Seria inacreditável em outro país, mas
não nos Estados Unidos. Antes de relatar a história que me cabe descrever e
comentar, devo referir impressões minhas anteriores sobre questão conexa ao
assunto de agora.
Quando tomei ciência do comportamento do
Diretor do F.B.I. James B. Comey, por ocasião da questão dos e-mails de Hillary Clinton, pareceu-me
existir um traço de animosidade de Comey no que tange à candidata democrata.
Com efeito, apesar de julgar não caber ação
penal contra a candidata, Comey não se furtara a descrever como extremamente descuidado o tratamento que
a Senhora Clinton havia dado aos e-mails.
De qualquer forma, o caso dos e-mails, depois da ida de Comey à Câmara
de Representantes, dera toda a impressão de que estava encaminhado para o rio
do Letes[i]. A despeito de uma que outra expressão mais
desabrida, nada mais repercutiria dessa
questão do servidor de e-mails de Hillary Clinton.
Meses transcorreram, e nada mais
acontecendo - excluído o avanço nas pesquisas da candidata democrata - ninguém
mais se lembrava dos "malditos e-mails" como os apelidara o Senador
democrata - e ex-adversário nas primárias - Bernie
Sanders.
Tudo isso deixou de corresponder à
realidade, quando, por iniciativa solitária do Diretor do F.B.I. o caso dos
e-mails voltou à ribalta.
Nesta semana, na quinta-feira, dia 27
de outubro, os principais assessores de James B. Comey foram ao seu gabinete
para comunicar-lhe ter sido encontrado um novo maço de e-mails que poderiam
estar ligados ao inquérito sobre o uso pela Secretária de Estado Hillary
Clinton do servidor particular de e-mails, cujo inquérito fora encerrado há meses atrás.
A suposta alternativa com que se
deparou o Diretor Comey seria (a) informar
o Congresso acerca dos novos e-mails, achados em investigação ligada ao
ex-Deputado Anthony D. Weiner, assim reabrindo a investigação fechada meses
atrás. A alternativa (b) seria
mandar primeiro examinar os novos e-mails encontrados, para verificar se
existia algum documento que justificasse informação ao Congresso. Caso
negativo, parece lógico que o diretor do FBI seria passível de críticas e mesmo
de reprimenda, por divulgar um assunto, literalmente às vésperas da eleição
presidencial, sem saber se ele tinha alguma pertinência com o caso do servidor
particular de e-mails da candidata Hillary Clinton.
James Comey - que é republicano,
e que fora indicado pelo Presidente Obama em gesto de suposta boa vontade
presidencial para com a oposição - decidiu pela alternativa "a". O que fez então o Diretor do
FBI: mandou uma carta para os presidentes dos oito comitês congressuais, assim
como para os representantes mais antigos da Oposição. Trocando em miúdos, Comey
enviou para os oito republicanos que presidem os comitês (o GOP tem maioria
tanto no Senado, quanto na Câmara - esta por deferência especial do
gerrymander), e para oito da oposição democrata.
Para
qualquer indivíduo dotado de um mínimo de bom senso, o Diretor do FBI deveria
sim dar ciência da questão aos líderes congressuais, mas com um detalhe,
determinado por elementar prudência: examinar primeiro o material, para
verificar se havia pertinência na acusação. Não fazendo isso, o apressado
Mr James Comey estava garantindo uma pronta publicidade da questão, embora ele
próprio não saiba se a suspeita tenha algum fundamento ou não.
Acresce notar que como é
óbvio, não se deve levantar suspeitas se não se dispõe de elementos
probatórios. Por outro lado, a estranhíssima iniciativa de Mr James Comey
contraria as diretivas do Departamento de Justiça (a que é subordinado o FBI)
que desencorajam vivamente quaisquer ações às vésperas da eleição que possam
influenciar-lhe o resultado.
A Senadora Dianne Feinstein,
democrata da Califórnia, declarou em comunicado
à imprensa:"O FBI tem uma história de extrema cautela nas cercanias do Dia
da Eleição. A quebra hodierna nesta tradição é deplorável."
( Fonte: The New York Times )
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