A despeito do parecer contrário de
Christopher de Bellaigue que, com o seu artigo "Reviravolta assassina na
Turquia"[1]
criticara duramente a tentativa de golpe
naquele país, em que parte do exército teria agido por instruções do
clérigo Fethullah Gulen, a maior parte
dos observadores pende para a opinião contrária. Com efeito, a reação de
Erdogan dá a impressão a muitos de que o Presidente turco instrumentalizou o
putsch de parte do exército, e estaria aproveitando o ensejo não só para
consolidar o respectivo poder, mas também para afastar das fileiras do exército,
tanto chefes militares, quanto subordinados, de cuja lealdade suspeita.
Em enorme expurgo, foram ou demitidos, ou suspensos mais de 105 mil
pessoas, em que se contam além de
militares, professores, funcionários públicos e jornalistas.
Segundo muitos, é oportunidade de há
muito esperada pelo homem forte da Turquia, Recip Erdogan, que dela se
aproveita para consolidar o respectivo poder, afastar possíveis ameaças - no
seu entender - ao chefe político.
Assinale-se que Erdogan se serviria
de oportunidade para enfraquecer o polo de quem defende as idéias do criador da
Turquia moderna, o general Mustapha
Kemal dito Ataturk, assim como
reforçar a própria posição como homem forte de uma Turquia modelada sob a fé
islâmica (influência cujos limites sempre foram contidos, dentro de um estado
laico moderno, pelo criador da Turquia moderna, saída das cinzas do Califado, e
que foi o responsável da chamada 'catastrofe' pelos gregos, que habitavam há
milênios a Ásia menor, e que dela foram escorraçados depois da batalha acima
aludida).
Apesar da opinião de C. de
Bellaigue que Erdogan, ao sofrer a tentativa dita islamizante, teria sido
apoiado pela maioria da população, outros pendem para a interpretação de que
Erdogan se serve do ensejo para reforçar o seu poder - que já andara
claudicante - e de afastar todos os seus possíveis (e imaginários) opositores no
projeto de um novo Raís na velha Turquia. Em outras palavras, Erdogan pretenderia
instrumentalizar o golpe para consolidar o respectivo poder. Entrementes, boa
parte da intelligentsia já deixa o país, como a Folha de hoje noticia.
( Fontes: The New York Review, Set. 29
2016; Folha de S. Paulo )
[1] Fethullah Gulen, em exílio na Pennsylvania, EUA, teria
lançado a tentativa de golpe de 15 de julho, com o escopo de promover a
ideologia islamista.
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