A que atribuir a
preferência do candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, Donald
Trump, por gospodin Vladimir Putin, o
Presidente de todas as Rússias?
Ela não é decerto baseada na
confiança de anteriores presidentes americanos nesse personagem, que ascenderia
ao poder através de favores de elementos com prestígio no círculo de Boris
Ieltsin, cujas condições declinantes de saúde terão motivado o interesse de
oligarcas de trazê-lo à ribalta, pensando poder influenciá-lo e, ao mesmo
tempo, contra-arrestar a crescente impopularidade de Ieltsin, e a possibilidade
consequente de que aparecesse alguém que lhes contrariasse os interesses.
Boris Berezovsky e outros viram, por
conseguinte, nesse antigo politíco de Leningrado, também ligado a Anatoly Sobchak, chefe do
conselho da antiga St. Petersburgo, como a possível salvação do círculo de
Boris Ieltsin. Pensaram escolher o homem
certo para assumir a presidência.
O assunto foi suficientemente
aclarado no livro de Masha Gessen, a corajosa escritora russo-americana. Como
sempre, nessas circunstâncias, o tiro saíu pela culatra. Os oligarcas de
Ieltsin acertaram na pessoa, mas erraram na sua avaliação, enquanto pensavam
dela servir-se.
E quem pagou o pato foram os pobres russos,
eis que elegeram alguém da família do KGB (hoje FSB), com toda a carga
autoritária dessa grei.
O mais engraçado nessa estória de
Donald Trump julgar-se amigo de Vladimir V. Putin, é que, mutatis mutandis, repete o erro de
George W. Bush, que a princípio fazia os russos rirem quando dizia que confiava
em Putin, pelo que via nos seus olhos...
Depois, Bush teria os seus
problemas com o russo, sobretudo pela questão da Geórgia. Putin - que se desgastara bastante nessa
questão - deu o golpe de mestre de trazer o alter-ego Dmitriy Medvedev para
assumir a presidência, enquanto ficou no segundo plano, como Primeiro Ministro.
Passados quatro anos, Putin
reassumiu a presidência, como o estudante inglês, com a ficha restabelecida
depois da rustication (uma espécie de afastamento para aqueles com notas
ruins).
Dados os problemas atuais da
relação entre Barack Obama e Vladimir Putin, a acenada amizade de Trump com o
autocrata russo teria tanta possibilidade de florescer quanto as anteriores. Contudo,
como o eleitor americano - e louve-se a sua sabedoria - parece inclinado a
eleger a primeira mulher Presidente para os Estados Unidos, não é provável que
o presidente russo vá ter o seu fantoche americano...
(Fontes: Masha Gessen, O Homem
sem Face; Karen Dawisha, A Cleptocracia
de Putin; The New York Times )
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