sábado, 8 de outubro de 2016

Crise Terminal na Venezuela?

                                  

       Nicolas Maduro, apesar das manifestações gigantescas da Oposição, tem desconhecido a voz das multidões, a situação catastrófica do país, e se negado por vezes repetidas a autorizar o referendo revocatório. Não bastaram para ele as concentrações multitudinárias que se realizaram nessas últimas semanas.
       Ao invés de curvar-se diante da saída constitucional do Referendo, Maduro vem dolosamente criando condições para negar, na prática, tal possibilidade que é prevista pela Constituição da Venezuela.
       De forma bastante significativa, a atitude de Nicolas Maduro difere da tomada por seu antecessor e criador, o presidente Hugo Chávez, que não fugiu do referendo revocatório, proposto pela Oposição. Chávez enfrentaria e venceria o referendo.
      Maduro, pela sua marcante mediocridade e incapacidade administrativa, é o principal responsável pelo atual desgoverno na Venezuela.  Dadas as suas características, não surpreende, por conseguinte, que haja determinado ao ente estatal encarregado de realização do referendo, de recorrer à procrastinação e, mesmo, à fraude declarada quanto a sua suposta incapacidade de realizar essa inovação - introduzida por Hugo Chávez na Constituição venezuelana - e que possibilita o norte-americano recurso ao recall, diante de administração que acumule altos percentuais de discordância, como é exatamente o caso do atual governo do incompetente Nicolás Maduro.
       A situação que atravessa a Venezuela foi criada pelos sucessivos governos chavistas. No tempo das vacas gordas, com o petróleo Brent bem cotado no mercado internacional, acudiu a Chávez a brilhante idéia de transformar o que pensava fossem ganhos permanentes em instrumentos de política econômica, i.e. a concessão de petróleo  a preços subsidiados aos países do grupo pro-chavista (notadamente, Cuba e Nicarágua).
       A política de Chávez criou as condições para o desastre futuro. Considerando o aleatório como permanente, Chávez enjeitou valer-se do petróleo e do consequente saldo em dólares como um instrumento para novos investimentos, que aumentassem os bens de capital da Venezuela. Desconsiderou, inclusive, a situação da empresa estatal encarregada da exploração do Petróleo. Contribuiria assim o seu relativo desleixo à queda do Ente Nacional venezuelano na produção de petróleo, por problemas de deficiência nos investimentos destinados a manter a sua capacidade produtiva.
          No entanto, a despeito dos gastos excessivos em promoção política para os países da chamada Alba (Associação de países bolivaríanos), Chávez desperdiçou muitas divisas promovendo movimentos filo-chavistas ou assemelhados na América Latina (Cuba, Nicarágua, Equador e a Argentina peronista).
           Chávez tampouco parece ter lido a fábula sobre a cigarra e a formiga... No entanto, um câncer iria abreviar  seu governo e poupá-lo dos dissabores dos seus erros políticos e econômicos.
            Como seu sucessor - no que manifestou a habitual falta de discernimento dos homens fortes - indicou a Nicolás Maduro. Este ex-caminhoneiro tem sido ruinoso para a Venezuela.
            Além da queda no valor do petróleo - que é, na prática, a monocultura da Venezuela, assim como em séculos passados o Brasil colônia nasceu com o pau-brasil, prosseguiu com os engenhos de açúcar, passou ao ouro de Minas Gerais, e foi adiante com o algodão e o café, até dar os seus primeiros passos na indústria no século XX.
              Depois da descoberta do chamado ouro-negro, a Venezuela pensou adentrar a terra da Cuccagna (fartura).
               A situação  hoje gerida por Nicolas Maduro reflete genuína incompetência, além de falta de qualquer sentido de planejamento, com os consequentes desperdícios, e a condição realmente excepcional da pobre Venezuela, com gravíssimo problema de abastecimento, perda de capacidade produtiva na exploração do petróleo pelo tratamento disfuncional reservado à produção e ao refino desse valioso produto.
                 Para resumir, por força da corrupção do núcleo central do chavismo, da incompetência de seus líderes (a começar pelo próprio Maduro), a disfuncionalidade é o traço marcante da economia e do mercado da Venezuela.  Além talvez da mais alta inflação do planeta, de parque fabril que se tornou ferro velho,  e a pífia produção do ouro negro, já não mais remunerado com três algarismos, havendo caído no mercado internacional  para níveis historicamente muito baixos, não é muito difícil saber a razão pela qual há descomunal inflação na Venezuela,  o abastecimento estando muito afetado pela crise econômica (além do detalhe de que o índice de industrialização da Venezuela é bastante fraco, e portanto, só com a moeda forte do dólar, e intercâmbio proveitoso e lucrativo surge nesse país um mercado que tenha condições de prover as necessidades do povo venezuelano).
                   Tampouco há de surpreender que os índices de criminalidade sejam muito altos, a inflação só tenda a crescer.  Os únicos  que estariam bem são os elementos do partido chavista que lidam com o tráfico de drogas, mas esse suposto "ponto favorável"  na verdade é um sinal vermelho da crise terminal que  dá cada vez mais a impressão de atravessar e de forma irrecuperável o "poder chavista", que além do medíocre Nicolás Maduro, tem um poleiro recheado de chavistas de carteirinha, com Diosdado Cabello à frente.
                      Como um parasita que se apossou de tudo o que resta na economia venezuelana, não surpreende que Nicolás Maduro e o seu ridículo regime forte não queira nem possa admitir a possibilidade de realizar o referendo revocatório. A situação de desgoverno é tal, a injustiça cresce de tal modo, que toda eleição, se não roubada, levará à vitória da oposição.
                      Esse fator em economia com uma das mais altas inflações do planeta, com moeda cujo valor tende para zero, vivendo no inferno do desabastecimento, tudo isso misturado - e com o adendo do regime desonesto e fundamente iníquo - tudo isso, repito, representa  uma situação que se agrava não mais em progressão aritmética, mas geométrica, o que nos indica que os truques, os artifícios e as artimanhas do Señor  Nicolás Maduro se afiguram cada vez de voo mais curto. Não sei que forma tomará o fim do seu governo e do Partido Chavista, que adentra cada vez mais o chavascal por ele próprio criado. Espero que seja rápida e definitiva, mas, se possível, de forma incruenta. 
                       O modo, no entanto, com que o 'Presidente' Maduro dá a impressão de preparar este fim inelutável não semelha dar fundamento a que se mantenha a fábula de partida a ser anunciada de modo composto e ordenado. Ao invés dessa cantiga de ninar, a cada semana cresce, com o humanamente natural e mais do que compreensível acréscimo de raiva e violência por todo o mal que esse bando de estafermos que manchou de forma abusiva nome e imagem do grande Simón Bolívar, e de tal maneira, a ser crescentemente insuscetível a que as múltiplas nódoas possam vir a ser retiradas de forma humanamente  consensual e suportável.
                  Em outras palavras, os ponteiros do relógio do descalabro já estão muito avançados, para que o fim do chavismo ainda possa vir a ser  espetáculo para todas as idades.    
           


( Fontes: Folha de S. Paulo, The Economist; Venezuela: Visões brasileiras)

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