Dois séculos depois de soterrado, ao
ensejo das obras de revitalização da
zona portuária do Rio de Janeiro, foi reexposta
a área que, entre os séculos XVI
e XIX, constituíra sítio da chegada, trazidos pelos naus negreiras, de cerca de
quatro milhões de africanos que para cá vinham para serem transformados em
escravos.
Dentre esses sítios, guarda especial
significado arqueológico aquele do chamado Cais do Valongo, erguido às margens
da antiga praia do Valongo, a partir de 1811, e em que por vinte anos
desembarcou cerca de um milhão de homens e mulheres, até que o tráfico infame
fosse descontinuado pela pressão inglesa.
Trata-se de ancoradouro rudimentar,
mas calçado em pedra, o que lhe assegurou a permanência depois de aterrado. A
maior parte dos locais reservados ao desembarque de escravos não foi
conservada, pelo seu caráter precário, que não ensejava uma eventual redescoberta
futura.
Daí a importância do cais do
Valongo, ora descoberto na Zona Portuária, ao ensejo dos trabalhos de
reurbanização da área.
Segundo Milton Guran, antropólogo
que coordena o processo da candidatura - que está sendo processada no âmbito da
UNESCO - o aludido cais do Valongo "trata-se do único vestígio material de
um porto de desembarque de africanos nas Américas. Todos os outros foram
destruídos ou encobertos."
Segundo assinala a matéria de O
Globo, até o anúncio da decisão da Unesco, que deverá sair em junho de 2017, a
candidatura do Cais do Valongo será analisada por especialistas em duas
reuniões técnicas. Segundo o Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o Brasil deverá ter
acesso a relatório com o posicionamento do Conselho Internacional de Monumentos
e Sítios em maio. No mês seguinte, será realizada a avaliação final do processo
pelo Comitê do Patrimônio Mundial.
O cais do Valongo foi desativado
em 1831, quando o tráfico negreiro foi proibido por força da pressão inglesa, a
grande potência da época, e, em seguida, acabou sendo soterrado, remodelado e
rebatizado para receber a princesa Teresa Cristina, da nobreza italiana (Reino
das Duas Sicílias), que para cá veio
para ser a esposa de Pedro II.
Como sói acontecer, já na
República, em 1911, houve uma grande reurbanização da área, vale dizer tudo foi
aterrado, dando lugar a uma praça.
Por sorte, a área do chamado
Cais do Valongo permaneceu inteira, a
despeito da citada construção, em meados
do século XIX, do cais da Imperatriz. Não destruído, o cais do Valongo
possibilitaria que, ulteriormente, a negritude brasileira - que a área do
Valongo havia preservado - fosse
colocada diante dos olhos do presente século XXI de forma incontestável.
( Fonte: O Globo )
Nenhum comentário:
Postar um comentário