quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Só Copacabana e Ipanema ?

                            

       Parece simbólico e talvez seja mais do que isso. Por conta dos três traficantes mortos no tiroteio a que aludi no blog de ontem, o tráfico voltou a fazer uma exigência que desde um tempo considerável não era mais feita por essas bandas.
      Como ela coincide com a partida do Secretário Beltrame, pode-se dizer que tentativamente  uma nova/velha fase na Zona Sul é retomada.
       Anos atrás, por acontecimentos similares, o comércio das ruas vizinhas ao cenário da morte de algum traficante, em geral por tiroteio com as forças policiais, recebia a ordem de fechar as portas. O medo, aumentado com a falta de proteção policial, fazia com que a determinação de assumir o luto do tráfico fosse levada à risca.
         Assim, os bandidos conseguiam dois objetivos. Por um lado, impunham um dia de luto, e de silêncio a ruas antes movimentadas. Por outro, mostravam a própria força, através das cortinas metálicas fechadas, e da interrupção do comércio, seja ele qual for, grande ou pequeno, rico ou pobre. Além disso, o tráfico mostrava, para ricos e pobres, gregos e troianos, quem mandava naquele pedaço.
         Não se vá dizer que com a saída do Secretário Beltrame tudo vá piorar.  Na verdade, depois de dez anos, o gaúcho Beltrame quer talvez voltar à  querência, mas também a sua partida é produto de uma realidade nova.
          A política das UPPs, ou perdeu a credibilidade, ou a está perdendo. Para tal, contribui uma série de fatores. Até que ponto o caos financeiro do Estado terá contribuído para a saída do Secretário, dado o enfraquecimento do modelo da UPP? 
           A batalha de ontem, no Pavão/Pavãozinho, atemorizando a cidadania, reabriu uma chaga, que muitos acreditavam cicatrizada naquela área.
           Vencido o desafio das Olimpíadas e das Paralimpíadas, os reforços pontuais, com a Força Nacional e outros mais, já são história. Com a volta da chaga do tráfico, a que a partida do Secretário Beltrame empresta um involuntário relevo, a macabra rotina das ruas e dos bairros fechados por ordens que não se leem nos jornais, mas que, ao contrário de outras, são cumpridas à risca, ditadas que são nas frases guturais das ameaças de violência e do medo triste e humanamente confesso.
             Não basta que apareçam outros Beltrames, gente corajosa, honesta e com uma idéia de firmeza na cabeça. Essas pessoas, que as há, carecem de apoio, mas não daquele das frases soantes, porém ocas e sem substância.
              Não sei se foi com Amarildo, ou com a mulher na mala do carro, que as UPPs se mostraram como um quadro, igualzinho àqueles que o conde Poniatowski mostrou à tzarina da Rússia.  As UPPs, no momento em que deixaram de ser o sinal de uma reforma para valer, se apequenaram e foram na realidade engolidas pelas práticas de sempre nas favelas.
               Também não precisou de megafone que se visse na tevê a fuga de trezentos bandidos - que saíram correndo, de moto ou nas caçambas de caminhonetes - do Alemão, que era, com todas as honras, reintegrado na comunidade da gente carioca. Ver tantos fora-da-lei fugindo foi uma espécie de trailer, que se seguiria ao filme da épica retomada do Alemão.
               Generosas, as forças da ordem - junto com blindados do exército  e o escambau - aceitaram que toda aquela gente se mandasse correndo. Dizem que os poderosos de então - que também estavam presentes à grande vitória -  riram daquele enorme bando que eles tinham posto para correr.
               Só que esqueceram que aquela debandada, pernas pra-que-te-quero para os braços da cidade grande, era apenas um trailer dos episódios que se sucederiam, com o virtual desfazimento da decantada epopéia da tomada do Alemão.


( Fontes:  O Globo e Rede Globo )

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