Será cedo para fazer juízos de
valor, no que tange à candidatura Trump? Talvez, porque a contribuição do nominee republicano para a qualidade
desse pleito ainda é relativamente imprevisível.
Se é
igualmente imprevisível por ora a qualidade da resposta do eleitorado e dos
principais atores nessa eleição presidencial, pode-se partir de algumas
premissas para julgamentos futuros.
Há na história
política americana, pelo menos no corrente
século e no anterior, algo que se possa comparar com o padrão Trump?
Penso que não
haveria objeção maior a afirmar-se que não há nada na história política
americana nesse nível, seja contemporânea, seja em passado relativamente
mediato, que se lhe possa comparar.
No entanto, se
subsistem ainda possíveis dúvidas quanto a divergências nas potenciais
consequências do fator Trump, não creio que haveria muita discordância no que
tange ao crescente negativismo da contribuição da candidatura Donald Trump para a história política
americana.
Não é só a maneira e o eventual conteúdo de sua
mensagem que podem ter impacto negativo. Talvez ora se possa entender melhor
porque Trump tem admiração por Vladimir Putin, e acha possível, e
mesmo natural que se estabeleça relacionamento
amistoso entre os dois países, se os Estados Unidos tiver um presidente Trump.
Nesse contexto,
não surpreenderá tampouco que Trump possa visualizar a sua antagonista Hillary
na cadeia, se ele vencer a eleição. E, sem embargo, não há nada de mais
antiamericano e antidemocrático do que essa ilação. Ela nos ajuda, de resto, a
entender porque na Rússia e em outras democracias autoritárias a consequência
do candidato eventualmente perdedor
acabar na cadeia não constitui nada fora do normal, dentro desses
regimes autocráticos.
Mas o fator
Trump pode ter consequências positivas para a democracia americana. O recente
artigo de Elizabeth Drew em The New York Review[1],
e de que me ocupei no blog, sobre a
influência do gerrymander no sistema
político estadunidense, como se vê no domínio do GOP sobre a Câmara de Representantes - em consequência do shellacking de 2010, a que se sucedeu a adequação feita
pelas instâncias do Partido Republicano para as eleições bienais seguintes
nessa Câmara, como descritas no citado artigo da respeitável politóloga
americana - talvez a próxima eleição geral ofereça uma oportunidade ímpar para
que o arrendamento da Câmara baixa pelo GOP possa desaparecer, ou então surjam
condições para que tal anomalia política seja varrida do mapa.
A
possibilidade é concreta, como atesta o nervosismo do Tea Party e das alas mais à direita do GOP, com a postura do Speaker Ryan da Câmara, de oposição ao nominee dos republicanos, o que é visto
com quase pavor pelos deputados mais à direita, que temem uma avalanche
democrata em reação à candidatura Trump.
Deve-se
admitir que essa possibilidade representaria uma senhora dádiva do candidato
Trump à democracia americana. Estou plenamente consciente de que nada está mais
longe de Donald Trump que advogar a possibilidade de que por um autêntico fluke[2]
surja a oportunidade de limpar as cavalariças de Augeas, como uma consequência
ainda que indesejada pelo candidato do GOP.
Sabe-se
que o gerrymander feito pelo GOP criou
condições quase perfeitas para que esse monstrengo antidemocrático venha
permanecendo desde 2010/12 na prática.
Só um landslide
potencializaria a volta dos democratas à maioria na Câmara de Representantes.
No recente segundo debate tivemos a oportunidade de apreciar, uma vez mais, a
lucidez do raciocínio da deputada Nancy Pelosi.
Seria um grande prazer vê-la de volta com o gavel[3]
de Madam Speaker, mas o prazer será maior ainda se esta mancha
na democracia americana puder ser expungida.
Porque o que interessa ao eleitor não é que
este ou aquele partido ganhe a maioria na Câmara, mas sim que o jogo eleitoral
seja honesto e não-trucado, para que este órgão possa refletir não as
artimanhas do gerrymander, mas a
vontade da Nação.
Existe, por outro lado, um grande temor nos
republicanos que um eventual landslide da
candidata democrata Hillary Clinton, devido sobretudo à crise desproporcional
na candidatura Donald Trump, possa desequilibrar as representações federais, em
especial nas assembléias.
Não é por
acaso que a Constituição americana é a decana das Leis Magnas. A habilidade do
constituinte do século XVIII, com as emendas pontuais dos séculos subsequentes,
permitiram que esse documento persista válido e atual.
De certo, os efeitos políticos e
sociais da candidatura Trump não se restringem aos referidos acima. Mas de
qualquer forma, mesmo o surgimento do candidato imprevisto, de um homo novus pode trazer alguns resultados
positivos, ainda que em segmentos parciais, por mais negativo que seja à
primeira vista o conjunto do aporte de
Mr Donald Trump às eleições gerais da terça-feira, oito de novembro de 2016.
( Fontes:
The New York Review, The New York Times )
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