O New
York Times publica longo artigo de Roger
Cohen sobre "O desespero de nossos diplomatas".
Dado o transtorno que o Presidente Donald
Trump está provocando nas várias Secretarias, não surpreende decerto o
que esteja ocorrendo no Departamento de Estado. Como o seu último chefe foi Hillary Clinton, a primeira reação é a
de atribuir à implicância derivada de sua eventual relação conflitiva com a
candidata democrata.
Afinal, dentro da confusa lógica de Mr
Trump ali estava o reduto da rival que ele simpaticamente chama de "crooked Hillary"[2].
Decerto, a sua raiva aumenta porque, nos meandros da própria mente, essa versão
de Con Man (vigarista)[3]
que o multimilionário Trump tentou pespegar em Hillary não pegou no público
americano, malgrado os comoventes esforços do atual presidente nesse sentido...
Mas voltemos ao que hoje é - frise-se
que o título da reportagem é "o desespero de nossos diplomatas" - o State Department. Rex Tillerson é o sucessor de Hillary, mas ao contrário dela, o respectivo
conhecimento diplomático nesse nível é muito fragmentário e incipiente, apesar
de haver sido embaixador em Moscou, junto ao bom e grande amigo (de Trump)
Vladimir Putin. Tampouco parece que Tillerson esteja muito interessado em
manter contato maior com os chefes do Departamento...
Não
me surpreenderia se, na presente administração, com exceção do Departamento de
Defesa, que é chefiado por alguém com grande experiência (e dispõe do natural
apoio do Presidente, que não tem queda por diplomacia, e sim por secretarias
como a da Defesa, que a seu ver melhor refletem o poderio americano), os
eventuais despachos preferidos do presidente com os seus secretários tendam para
o tempestuoso, quando não para o enfado do Grande Chefe.
O caos que hoje prevalece no Departamento
de Estado não é decerto fruto do acaso. É decorrência de seu temperamento
belicoso, com laivos infanto-juvenis, eis que Trump não tem tempo a perder (perdoe-me o leitor a linguagem, mas intento
refletir o pensamento presidencial) com conversas fiadas e outras frescuras do
gênero.
Nos tempos que correm, é decerto
difícil encontrar alguém no quadro dos líderes mundiais menos predisposto às
visões intelectualizadas de uma diplomacia da realidade pragmática. Armado do
respectivo anti-intelectualismo militante, entende-se porque o seu
relacionamento com líderes articulados e com muitas idéias na cabeça seja
difícil. Para isso, a impressão da Chanceler Angela Merkel a seu respeito, com todo o seu passado de
experiência com líderes dos US, pode talvez servir de exemplo indicativo...
A propósito, porque Trump se entendeu
tão bem com Theresa May, a Primeiro Ministro de Sua Majestade, que pela própria
incompetência política o terá enternecido, a ponto de segurar-lhe a mãozinha?...
Já com Frau Merkel, alguém imagina Trump tendo uma relação, não digo terna, mas
cordial, tipo aceitar o cumprimento da Chanceler, que é a decana dos estadistas
do Ocidente?
Ouço a propósito a discordância de
que a reunião com Emmanuel Macron, o novel Presidente da França, correu a
contento. É verdade, mas como me parece bom demais para garantir que assim vá continuar, tenho para mim que, dados os
antecedentes, eu agiria no capítulo como o técnico de nossa equipe de volley-ball, em momento de tensão em match internacional : eu pediria tempo...
( Fontes: The New York Times, Rede Globo )
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