Fala-se muito sobre a crise do Rio, e a
tônica do discurso é a falta de dinheiro, que é óbvio resultado das más gestões
no Estado.
Tal crise ela não é propriedade do Rio
de Janeiro, mas aqui atinge níveis que nunca tinham sido vistos em terra
carioca. É bem verdade que o Rio fruíu por muito tempo do privilégio de sediar
a capital da República (e do Império, quando era chamado de Corte).
Ninguém pode negar que a clara
decadência da antiga Cidade Maravilhosa - que é cantada na ingênua marchinha
dos anos trinta, e que funcionou como o hino oficioso do Rio de Janeiro - ela
se inicia após a transferência da Capital para Brasília.
A corrupção no Rio reponta já no
regime militar, e há nomes civis dentre os prefeitos nomeados pela Gloriosa. Os abusos, nós os vemos em
toda parte. Com a mudança do gabarito de quatro andares para os
mega-arranha-céus, numa atrevida virtual
liberação de alturas máximas, que iria atingir tanto Ipanema, quanto
Copacabana, que deixa de ser o ícone do Rio de Janeiro. Antes era o cartão de
visitas do Rio Capital, sobremodo na primeira metade do século vinte, com o
equilibrado entorno debruçado sobre a faixa de praia ainda não descaracterizada,
que muito difere da visão desconjuntada do atual front line, em que o quadro harmônico desaparece. Hoje edifícios enormes ameaçam
descaracterizar-lhe o célebre perfil já desfigurado
por enormes edifícios , que quebram a imagem harmônica das visões urbana e
natural. Assim era a praia célebre que coloca o Rio - então capital do Brasil -
no cenário turístico internacional, com a presença de artistas de Hollywood - é
a época da Princezinha do Mar,
balneário de grandes nomes como Walt Disney no plano turístico. Surge então
Copacabana que se transforma nos anos trinta e quarenta do século passado no cartão
postal do Rio, Cidade Maravilhosa. E nesse contexto se insere a célebre foto de
um exultante Walt Disney, câmara em punho, debruçado nas areias já famosas da
Princezinha do Mar, dentro da apresentação do famoso papagaio Zé Carioca.
A decadência de Copacabana se acentua
nos anos cinza da chamada "revolução", com o empobrecimento do bairro
e, em consequência, do próprio comércio. Andar pelas calçadas do antigo famoso cartão
de visitas do Rio de Janeiro é hoje exercício penoso, não só pela má qualidade
do piso (em geral um cimento grosseiro e mal-acabado), mas pela indigência do
comércio, que beira em certas áreas nível que deprime não só o bairro, mas os
próprios transeuntes.
Que diferença da Copacabana transformada
nos anos trinta e quarenta como cartão postal do Rio, Cidade Maravilhosa !
Por falar no celebérrimo cartão postal do Rio,
há outro que apesar das alturas, deprime quem tem a oportunidade de vê-lo, ou -
o que é ainda pior - visitá-lo. Trata-se de enorme construção, próxima da igreja
Santa Terezinha, sobre o morro no qual se abríu o chamado Túnel Novo que
conecta Leme e Copacabana com a área da rua da Passagem e Botafogo. Esse
arranha-céu é prédio descomunal, que de
tão grande se eleva além da cadeia de montes que separa Copacabana e a área da
rua da Passagem e de General Severiano.
Dessarte,
o tal Skyscraper não só desfigura a
linha dos morros que separa Copacabana da área interna da Baía de Guanabara,
senão deforma de modo irremediável a paisagem do cinturão de prédios que dá assinatura
internacional à Copacabana e famosíssima praia. Nunca a especulação
imobiliária, com o auxílio daqueles que deveriam defender a natureza e o
célebre entorno da faixa antes mais delgada, que constituía o cartão de visitas
da célebre Copacabana lograra tal deformação de o que era conjunto equilibrado
entre a pujante natureza e a ultrafamosa
paisagem urbana da chamada - e com justa razão, por sua integração com o
Atlântico - a Princezinha do Mar.
O
tal prédio-monstro - desconheço quem concebeu
tal projeto que deforma o entorno paisagístico de Copacabana - pode ser visto como a antítese irônica de
toda a oposição citadina que se dirigiu, nos anos cinquenta, e com justa razão,
contra edifício chamado Escorpião,
cujo projeto fora verberado por gregos e troianos como deformante de entorno paisagístico mais modesto e que defronta a
Igreja de Santa Terezinha ...
( a
continuar )
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