quarta-feira, 19 de julho de 2017

A Crise do Rio de Janeiro

                              

         Fala-se muito sobre a crise do Rio, e a tônica do discurso é a falta de dinheiro, que é óbvio resultado das más gestões no Estado.
        Tal crise ela não é propriedade do Rio de Janeiro, mas aqui atinge níveis que nunca tinham sido vistos em terra carioca. É bem verdade que o Rio fruíu por muito tempo do privilégio de sediar a capital da República (e do Império, quando era chamado de Corte).
         Ninguém pode negar que a clara decadência da antiga Cidade Maravilhosa - que é cantada na ingênua marchinha dos anos trinta, e que funcionou como o hino oficioso do Rio de Janeiro - ela se inicia após a transferência da Capital para Brasília.
         A corrupção no Rio reponta já no regime militar, e há nomes civis dentre os prefeitos nomeados pela Gloriosa. Os abusos, nós os vemos em toda parte. Com a mudança do gabarito de quatro andares para os mega-arranha-céus,  numa atrevida virtual liberação de alturas máximas, que iria atingir tanto Ipanema, quanto Copacabana, que deixa de ser o ícone do Rio de Janeiro. Antes era o cartão de visitas do Rio Capital, sobremodo na primeira metade do século vinte, com o equilibrado entorno debruçado sobre a faixa de praia ainda não descaracterizada, que muito difere da visão desconjuntada do atual front line, em que o quadro harmônico desaparece.       Hoje edifícios enormes ameaçam descaracterizar-lhe o célebre perfil já desfigurado por enormes edifícios , que quebram a imagem harmônica das visões urbana e natural. Assim era a praia célebre que coloca o Rio - então capital do Brasil - no cenário turístico internacional, com a presença de artistas de Hollywood - é a época da Princezinha do Mar, balneário de grandes nomes como Walt Disney no plano turístico. Surge então Copacabana que se transforma nos anos trinta e quarenta do século passado no cartão postal do Rio, Cidade Maravilhosa. E nesse contexto se insere a célebre foto de um exultante Walt Disney, câmara em punho, debruçado nas areias já famosas da Princezinha do Mar, dentro da apresentação do famoso papagaio Zé Carioca.
         A decadência de Copacabana se acentua nos anos cinza da chamada "revolução", com o empobrecimento do bairro e, em consequência, do próprio comércio. Andar pelas calçadas do antigo famoso cartão de visitas do Rio de Janeiro é hoje exercício penoso, não só pela má qualidade do piso (em geral um cimento grosseiro e mal-acabado), mas pela indigência do comércio, que beira em certas áreas nível que deprime não só o bairro, mas os próprios transeuntes.
         Que diferença da Copacabana transformada nos anos trinta e quarenta como cartão postal do Rio, Cidade Maravilhosa !      
         Por falar no celebérrimo cartão postal do Rio, há outro que apesar das alturas, deprime quem tem a oportunidade de vê-lo, ou - o que é ainda pior - visitá-lo. Trata-se de enorme construção, próxima da igreja Santa Terezinha, sobre o morro no qual se abríu o chamado Túnel Novo que conecta Leme e Copacabana com a área da rua da Passagem e Botafogo. Esse arranha-céu é  prédio descomunal, que de tão grande se eleva além da cadeia de montes que separa Copacabana e a área da rua da Passagem e de General Severiano.
          Dessarte, o tal Skyscraper não só desfigura a linha dos morros que separa Copacabana da área interna da Baía de Guanabara, senão deforma de modo irremediável a paisagem do cinturão de prédios que dá assinatura internacional  à Copacabana e  famosíssima praia. Nunca a especulação imobiliária, com o auxílio daqueles que deveriam defender a natureza e o célebre entorno da faixa antes mais delgada, que constituía o cartão de visitas da célebre Copacabana lograra tal deformação de o que era conjunto equilibrado entre a pujante natureza  e a ultrafamosa paisagem urbana da chamada - e com justa razão, por sua integração com o Atlântico - a Princezinha do Mar.
           O tal prédio-monstro -  desconheço quem concebeu tal projeto que deforma o entorno paisagístico de Copacabana  - pode ser visto como a antítese irônica de toda a oposição citadina que se dirigiu, nos anos cinquenta, e com justa razão, contra edifício chamado Escorpião, cujo projeto fora verberado por gregos e troianos como deformante de entorno  paisagístico mais modesto e que defronta a Igreja de Santa  Terezinha ...                                                          

          ( a  continuar )

Nenhum comentário: