Entender a oposição a Hillary Clinton
de boa parte dos mais famosos expoentes da imprensa
estadunidense, pode ser tarefa difícil, senão impossível.
Embora se logre ao final colher uma
impressão de envergonhado apoio à candidata democrata, o leitor que se der ao
trabalho de separar o joio do trigo, em meio às infindas observações negativas
sobre esta primeira real candidata mulher à presidência dos Estados Unidos,
ficará sempre com uma pulga de dúvida sobre se realmente deva sufragar esse personagem,
a quem se associa, seja por indiretas, seja por artilharia pulverizada, tantos
defeitos, a mor parte deles sob o véu das insinuações.
Se Hillary é assim tão dúplice e tão
arisca, com tantas coisas a esconder sob o manto de longa carreira política, a
quem no entender desses amigos a que se preferiria fossem inimigos, devam ser
ponderadas ao adentrar o eleitor americano no recinto da votação.
Fico a perguntar quando leio por
exemplo um longo artigo na The New York Review se aquele que a descreve de
forma tão pouco atraente, sob o aspecto ético, ainda que cotejada com o
ferrabrás de Donald Trump, de quem quase que se diz tudo de negativo, em termos
políticos e presidenciais, a quem persegue esse articulista, se a cada
indicação positiva de Hillary, mesmo partindo de alguém de outro partido, ele
trata, como se banderillero fosse, de
pespegar-lhe no corpo e nas propostas da candidata, variegada série de
banderilhas, que luzem multicolores, a um tempo, indicando um favor tão
estranho quanto intrinsecamente contraditório, no que tange à candidata, a que
rápido se pespega igualmente a dor de rememoradas
lembranças quanto as incompreensíveis atitudes que, como todo ator em tourada
que se preze, mesmo desimportante e dispensável, não resiste a cumprir a
respectiva função de macerar e, quem
sabe, enfraquecer esse grande personagem da tourada americana.
Hillary chega ao palco derradeiro da
eleição levando no corpo essas marcas de um ódio-amor de boa parte dos
expoentes da grande imprensa. Em qualquer outro lugar do planeta, não haveria
dúvida em apontar para quem é de longe a melhor candidata. No entanto, esse exercício muita vez se torna
quase impossível de decifrar, tal o número de críticas, em geral vestidas pelos
tecidos da imprecisão e de o que se diz em não dizendo.
Se um estranho chegasse, vindo de
plagas distantes, e se perguntasse porque a imprensa se afana tanto em
desmerecê-la, diante da penosa alternativa apresentada pelo outro candidato,
que até chegou a sugerir a possibilidade
de alguns patriotas, defensores do direito a armar-se dado pela Velha
Constituição, fazer justiça com as próprias mãos, caberia perguntar que eleição
é esta em que um candidato, saído não se sabe de onde, pode dizer e quase fazer
tudo que lhe vem à cabeça, enquanto os críticos e os grandes jornalistas
ponderam sobre a suposta falta de credibilidade da candidata-mulher, de quem
relembram a cada passo, os supostos múltiplos deslizes, nenhum dos quais chega
perto das enormidades do porta-voz da direita republicana.
( Fonte: The New York
Review of Books )
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