A três semanas
da eleição presidencial, os cofres de campanha da candidata democrata Hillary Clinton colhem doações e
contribuições que a deixam em condições de (a) cuidar de reforçar o próprio
projeto de vencer no colégio eleitoral; (b) abrir perspectivas em cenários
contestados, como Pennsylvania, Flórida e Carolina do Norte; e (c) avaliar
cenários mais difíceis como Arizona, Georgia e Utah.
A errática
campanha do candidato republicano, Donald
Trump, tem 'ajudado' o projeto da democrata não só em abrir bolsas
anteriormente a ela fechadas, mas também em dar esperança de vitória a outros
democratas.
O estado de
Arizona é disso um exemplo. Se é muito difícil derrotar a candidatura à
reeleição do Senador John McCain (no
Senado desde 1986), já a posição de Trump no Estado é frágil, não fora pelo
grosseiro tratamento por ele dispensado a McCain.
Por outro
lado, há igualmente um entusiasta de Trump, o xerife Joe Arpaio, cujos
comentários preconceituosos acerca dos
Hispânicos e as agressivas táticas
contra os imigrantes o fazem figura polêmica e não só na própria jurisdição, o
condado de Maricopa. Arpaio, por isso, se torna alguém que pode ser derrubado no
seu próprio terreiro, e além dele, dando u'a mãozinha aos democratas pela sua
condição de elemento provocador de justa revolta no campo democrata e na faixa
sensível à rejeição de tais elementos preconceituosos.
Há outros
Estados que já foram democratas no passado, e hoje pendem à direita, com os
republicanos. Exemplo disto é o Texas - o vice de John Kennedy era Lyndon
Johnson, um político democrata daquele
Estado. O Texas deixou de ser democrata,
quando o Sul se bandeou para GOP. Com o apoio do Partido Democrata à dessegregação
e à causa dos afro-americanos, o que fez
com os estados do Deep South (o Sul
profundo) aderissem ao Partido Republicano.
Não há
dúvida que um dos maiores 'partidários' de Hillary tem sido o candidato Donald
Trump, através de seus comentários negativos, ataques à hierarquia republicana,
e, em geral, ´por seu condão desagregador (a par da inconveniência dos
comentários sexistas).
Não é
à toa que Trump aglutina apoios da direita preconceituosa, assim como coleta
amizades dúbias, como a de Vladimir Putin. Por isso, o chamado flanco
conservador que o apoiaria, não mais se sente em condições de fazê-lo e parte
ou para o voto em branco, ou até mesmo, na teoria do mal menor, para a
adversária Hillary Clinton.
Se as
previsões da política continuam a merecer guarida, tudo leva a crer que Hillary
terá vitória folgada, juntamente com a possibilidade de recuperar a maioria no
Senado. Quanto a milagres, eles são, por definição, pouco prováveis.
É um
escândalo a permanência desde 2012 do gerrymander [1]na Câmara de
Representantes. A sua existência dá vida a uma série de anomalias. Ao fazer uma parte do Legislativo
artificialmente (na verdade, penalmente) dependente do Partido Republicano, o
governo da União Americana fica prejudicado, eis que se criam condições para a
anormalidade (uma Câmara sempre republicana inviabiliza a regra básica do
governo do Povo, para o Povo e pelo Povo, e foi o que se viu depois de 2012). Tal condição anômala tem sido estigmatizada
por parte da imprensa, a exemplo da
insigne politóloga Elizabeth Drew (V. artigo "A Democracia Americana
Traída", em The New York Review of Books, 18 de agosto de 2016, no. 13).
E é
por isso que a volta de Nancy Pelosi à curul presidencial da Câmara de
Representantes se afigura atualmente uma impossibilidade prática, pela triste
circunstância de que o extenso gerrymander torna isso virtualmente
impossível. É de perguntar-se por quanto
tempo esse aborto constitucional será tolerado.
Uma vitória democrata em toda a linha - com a previsível exceção -
tornaria possível pôr termo a este aborto legislativo.
Hoje
o desequilíbrio é tal, que não se poderia desconhecer a possibilidade teórica da
vitória dos democratas também neste terreno minado, embora isto seja muito pouco provável.
(Fontes: The New York Times, The New York
Review of Books)
[1] Gerrymander
- constitui o redesenho pelo
Legislativo Estadual do mapa dos distritos eleitorais em um determinado Estado. Tal redesenho fraudulento costuma ser
feito quando do recenseamento (um esquema decenal) e é realizado de forma a
maximizar a representação de um partido e a minimizar a de outro. Assim, v.g., os distritos do partido A são desenhados de forma a garantir-lhe
a vitória e devem ser mais numerosos do que os reservados ao partido B, em que a maioria do outro partido é
'desperdiçada' em grandes concentrações,
de forma a assegurar que a representação do partido A venha a produzir mais representantes do que os do partido B.
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