domingo, 23 de julho de 2017

Crise só da PDVSA ?

                                 

       O ente petrolífero da Venezuela enfrenta profunda crise que, em realidade, é dupla. De um lado, se tem o sucateamento da maquinária de produção da estatal, que resulta de anos de negligência e de corrupção.
        Como a Venezuela constitui, na verdade, uma monocultura, dependendo de forma exclusiva da extração do petróleo para atender às respectivas necessidades em termos de fundos para as suas importações, e como nos anos de fartura agiram, sob Chávez, como verdadeiras cigarras quanto às previsões de fundos para o futuro, não há de surpreender o sucateamento do material de produção do ouro negro.
        A circunstância de dispor de petróleo de boa qualidade  é mais do que compensada ao revés pela carência de investimentos em material pesado, com a consequente inelutável diminuição na capacidade de produção, por força do envelhecimento dos equipamentos básicos.
         A monocultura, que determina a crescente ultra-dependência do ouro negro, terá funcionado  a contento - na verdade, a demasiado contento - no tempo das vacas gordas, i.e. quando das altas cotações do barril de petróleo, e do câmbio favorável. A total falta de previsão e o munificente emprego dos produtos financeiros do principal produto de renda do país teve consequências ruinosas. pelo esbanjamento das riquezas da Venezuela (que se ressentiam de uma só base fiável). O caudillo Chávez entrou em uma política distributiva internacional, com a venda de petróleo a Cuba, entre outros, a preços concessivos. Por outro lado, a política internacional de Chávez passou a ser alimentada com subvenções a diversos países, que integraram uma esfera chavista de poder (Equador, Nicarágua, Bolívia) com uma entidade internacional que visava congregar esses países que Chávez se propunha subvencionar com as sobras da produção petrolífera. Na própria Argentina dos Kirchner, há episódio bastante indicativo: a mala de dinheiro aí descoberta, e que era um "regalo" de Hugo Chávez, cuja destinação era "política".  Naquele tempo, também o Paraguai com o padre Lugo havia entrado na área chavista.
        Não surpreende, portanto, que depois da morte de Chávez, o já inepto governo de Nicolás Maduro tenha sido forçado pela crise na cotação do petróleo, causada por fatores externos à Venezuela, a abandonar precipitosamente a "política" concessiva sub Chávez.
         Hoje, a Venezuela é um país com a sua infraestrutura em grande parte destruída por um fator "misterioso" que é a completa falta de competência e de tino administrativo do regime Maduro. Nesse sentido, a crise que já vinha do tempo de Chávez só cresceu em tamanho. Além do aparente total despreparo da liderança de Maduro - um ex-caminhoneiro, bronco e sem outra 'qualidade' do que a de um gangster de manter a própria quadrilha, seja por recursos pouco usuais em economias estatais, seja pela 'política' de manter a vela de libra a alta esfera das Forças Armadas.
        Com a deterioração dos termos de intercâmbio, e a queda na produção, decorrente da falta de insumos e de reparações ao seu devido tempo, a miséria no campo e na cidade se estende ao "parque industrial".
       Coluna do Estado de S. Paulo assinala que nas Forças Armadas da Venezuela -133 mil homens e mulheres - cerca de um terço não concordaria com as medidas radicais do governo chavista. Tais supostas dissidências têm diversos formatos, e elas não seriam compartilhadas pelos Altos Mandos Militares. Pelo menos, é o que assevera o Ministro da Defesa,  o general Vladimir Padrino López. Segundo ele, o alto-oficialato é "disciplinado  e fiel às ordens do chefe supremo". Esse tipo de declaração vale pelo tempo em que é sustentável.
         As preocupações dos vizinhos sul-americanos são de vária ordem: com a larga fronteira com a Colômbia, é natural que esta, livre da febre aftosa desde 2009, tenha bem guardada a extensa linha fronteiriça, no intento de resguardá-la de um desastroso contágio com a desordem sanitária venezuelana.
          Em Brasília, a preocupação do Ministério das Relações Exteriores é com os 32 mil brasileiros que residem na Venezuela.
         Por sua vez, um choque armado interno teria graves consequências. Desde 2002, data do golpe contra Chávez, começa processo de esvaziamento da presença da classe média entre a oficialidade. A consequente popularização  traz perda de qualidade e de capacidade. A aeronáutica tem enormes dificuldades com a formação de seus pilotos militares. Há muito material militar em termos de armamentos distribuído por todo o território da Venezuela. Há dúvidas quanto a eventual utilização desse profuso equipamento, que parece corresponder à tática do "divide et impera". Dada a penúria que caíu sobre todo o país, a hiper-inflação (e a consequente desvalorização da poupança e até do investimento), a carência de insumos que é outra consequência da crise geral na economia - falta quase tudo nesse país, a partir dos alimentos básicos e dos medicamentos mais comezinhos.
         Qual é a saída proposta por Maduro. Além de mais do mesmo arrocho, a chamada Nova Constituinte, que não será eleita pelo critério universal, mas sim por uma escolha do público simpatizante, dos chamados "coletivos" (grupos para-criminosos que visam a intimidar pelas armas o povo venezuelano) e dos ditos bastiões do chavismo - como se vê  mistura explosiva, um verdadeiro chutaço para a frente, que pensa resolver radicalizando o país. Como?, hão perguntar. Talvez com o inevitável e inelutável "calote" que marcará, por um processo regido pela insanável incompetência do regime Maduro e a dura realidade econômico-financeira, com a consequente entrada da Venezuela para o rol dos países fracassados.
          Teremos então na América do Sul uma nova Somália, só que vizinha do Caribe, e com larga fronteira verde-amarela. E como sói acontecer nos estados ditos fracassados, terrorismo e miséria. Será que a Senadora Gleisi Hoffmann irá visitar essa nova Venezuela?

( Fonte:  O Estado de S. Paulo )





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