sábado, 15 de outubro de 2016

O Claro Enigma Donald Trump

                                  

        A misoginia em Trump, embora confirmada em pluralidade de episódios, não produziu os efeitos penais que acontecem com outros mortais.

       Várias mulheres - o que requer coragem - têm aparecido na mídia para denunciar episódios comprometedores.

       Até o momento, o episódio mais tráumatico foi o famosa fita, em que ele se jacta de acariciar y otras cositas más de várias mulheres. O cinismo e a forma explícita a que recorreu provocou onda maior do que as habituais, e nesse sentido a reação foi tal que ele apelou - e apelou feio - em desenterrar os escândalos de Bill Clinton na sua presidência (até o momento, Monica Lewinsky não apareceu).

          O mais estranho nisso tudo é que a chantagem funcionou, trazendo para St. Louis o velho armário de um outro escândalo, que não tinha nada a ver com as suas declarações, salvo uma espécie de conta de compensação que funcionou assim: sim, tudo o que disse na  fita, eu confirmo. Contudo, não se esqueçam que outro escândalo, relativo a Bill Clinton, casado com crooked (delinquente) Hillary, que vem a ser a minha  adversária, está presente na sala ao lado, com várias das mulheres que dele participaram.

            Como tudo em Donald, apesar de escrachado, primário e cínico, esse truque funcionou. Em termos de tópicos em debate, ele nada tinha a ver. Não obstante, o seu cínico primarismo, o escopo do candidato do GOP foi alcançado. Embora nada acrescentasse em defesa do republicano, o fato de desenterrar um escândalo que nunca foi de Hillary, mas foi de seu marido bastou    para que a chantagem funcionasse.

             O que é importante nesse lance é a circunstância de ser vintage Trump. Com uma mistura de cinismo e de confrontação descarada, o candidato aparentemente controla os danos e logra um armistício precário, que, sem embargo, funciona durante o debate. E era isso que Trump queria.

                 Como dizia um velho chefe meu, é hora de apertar cintos, porque aí vem turbulência!
   
               E este talvez seja o grande erro de quem deseja compor-se com o candidato do GOP.
  
             A sua acusadora - no caso, Hillary - tem de enfrentá-lo, sem concessões. A linguagem que a candidata democrata deve utilizar é a da firmeza, dentro da Lei. Não pactuar de nenhuma forma com seus truques. A lei dispõe dos meios necessários para calar Trump. Nada lhe agradaria mais se a candidata democrata - e aqui o duplo sentido é bem-vindo - caísse na sua  trampa e lhe imitasse, de algum modo o comportamento.

                   Com efeito, no que tange a escrúpulos, ele  recorda dois personagens de que a Segunda Guerra Mundial deu cabo. Ambos arrogantes, seguros de si, frios, transmitindo segurança e aura de invencibilidade. Por falar nisso, um grande amigo de Trump,  que também se acredita com grandes perspectivas de poder, igualmente age da mesma forma. Para tratar com esse tipo de gente, boas maneiras e cortesia não funcionam...

                   Mas a candidata Hillary não deve cair na trampa de imitá-lo à la lettre.

                   Sem embargo, há uma grande distância entre enfrentar Donald Trump, com linguagem firme, sempre ancorada na Lei, ou descambar para outro tipo de linguagem, linguagem essa que faria Hillary Clinton ficar no mesmo nível de Trump. Não é esta a maneira de enfrentá-lo.

                    O caminho das pedras é o da linguagem firme, sem composição nem concessões. Talvez isto já lhe seja suficiente. De qualquer forma, dissiparia as névoas  da fraqueza.  

                    Por ora, o poder de Donald Trump ainda é limitado. Para que ele fique assim, se possível bem comportado, a linguagem e maneira a ser empregada não podem conhecer nem sombra de composição.



( Fonte: The New York Times )            

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