quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Lembranças do Padrinho Chico (XVII)

          

          Após passar no vestibular do Itamaraty, com o ingresso no Instituto Rio Branco, obviamente não havia mais tempo livre para temporadas em São Paulo. Soube mais tarde que o padrinho tomara ciência pelo Diário Oficial do primeiro lugar no vestibular do Instituto Rio Branco. Foi algo que me deu muito prazer saber, pois o tio conhecia da dificuldade desse exame. Naquele tempo (1957) se realizava somente no Rio de Janeiro.
          Mais tarde, creio que o revi em uma de suas vindas ao Rio, embora já não mais falasse em Valentim Bouças, pois a administração Vargas findara tragicamente, viera o interregno Café Filho, com Eugênio Gudin na Fazenda, e mais tarde o curto período de Nereu Ramos, que tomara posse após o episódio em que o Presidente da Câmara Carlos Luz tivera  triste protagonismo.
           Vinham os anos JK, que uma vez transcorridos, nos deixariam saudades, pela sua democracia, a realizada promessa e a destreza do Presidente, que navegou por aqueles anos, pontuados por intentos de  quartelada, que a política de Juscelino faria esquecer depressa.
            Concluído o primeiro ano do curso do Rio Branco, e aproveitando as férias de verão, fomos a São Paulo Porto Alegre e Rio Grande.  Acompanhando minha avó Cidalízia, arranchei-me no mesmo quarto, ao passar pela casa da Turquia, 26.
              Aproveitando as férias de verão, fomos a São Paulo, Porto Alegre e Rio Grande. Acompanhando minha avó Cidalizia, arranchei-me no mesmo quarto, ao passar pela casa da Turquia, 26.
             Achei o Chico mais magro. Rumamos, em seguida, para o Sul, onde nos ajeitamos - com mais conforto - na residência de minha avó Lucinda. Festejado por todo lado, seguimos depois para Rio Grande e o Cassino.
              Não há muito o que contar desse tempo. Lá fiquei poucas semanas, para depois retornar ao Rio.
               Foi já de regresso à Velha  Cap que me recordo de almoço  com o Padrinho e  a avó Cidalízia.
            Achei na época que, apesar do curto período entre o último convívio em São Paulo e agora o almoço no restaurante do Hotel Excelcior - que é mais ou menos contíguo ao Copacabana Palace - me pareceu que Chico houvesse emagrecido um tantinho mais.
            Excluída essa impressão, nada vi nem ouvi de que a sua saúde estivesse com problemas.
            No entanto, pelo que saberia mais tarde, os exames se sucediam, e a medicina da época ainda tateava na busca de resposta àquela persistente perda de peso.
            Hoje, passados tantos anos, revisito a sala do restaurante, e não vejo a meu lado um padrinho muito diferente a que estava acostumado.
            O seu apetite não mudara, nem tampouco o próprio interesse pelo que esperava o afilhado no curso do Rio Branco, que estava por começar.
            Tudo conspirava para que não visse diferença no tio. Nem a própria residual implicância que tinha com a sogra Cidalizia - e minha avó materna - não deixara de repontar, mas numa feição que hoje definiríamos como assaz light...
            Apesar de tudo isso, lá estava  ele com o jeitão meio cansado e a aparência um tanto diferente, sem a desenvoltura a que nos acostumara na travessia da Lagoa dos Patos (segundo os relatos da família), sem as firmes passadas, sem o ritual esfregar de mãos marcando  a vigorosa presença, e tal  desde sempre que me entendo - guri, jovem, adolescente - na rua Turquia, 26.

             Sem dúvida, a magra já o espreitava.     

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