sábado, 8 de outubro de 2016

Hillary e a Imprensa

                                   

        Entender a oposição a Hillary Clinton de boa  parte  dos mais famosos expoentes da imprensa estadunidense, pode ser tarefa difícil, senão impossível.
        Embora se logre ao final colher uma impressão de envergonhado apoio à candidata democrata, o leitor que se der ao trabalho de separar o joio do trigo, em meio às infindas observações negativas sobre esta primeira real candidata mulher à presidência dos Estados Unidos, ficará sempre com uma pulga de dúvida sobre se realmente deva sufragar esse personagem, a quem se associa, seja por indiretas, seja por artilharia pulverizada, tantos defeitos, a mor parte deles sob o véu das insinuações.
        Se Hillary é assim tão dúplice e tão arisca, com tantas coisas a esconder sob o manto de longa carreira política, a quem no entender desses amigos a que se preferiria fossem inimigos, devam ser ponderadas ao adentrar o eleitor americano no recinto da votação.
        Fico a perguntar quando leio por exemplo um longo artigo na The New York Review se aquele que a descreve de forma tão pouco atraente, sob o aspecto ético, ainda que cotejada com o ferrabrás de Donald Trump, de quem quase que se diz tudo de negativo, em termos políticos e presidenciais, a quem persegue esse articulista, se a cada indicação positiva de Hillary, mesmo partindo de alguém de outro partido, ele trata, como se banderillero fosse, de pespegar-lhe no corpo e nas propostas da candidata, variegada série de banderilhas, que luzem multicolores, a um tempo, indicando um favor tão estranho quanto intrinsecamente contraditório, no que tange à candidata, a que rápido se pespega igualmente a  dor   de rememoradas lembranças quanto as incompreensíveis atitudes que, como todo ator em tourada que se preze, mesmo desimportante e dispensável, não resiste a cumprir a respectiva função de  macerar e, quem sabe, enfraquecer esse grande personagem da tourada americana.
         Hillary chega ao palco derradeiro da eleição levando no corpo essas marcas de um ódio-amor de boa parte dos expoentes da grande imprensa. Em qualquer outro lugar do planeta, não haveria dúvida em  apontar para  quem é de longe a melhor candidata.  No entanto, esse exercício muita vez se torna quase impossível de decifrar, tal o número de críticas, em geral vestidas pelos tecidos da imprecisão e de o que se diz em não dizendo.
        Se um estranho chegasse, vindo de plagas distantes, e se perguntasse porque a imprensa se afana tanto em desmerecê-la, diante da penosa alternativa apresentada pelo outro candidato, que até  chegou a sugerir a possibilidade de alguns patriotas, defensores do direito a armar-se dado pela Velha Constituição, fazer justiça com as próprias mãos, caberia perguntar que eleição é esta em que um candidato, saído não se sabe de onde, pode dizer e quase fazer tudo que lhe vem à cabeça, enquanto os críticos e os grandes jornalistas ponderam sobre a suposta falta de credibilidade da candidata-mulher, de quem relembram a cada passo, os supostos múltiplos deslizes, nenhum dos quais chega perto das enormidades do porta-voz da direita republicana.




( Fonte: The New York Review of Books )

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