Donald Trump, a cada dia que passa, vê
diminuirem as suas perspectivas de vitória nas urnas. Não são apenas os
escândalos que se repetem, como o da fita em que fala livremente de abusar das
mulheres.
Um a um ele vai perdendo os debates
com Hillary Clinton, e apesar da violência verbal, que também cresce a cada dia -
lembram-se de sua tão pouco americana, mas ao mesmo tempo tão consoante com o
próprio temperamento, como a promessa de mandar prender Hillary logo depois que
ele ganhe as eleições?... Há algum resquício de tradição americana nisso? Mesmo
que a resposta seja um ressonante não,
tem-se acaso dúvida que é por essa vereda que o nominee do GOP pretenda entrar?
A ignorância constitucional pode aí
existir, mas é apenas um remanescente. O que está realmente presente é o
espírito da suposta supremacia branca, que pensa abocanhar com a vitória o
poder, não de um presidente constitucional, mas de tiranete que manda
trancafiar na cadeia a adversária que
ousara não só enfrentá-lo nos debates, mas também ameaçara ganhar as eleições?
Recordei o outro dia o episódio lamentável de que o partidário de Putin na
eleição ucraniana, Viktor Yakunovych,
arranjou um juizeco para prender a sua adversária nas urnas, a corajosa Yulia Timoshenko, que ficou presa enquanto a revolução de Maidan
não acabasse por determinar a queda do fantoche de Vladimir Putin?
É esta a regra nas terras próximas
ao império russo. Não é, portanto, por
acaso que o magnata hoteleiro fale tanto do seu amigo do peito, Vladimir V.
Putin. Antes se estranhara por que
diabos um líder americano possa dizer maravilhas de gospodin Putin, o condestável de uma Rússia cuja dependência do petróleo
cujo preço caia, por conta da rixa entre os grandes forças do ouro negro
(Arábia Saudita à frente) venha a limitar-lhe o poder e as ambições de calçar
as botas da antiga URSS.
Esse erro de avaliação provinha de
um engano. Trump não é um partidário da liberdade e da democracia. Assim como o
seu amigote, Donald quer o poder.
Não é de estranhar, portanto, as
suas insinuações no que concerne às eleições. Teme-se que lhe passe pela cabeça
valer-se de seus partidários na missão de em certas áreas agirem como espécie
de delegados do antigo oeste para barrar as minorias de se valerem do próprio
sagrado direito constitucional do voto.
Como vê as coisas mal-paradas
para o seu lado, parte para a chamada ignorância, com a sinistra intenção de
valer-se dos velhos truques dos ditos supremacistas brancos. A liberdade, com
gente de tais intenções, vai exigir muito trabalho e determinação de quem tem a
Lei e a Constituição do seu lado, e não pode, portanto, ter coarctado o próprio
direito de votar.
Por outro lado, Trump após as
mal-veladas insinuações de golpes de mão e até mesmo atentado à sua concorrente
direta - o que seja dito de paso
não deveria ter sido jogado na lata de lixo do dia-a-dia, como se fora coisa de
pouca monta, bazófia de fanfarrão - agora, com o ódio acrescido diante da
derrota que dele se acerca - só a chama de crooked
Hillary (a delinquente Hillary).
É triste característica do GOP valer-se de truques legais para
através da intimidação, de falsas regras e até mesmo pela lei do cansaço -
forçar longas filas nas seções de voto das minorias que apóiam - e com boa
razão - os democratas - como atualmente na Flórida, em Ohio e outros paraísos
da chamada fraude legal.
Não se pode permitir que o candidato
Trump, esse Mussolini que pensa vencer na marra, o que não logre arrebatar pela
força das idéias, tente criar um clima de medo e intimidação, para combater a
grande maioria que sufraga a candidata pelos direitos dos afro-americanos, dos
latinos e dos demais americanos que querem a genuína democracia preservada e
fortalecida.
Há no Partido Republicano um
grande pavor. Que o candidato Trump venha a ser o campeão da democracia, mas às
avessas. Afastando os eleitores - e em massa - de sufragar os candidatos do GOP - porque associados com esse suposto
homem forte bem no estilo do amigote Putin - surge perigo que seria a maior dádiva à democracia que imaginar-se
possa.
Seria ver os democratas
vencendo por toda a parte, e, em especial, pondo abaixo os andaimes do gerrymander que desde 2012 têm
sustentado o monopólio do GOP no que tange ao controle da Câmara de
Representantes.
Esse presente de Donald Trump traria aos Estados Unidos a oportunidade
rara de ver-se livre do achincalhe à democracia que é o gerrymander que assegura,
contra a vontade da Nação, a maioria republicana na Câmara de Representantes.
Se a avalanche (landslide) causada pelo candidato do GOP fôr a tal ponto na sua irônica
inversão do falso domínio da direita na Câmara de Representantes, que maior
símbolo de vitória contra esse personagem senão a volta de Nancy Pelosi à
presidência dessa Câmara. É um sonho?
Sim!
Mas é um sonho real, que pode transformar-se em pesadelo para os
republicanos, afinal castigados, e não pelos juízes - que deveriam intervir
mandando restabelecer as circunscrições eleitorais, não aquelas fraudadas, que
enfraquecem o voto democrata e, através de uma proliferação de pequenas
circunscrições dirigidas para favorecer o voto republicano, têm permitido que
esse abuso tenha durado por toda a presidência de Obama, com exceção de seus
dois primeiros anos...
Vencer o gerrymander pelo voto é missão difícil,
quase impossível, mas o que é que a luta contra a injustiça não alcançar possa? Os burgos podres na antiga
Inglaterra também desapareceram, enxotados pelo voto !
Se Trump, pelos seus excessos, for o agente que - mesmo contra a
vontade - acionar tais forças do bem, a eleição deste ano da graça de 2016
poderá reservar-nos a inaudita, quase impossível derrubada de poder carcomido
pela injustiça que está na sua base, e quem poderá não dizer que, mesmo à sua
revelia, Donald Trump será o homem que,
mesmo sem querer, tornou possível esta maravilhosa aventura da democracia ?
(Fonte: artigo de Elizabeth Drew:
"American Democracy Betrayed"(a Traída Democracia Americana), em The
New York Review (16 de agosto 2016).
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