sábado, 22 de outubro de 2016

Repressão na Turquia

                                       
                             
         A despeito do parecer contrário de Christopher de Bellaigue que, com o seu artigo "Reviravolta assassina na Turquia"[1] criticara duramente a tentativa de golpe  naquele país, em que parte do exército teria agido por instruções do clérigo Fethullah  Gulen, a maior parte dos observadores pende para a opinião contrária. Com efeito, a reação de Erdogan dá a impressão a muitos de que o Presidente turco instrumentalizou o putsch de parte do exército, e estaria aproveitando o ensejo não só para consolidar o respectivo poder, mas também para afastar das fileiras do exército, tanto chefes militares, quanto subordinados,  de cuja lealdade suspeita.

          Em enorme expurgo, foram  ou demitidos, ou suspensos mais de 105 mil pessoas, em  que se contam além de militares, professores, funcionários públicos e jornalistas.
          Segundo muitos, é oportunidade de há muito esperada pelo homem forte da Turquia, Recip Erdogan, que dela se aproveita para consolidar o respectivo poder, afastar possíveis ameaças - no seu entender - ao chefe político.

           Assinale-se que Erdogan se serviria de oportunidade para enfraquecer o polo de quem defende as idéias do criador da Turquia moderna, o general Mustapha Kemal dito Ataturk, assim como reforçar a própria posição como homem forte de uma Turquia modelada sob a fé islâmica (influência cujos limites sempre foram contidos, dentro de um estado laico moderno, pelo criador da Turquia moderna, saída das cinzas do Califado, e que foi o responsável da chamada 'catastrofe' pelos gregos, que habitavam há milênios a Ásia menor, e que dela foram escorraçados depois da batalha acima aludida).

              Apesar da opinião de C. de Bellaigue que Erdogan, ao sofrer a tentativa dita islamizante, teria sido apoiado pela maioria da população, outros pendem para a interpretação de que Erdogan se serve do ensejo para reforçar o seu poder - que já andara claudicante - e de afastar todos os seus possíveis (e imaginários) opositores no projeto de um novo Raís na velha Turquia. Em outras palavras, Erdogan pretenderia instrumentalizar o golpe para consolidar o respectivo poder. Entrementes, boa parte da intelligentsia já deixa o país, como a Folha de hoje noticia.


( Fontes: The New York Review, Set. 29 2016;  Folha de S. Paulo )



[1] Fethullah  Gulen, em exílio na Pennsylvania, EUA, teria lançado a tentativa de golpe de 15 de julho, com o escopo de promover a ideologia islamista.

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