Masha
Gessen, a corajosa jornalista russo-americana, nos traz a triste
notícia do fechamento virtual do Centro
Levada. Respeitada como a única organização confiável de polling[1]
na Russia, hoje em marcha batida para o regime autoritário, o Levada incomodava por pesquisar as causas
reais das atitudes do povo russo, assim como suas opiniões políticas.
Há quatro
atrás, o Kremlin requisita de
organizações não-lucrativas que se registrem como 'agentes estrangeiros', se elas recebem fundos do estrangeiro e
atuam em "atividades políticas". A citada lei requer que tal organização se identifique como "agente estrangeiro" em todas suas comunicações com o público, além
de impor-lhe requisitos severos quanto ao financiamento recebido.
Para a maioria das ONGs, são os requisitos de
informação que, na prática, lhes paralisam o trabalho. Já quanto à organização
de pesquisa de opinião (polling), é a
própria designação: quem irá responder perguntas de alguém que telefona e se
introduz com agente estrangeiro?
Assim, a
lógica do regime autoritário vai completando o círculo do arrocho. As ditaduras
sempre buscam a lavagem cerebral dos seus súditos.
A verdade
tende, portanto, a não ser bem-vinda em regimes do tipo do russo atual. Por
isso a sociologia não prosperou na URSS. Em 1987, no ápice da perestroika, o Sr. Levada teve
finalmente permissão de reorganizar o
seu grupo. O governo de Gorbachev precisava entender o país que desejava transformar.
Na época
do colapso da URSS, o Centro de Pesquisa de Opinião Pública de toda a União,
ele se tornara o Centro de Pesquisa de
Opinião Pública Russa.
Poucos
anos após a ascensão de Putin, o Kremlin
encampa o Centro Levada, que passa a
produzir pesquisa ao gosto... do Kremlin.
Levada
não desanima e cria organização menor, que tem de limitar-se a conduzir e
interpretar pesquisas de opinião
pública. Depois da morte de Levada, em
2006, assume o Centro o seu mais jovem e brilhante operador, Lev D. Gudkov.
O Centro Levada logrou manter
por um tempo a reputação pela excelência do trabalho de pesquisa. Até
ministérios bateram-lhe à porta, à cata de colaboração nesta área específica.
No
fim, segundo antevira o proprio Gudkov, como o Kremlin não
podia controlar a atividade sociológica, a saída foi cortar a sociologia.
Dentro da lógica dos regimes autoritários, o medo do conhecimento e de suas
implicações tende a ser mais forte do que o desejo de saber.
É essa mesma lógica que
continuará a atuar na Russia, e mais uma vez. Os regimes tzarista e comunista
são o retrato deste 'avanço' e do que possam produzir como antítese.
A
liberdade é a promessa da intelligentsia.
Mas como ela é difícil e escorregadia para que se consiga abraçá-la em certos
países! Seria interessante determinar o porquê
dessa via dolorosa. Será unicamente
pela falta de sorte e a predestinação autoritária que a história da Rússia,
excluídos os breves clarões de liberdade, seja tão monótona na sua sombria
travessia pelas marchas forçadas de ditaduras de toda espécie e jaez?!
( Fonte:
artigo de Masha Gessen em The
New York Times )
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