Há todo um ritual para enfrentar
os furacões. Por enquanto, o Brasil
está fora deles, graças a Deus. Ou pelo menos, pensamos estar. Não se deve esquecer que os mini-furacões,
como são os tornados, tampouco
existiam no Brasil há anos atrás. Agora, já podemos registrá-los, eis que em
certas regiões, como no Sul, por
exemplo, será difícil encontrar um estado que não tenha sofrido pela ação
destruidora desses rolos negros ou cinza que avançam arrasadores por uma área
determinada, tudo ou quase tudo levando no seu itinerário maldito, que pela sua
imprevisibilidade parece obra de um hiper-sádico demônio.
Hoje em dia,
contudo, há quem continue a dizer que a Costa Leste e o Sul dos Estados Unidos, assim como o Caribe sempre
foram área de tempestades naturais fortes e também de furacões, esquecendo ou
por ignorância, ou má-fé, que o verão
naquela área se está também transformando. Se as tempestades ditas naturais, os
furacões e assemelhados sempre existiram por aquelas bandas, há um detalhe
importante que muitos esquecem, seja adrede ou não.
A incidência
deles - assim como as tempestades marítimas que não respeitam a geografia e
invadem e inundam a terra firme -
continua alta e o que nos parece pior, é a sua força cataclísmica que
vai aumentando sempre.
Há anos que as Nações Unidas levam adiante a questão do clima. No entanto,
os acordos firmados parecem ter mais presente
os condicionamentos econômicos, do que as necessidades inadiáveis de
respeitar os fenômenos naturais. Assim, na última reunião de Paris, ouviu-se alguma palavra sobre o desafio dos
combustíveis fósseis e sua influência no aquecimento global? Os mares estão
subindo - mas quem se importa com as Maldivas?
Assim, a temperatura média da Terra vai subindo, a Groenlândia vai derretendo e como dizem em
italiano chi se ne frega? (quem se importa com isso?)
O mais
interessante desse fator é que ele é realmente global, mas todos parecem viver
aquela estória em que na aldeia todos viviam felizes, só que de vez em quando
aparecia um bandido que sumia com uma criança para sempre.
Para
muitos, estarei dizendo besteira. Mas pensem um pouco: o que estamos fazendo é
o mesmo que aquela gente supostamente burra da aldeia. Porque tanto o menino
que o bandido leva não volta mais, como nossa indiferença climática nos deixa
impunes, com todas as miríades de
maneiras em que o clima pode nos castigar...
Quem mais
se lembra do Furacão Sandy e da
tempestade marítima, com direito a inundação, trazido à Costa Leste americana?
A força da natureza escarnecendo dos aterros litorâneos, invadindo e
inviabilizando sistemas hidráulicos, tanto nos arredores de New York, quanto em
New Jersey?
Hoje, Matthew passou e destruíu o casario do
Haiti, país miserável, que a falta de sorte se empenha em tornar a pobreza
ainda menos evangélica e mais cruel, ao levar 136 pessoas, ao arrasar os
casebres, de que metodicamente arranca os telhados, com o sádico prazer de
tornar o último refúgio de cada um invivivel?
Não
adianta atribuir à divindade a culpa desses desastres. A culpa é do homem por
torná-las mais fortes, mais bestiais. Não joguem a culpa, como os gregos
faziam, em Zeus, nem tampouco peçam ao
deus dos evangélicos ou o dos católicos, para que modere um pouco o castigo.
Ao invés
disso, falem com o bicho homem,
sobretudo se ele acredita na força do petróleo ou até do carvão para trazer a
prosperidade.
Pensem
só no Katrina, em Sandy,
no Matthew que ainda está
perto da costa leste americana - o problema deles está em que a gente - tanto
americana, quanto haitiana - só pensa no
mal momentâneo que eles possam fazer. E se pensassem que esses flagelos
poderiam ser amenizados, enfraquecidos mesmo, se combatêssemos os fenômenos que
estão por trás deles?
Zombamos dos gregos antigos porque pensavam que Zeus chovia, trazia
tempestades, fortes ventos e muito mais.
E nós que hoje enfrentamos os demônios do petróleo, e da exacerbação dos
fatores climáticos, será que do alto desse onipotente bicho-homem não estamos
criando um outro monstro e muito maior?
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