contra a Secretária do Departamento do Exterior. Pelo visto,
James
B.Comey era experto em levantar lebres, a despeito das explícitas disposições
oficiais que o proibiam de fazê-lo. E quão acertadas eram tais disposições, os
fatos o comprovariam, pois ao zelo denunciatório de James Comey, não
correspondeu nada de concreto!
O que ele fez, com singular desrespeito
das normas do próprio Departamento, foi levantar lebres sobre a candidata, o que realizou nas horas mais apropriadas para
causar o maior dano possível à candidatura da democrata. Que tais denúncias tenham sido todas elas
falsas e sem qualquer apoio na realidade, como dizem os italianos, qui se ne frega? (quem se
importa?). Pois posso dizer que a visada Hillary se importou e muito, pela descomunal
injustiça que lhe foi feita.
James B. Comey receberia a paga de quem
mais ajudou, ao ser demitido do FBI por Donald J.Trump, pouco depois que este
assumisse a Presidência.
Sequer vale a pena sublinhar o que
perderam os Estados Unidos ao ser forçada a eleição de Trump, com todos os
escândalos que ora pululam na Administração Federal.
Mas infelizmente outros contribuíram e
muito para a derrota de Hillary Clinton na votação indireta (mas não naquela
direta, em que ela venceu, mas não levou)... Temos a famigerada intervenção
russa através do hacking de
computadores (com atenção especial para o Comitê eleitoral democrata, aquele do
partido de Hillary), sem falar de outras invasões russas da cibernética, todas
elas levantando alto o galardão republicano de Trump...
O amigão Vladimir Putin logrou o
próprio objetivo, colocando o cupincha Donald Trump na Casa Branca. Mas se o eleitor americano errou,
o engano foi ainda maior pelo estranhíssimo silêncio daquele por quem
Hillary renunciara - muito contra a opinião do próprio marido, o ex-presidente Bill Clinton - em gesto de grandeza[1]
que terá sido difícil para muitos captar, tão rara é tal atitude nos tempos que
correm.
Por mais opositor que alguém seja de
Hillary Clinton, parece difícil - pois depõe contra a própria inteligência -
afirmar que o candidato republicano estivesse mais preparado do que a primeira
mulher a disputar, com grande chance de vitória, a presidência dos Estados
Unidos.
Acima desfiei muitos dos
responsáveis por esse triste resultado eleitoral, em que a melhor candidata foi
preterida pelo pior que imaginar-se possa para a Casa Branca.
Talvez o Povo americano, mal-informado
que o foi, por estranhíssimas intervenções como as dessa polêmica figura de James
Comey, que surgem como cometas, cumprem a sua missão, e sóem
desaparecer para sempre. Mas dentre os autores desse crime sem sangue, mas com
marcas visíveis - de que os Estados Unidos hoje se ressentem - cumpre-me
acrescentar o inefável ex-favorecido de Hillary, que a repagou estranhamente
com olímpico, sepulcral silêncio, a despeito de todas as alvoratadas
solicitações do Comitê Democrata.
Nunca tantos ficaram devendo tanto
a um só personagem, que preferiu, por motivos que a razão desconhece, guardar
silêncio.
O resultado está aí. As cavalariças de Augeas estão sujas de novo. E
como estão!
( Fontes: The New Yorker,
The New York Times, Trabalhos de Hércules )
[1]
Hillary disputara todas as primárias com Barack Obama. Às portas da Convenção,
achou mais apropriado renunciar à própria pré-candidatura, pois via no seu jovem
adversário democrata mais condições de vencer ao candidato republicano. E com
isso não concordava o seu marido Bill Clinton...
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