Parece simbólico e talvez seja mais do
que isso. Por conta dos três traficantes mortos no tiroteio a que aludi no blog
de ontem, o tráfico voltou a fazer uma exigência que desde um tempo
considerável não era mais feita por essas bandas.
Como ela coincide com a partida do
Secretário Beltrame, pode-se dizer que tentativamente uma nova/velha fase na Zona Sul é retomada.
Anos atrás, por acontecimentos
similares, o comércio das ruas vizinhas ao cenário da morte de algum
traficante, em geral por tiroteio com as forças policiais, recebia a ordem de
fechar as portas. O medo, aumentado com a falta de proteção policial, fazia com
que a determinação de assumir o luto do tráfico fosse levada à risca.
Assim, os bandidos
conseguiam dois objetivos. Por um lado, impunham um dia de luto, e de silêncio
a ruas antes movimentadas. Por outro, mostravam a própria força, através das
cortinas metálicas fechadas, e da interrupção do comércio, seja ele qual for,
grande ou pequeno, rico ou pobre. Além disso, o tráfico mostrava, para ricos e
pobres, gregos e troianos, quem mandava naquele pedaço.
Não se vá dizer que com a saída do
Secretário Beltrame tudo vá piorar. Na
verdade, depois de dez anos, o gaúcho Beltrame quer talvez voltar à querência, mas também a sua partida é produto
de uma realidade nova.
A política das UPPs, ou perdeu a
credibilidade, ou a está perdendo. Para tal, contribui uma série de fatores. Até
que ponto o caos financeiro do Estado terá contribuído para a saída do
Secretário, dado o enfraquecimento do modelo da UPP?
A batalha de ontem, no
Pavão/Pavãozinho, atemorizando a cidadania, reabriu uma chaga, que muitos
acreditavam cicatrizada naquela área.
Vencido o desafio das Olimpíadas e
das Paralimpíadas, os reforços pontuais, com a Força Nacional e outros mais, já
são história. Com a volta da chaga do tráfico, a que a partida do Secretário
Beltrame empresta um involuntário relevo, a macabra rotina das ruas e dos
bairros fechados por ordens que não se leem nos jornais, mas que, ao contrário
de outras, são cumpridas à risca, ditadas que são nas frases guturais das
ameaças de violência e do medo triste e humanamente confesso.
Não basta que apareçam outros
Beltrames, gente corajosa, honesta e com uma idéia de firmeza na cabeça. Essas
pessoas, que as há, carecem de apoio, mas não daquele das frases soantes, porém
ocas e sem substância.
Não sei se foi com Amarildo, ou com a
mulher na mala do carro, que as UPPs
se mostraram como um quadro, igualzinho àqueles que o conde Poniatowski mostrou
à tzarina da Rússia. As UPPs, no momento em que deixaram de ser
o sinal de uma reforma para valer, se apequenaram e foram na realidade
engolidas pelas práticas de sempre nas favelas.
Também não precisou de megafone
que se visse na tevê a fuga de trezentos bandidos - que saíram correndo, de
moto ou nas caçambas de caminhonetes
- do Alemão, que era, com todas as honras, reintegrado na comunidade da gente
carioca. Ver tantos fora-da-lei fugindo foi uma espécie de trailer, que se
seguiria ao filme da épica retomada do Alemão.
Generosas, as forças da ordem -
junto com blindados do exército e o
escambau - aceitaram que toda aquela gente se mandasse correndo. Dizem que os
poderosos de então - que também estavam presentes à grande vitória - riram daquele enorme bando que eles tinham
posto para correr.
Só que esqueceram que aquela debandada, pernas
pra-que-te-quero para os braços da cidade grande, era apenas um trailer dos
episódios que se sucederiam, com o virtual desfazimento da decantada epopéia da
tomada do Alemão.
( Fontes: O Globo e Rede Globo )
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