A misoginia em Trump, embora confirmada em
pluralidade de episódios, não produziu os efeitos penais que acontecem com
outros mortais.
Várias mulheres
- o que requer coragem - têm aparecido na mídia para denunciar episódios
comprometedores.
Até o
momento, o episódio mais tráumatico foi o famosa fita, em que ele se jacta de
acariciar y otras cositas más de várias mulheres. O cinismo e a forma explícita a
que recorreu provocou onda maior do que as habituais, e nesse sentido a reação
foi tal que ele apelou - e apelou feio - em desenterrar os escândalos de Bill
Clinton na sua presidência (até o momento, Monica Lewinsky não apareceu).
O mais
estranho nisso tudo é que a chantagem funcionou, trazendo para St. Louis o
velho armário de um outro escândalo, que não tinha nada a ver com as suas
declarações, salvo uma espécie de conta de compensação que funcionou assim:
sim, tudo o que disse na fita, eu
confirmo. Contudo, não se esqueçam que outro escândalo, relativo a Bill
Clinton, casado com crooked (delinquente) Hillary, que vem a ser a minha adversária, está presente na sala ao lado, com
várias das mulheres que dele participaram.
Como tudo
em Donald, apesar de escrachado, primário e cínico, esse truque funcionou. Em
termos de tópicos em debate, ele nada tinha a ver. Não obstante, o seu cínico
primarismo, o escopo do candidato do GOP foi alcançado. Embora nada
acrescentasse em defesa do republicano, o fato de desenterrar um escândalo que
nunca foi de Hillary, mas foi de seu marido bastou para que a chantagem funcionasse.
O que é
importante nesse lance é a circunstância de ser vintage Trump. Com uma mistura
de cinismo e de confrontação descarada, o candidato aparentemente controla os
danos e logra um armistício precário, que, sem embargo, funciona durante o
debate. E era isso que Trump queria.
Como
dizia um velho chefe meu, é hora de apertar cintos, porque aí vem turbulência!
E
este talvez seja o grande erro de quem deseja compor-se com o candidato do GOP.
A
sua acusadora - no caso, Hillary - tem de enfrentá-lo, sem concessões. A
linguagem que a candidata democrata deve utilizar é a da firmeza, dentro da
Lei. Não pactuar de nenhuma forma com seus truques. A lei dispõe dos meios
necessários para calar Trump. Nada lhe agradaria mais se a candidata democrata
- e aqui o duplo sentido é bem-vindo - caísse na sua trampa e lhe imitasse, de algum modo o
comportamento.
Com
efeito, no que tange a escrúpulos, ele recorda dois personagens de que a Segunda
Guerra Mundial deu cabo. Ambos arrogantes, seguros de si, frios, transmitindo
segurança e aura de invencibilidade. Por falar nisso, um grande amigo de
Trump, que também se acredita com
grandes perspectivas de poder, igualmente age da mesma forma. Para tratar com
esse tipo de gente, boas maneiras e cortesia não funcionam...
Mas
a candidata Hillary não deve cair na trampa de imitá-lo à la lettre.
Sem
embargo, há uma grande distância entre enfrentar Donald Trump, com linguagem
firme, sempre ancorada na Lei, ou descambar para outro tipo de linguagem,
linguagem essa que faria Hillary Clinton ficar no mesmo nível de Trump. Não é esta
a maneira de enfrentá-lo.
O
caminho das pedras é o da linguagem firme, sem composição nem concessões.
Talvez isto já lhe seja suficiente. De qualquer forma, dissiparia as névoas da fraqueza.
Por ora, o poder de Donald Trump ainda é limitado. Para que ele fique
assim, se possível bem comportado, a linguagem e maneira a ser empregada não
podem conhecer nem sombra de composição.
( Fonte: The
New York Times )
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