A Venezuela apresenta
um claro desafio e não só para a América Latina. Instalou-se em Caracas, depois
do desaparecimento de Hugo Chávez, como sucessor ideológico, o seu suposto
herdeiro, Nicolás Maduro, que se tem mostrado claramente incompetente, em gerir
o Estado sob qualquer paradigma, inclusive o chavista.
Há uma clara situação de descalabro no atual
regime venezuelano. Por deixar de atender ao mecanismo constitucional do recall, não cumprindo com a regra a que
Chávez a seu tempo cumprira e vencera, o presidente Maduro, para evitar que
fosse legalmente afastado do poder - não permitiu que o processo de coleta de
assinaturas fosse levado a termo, com o claro objetivo de evitar a realização
do recall, que, pela calamitosa
situação do país, levaria necessariamente à sua destituição.
Apesar de hipócrita promessa de em tudo
seguir o exemplo de Chávez, sob pretexto espúrio, Maduro cancelou o
procedimento, que certamente o afastaria do poder, para o bem da sociedade
venezuelana.
O governo chavista, sob Nicolás Maduro
atualmente preside à situação de inquietante calamidade pública. Diante de sua
comprovada inépcia administrativa, Maduro tem procurado responder ao desafio,
através de crescente radicalização, seja metaconstitucional, seja pela criação
de estado policial, em que prevaleça, em última análise, a vontade do Supremo
Lider.
À medida, no entanto, em que a
situação social se desagrega, por força da hiperinflação, da desenfreada crise
financeira, com a desvalorização do bolívar,
aumenta o desabastecimento pela falta de condições mínimas de estruturação do
mercado. Fatores paralelos que entram em ação provocam a paralisia econômica - por falta de condições mínimas de
funcionamento do sistema capitalista - com o consequente desabastecimento
generalizado, que costuma, em geral, atingir de forma mais forte às classes de
menor renda.
Por outro lado, cresce, além das
condições cataclísmicas acima referidas, a tendência de vestir pulsões
economico-financeiras (i.e., a incapacidade do Estado chavista de lidar com tal
desafio) com o suposto voluntarismo de forças econômicas, a que se atribuem
desígnios malévolos. Dentro da geral incompetência e do atraso desse Estado -
marcado pela má-gestão das forças econômicas e financeiras - se passa a
atribuir supostas 'culpas' de designados bodes expiatórios, ao que não passa de
má-gestão da economia e das finanças, com a concessão excessiva de subsídios e
de preços artificiais, a que as contas públicas não tem condições de sustentar.
A orientação do chavismo, seja sob
Hugo Chávez, seja sob seu sucessor (até que os fatores econômicos a
inviabilizaram) só poderia dar no que está dando, com o exagero dos subsídios
econômicos (que o Tesouro estatal paga enquanto tem recursos), que levará
necessariamente aos depósitos vazios nos entrepostos. Por outro lado, o desperdício das rendas do
produto essencial do Estado venezuelano - que hoje não passa de mono-cultura, a
do petróleo - já encetado no tempo da bonança por Hugo Chávez, subvencionando Cuba
e outros países como Nicarágua, e até novas organizações internacionais,
montadas para servir à vaidade do Caudillo, só poderia à la longue dar no que deu.
Apesar de toda a panóplia chavista,
o regime econômico da Venezuela não passa de monocultura, com base na cotação internacional do petróleo. Desdenhando - ou afugentando - o investimento
internacional, a situação petrolífera
por força de fatores que são exógenos à influência da pobre Venezuela, a
cotação internacional do barril do petróleo brent
despencou. Como as condições do próprio ente nacional de explotação do ouro
negro também decaíram, por causa da administração inepta do órgão estatal a que
incumbe todo o processo ligado à produção e à venda desse precioso bem, será
fácil de compreender que um misto de incompetência funcional, de falta de
adequação da produção e da velha
corrupção, terão sido fator
importantíssimo para a crescente falta de recursos do Tesouro venezuelano de
atender às necessidades do mercado, and
last but not least, de sua sociedade, que a ambição de Hugo Chávez,
assumindo uma penca de clientes onerosos, uma vez transmitida a seu inepto
sucessor - com o agravante da nova situação econômica-financeira ainda menos
favorável - produziu as condições negativas que se traduzem na hiper-inflação,
na insuficiência da oferta e por conseguinte da criação de condição calamitosa
de desabastecimento generalizado, hiperinflação e desmonetização generalizados.
As estantes vazias e a falta de
mercadorias é o resultado de moeda que já não tem poder de compra, pela sua
desvalorização, que tende necessariamente para zero. Os substitutos disso são o
mercado negro e o entesouramento, através do qual os agentes econômicos recusam
a moeda que perdeu na prática todo o valor, como é o caso do bolívar.
Não há nada mais simbólico no que
tange, seja aos planos mirabolantes de Hugo Chávez (acreditando poder bancar a
Cuba e a uma penca de outros países inadimplentes chavistas, como, v.g. a Nicarágua - até malas de dinheiro mandou
para a rica Argentina, então sob os peronistas de Cristina Kirchner, com vistas
a estipendiar campanha eleitoral).
Desaparecido o mercado que
favorecera o sobrepreço do petróleo - desperdiçado, na época, por Chávez em
busca de mirífica grandeza política - surge a presente situação. Pode-se
aplicar até fábula de Esopo para a inadimplência atual do regime de Maduro (a
cigarra e a formiga), mas talvez ela se aplicasse inclusive ao petismo.
Interessante, no caso, é a cegueira dos líderes desse tipo de regime. Lula,
por exemplo, continua achando que as demonstrações de 2013 foram um complô
sinistro de Tio Sam, quando, na verdade, a velha economia e finanças empurraram
os demonstrantes - a princípio, estudantes paulistas, e depois generalizou (o
fogo queima a planície quando a grama está seca pela improvidência ou maldades
de Papai do Céu). Que a gente brasileira continue em número preocupante em
aceitar tais teorias, isso depõe mais contra a deseducação e a ignorância
generalizada, do que da força de demagogos espertos, que se alimentam desta
credibilidade que a par disso acredita em lobisomem e mula sem cabeça...
Sobre o facismo pretendia escrever,
mas, como se vê, demagogos como Mussolini não surgem por acaso. Por isso, da triste parecença entre chavismo
e fascismo, deixo para cuidar em nova oportunidade...
(as
fontes são muitas, aprendidas a seu tempo, pelo escriba)
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