sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Trump & Putin

                              

          A que atribuir a preferência do candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, por gospodin Vladimir Putin, o Presidente de todas as Rússias?
         
         Ela não é decerto baseada na confiança de anteriores presidentes americanos nesse personagem, que ascenderia ao poder através de favores de elementos com prestígio no círculo de Boris Ieltsin, cujas condições declinantes de saúde terão motivado o interesse de oligarcas de trazê-lo à ribalta, pensando poder influenciá-lo e, ao mesmo tempo, contra-arrestar a crescente impopularidade de Ieltsin, e a possibilidade consequente de que aparecesse alguém que lhes contrariasse os interesses.
      
        Boris Berezovsky e outros viram, por conseguinte, nesse antigo politíco de Leningrado,  também ligado a Anatoly Sobchak, chefe do conselho da antiga St. Petersburgo, como a possível salvação do círculo de Boris Ieltsin.  Pensaram escolher o homem certo para assumir a presidência.
        O assunto foi suficientemente aclarado no livro de Masha Gessen, a corajosa escritora russo-americana. Como sempre, nessas circunstâncias, o tiro saíu pela culatra. Os oligarcas de Ieltsin acertaram na pessoa, mas erraram na sua avaliação, enquanto pensavam dela servir-se.
           E quem pagou o pato foram os pobres russos, eis que elegeram alguém da família do KGB (hoje FSB), com toda a carga autoritária dessa grei.

           O mais engraçado nessa estória de Donald Trump julgar-se amigo de Vladimir V. Putin, é  que, mutatis mutandis, repete o erro de George W. Bush, que a princípio fazia os russos rirem quando dizia que confiava em Putin, pelo que via nos seus olhos...
             Depois, Bush teria os seus problemas com o russo, sobretudo pela questão da Geórgia.  Putin - que se desgastara bastante nessa questão - deu o golpe de mestre de trazer o alter-ego Dmitriy Medvedev para assumir a presidência, enquanto ficou no segundo plano, como Primeiro Ministro.
  
           Passados quatro anos, Putin reassumiu a presidência, como o estudante inglês, com a ficha restabelecida depois da rustication (uma espécie de afastamento para aqueles com notas ruins).
          Dados os problemas atuais da relação entre Barack Obama e Vladimir Putin, a acenada amizade de Trump com o autocrata russo teria tanta possibilidade de florescer quanto as anteriores. Contudo, como o eleitor americano - e louve-se a sua sabedoria - parece inclinado a eleger a primeira mulher Presidente para os Estados Unidos, não é provável que o presidente russo vá ter o seu fantoche americano...



(Fontes: Masha Gessen, O Homem sem Face; Karen Dawisha, A Cleptocracia de Putin; The New York Times )

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