É triste,
deplorável mesmo, o isolamento em que imprensa brasileira objetivamente tente
colocar a resistência democrática na Venezuela.
Folheio os
jornais que dão alguma atenção - em geral empurrada para as suas páginas
internas - da crise na democracia venezuelana.
Seria de
início importante que diminuísse a profusão de aspas nessa cobertura, como se houvesse alguma dúvida quanto ao
caráter opressivo no corrente e sanhudo ataque contra prerrogativas
constitucionais, que, para sua vergonha, empreende o falido regime de Nicolas
Maduro.
O falso esquerdismo
da Folha sistematicamente ignora ou distorce o descumprimento de preceitos
constitucionais de parte do governo do señor
Maduro. Chega-se ao acinte de citar em negrita, e com destaque,declaração do líder de Maduro na Assembléia, dando cores de verdade a uma mentira (como o foi o tal
'golpe' parlamentar contra Dilma Rousseff). Vejam a que dão realce os
coleguinhas da Folha: "O que
vocês querem fazer é dar um golpe, como
no Paraguai, em Honduras e no Brasil. Nâo somos o Paraguai, nem Honduras, nem o
Brasil."
Que pena que
Henfil
partiu e há muito, eis que não haveria melhor ocasião de que Gastão o vomitador interviesse, diante
de tal cínica bobajada.
Há um
regime, incompetente e opressivo na Venezuela, encarnado por Nicolás Maduro, um
dos mais ineptos governantes que imaginar-se possa. O referendo
revocatório, que Chávez não só aceitou mas a que democraticamente se
submeteu, agora vem sendo cínica, ilegal e inconstitucionalmente impedido de realizar-se,
pelo conluio entre a autoridade
encarregada e o regime. Os milhões que vão às ruas e praças da Venezuela, para
reclamar direito que lhes assiste, i.e.,
o exercício da faculdade de mandar para casa um governante incapaz, o tem visto despudora-
damente negado por
Maduro e seus asseclas.
Sucedem-se
as manobras de Maduro, que apenas tratam
de prorrogar o status quo, com a mais
alta inflação das Américas, o descalabro no abastecimento, e toda uma coorte de
abusos do regime chavista, seja na deslavada corrupção, seja na repressão das
liberdades e, em especial, nas prisões políticas com que o regime busca intimidar os seus muitos opositores.
Nesse
contexto de horrores - que o Secretário-Geral da OEA[1] tem censurado
oportunamente - a hipocrisia da redação é levada a tal ponto, que se chega a
pensar - porque há limite para a burrice - que a Folha esteja interessada em irritar os seus leitores, ou
transformar o noticiário político em apresentação grosseira da realidade, dando
até a impressão de fazê-lo com escopo irônico. Parece não ver problema algum
com eventual desrespeito à liberdade de opinião dos legisladores, em definir
como "apoiadores de Nicolas Maduro", esse bando de rufiões que forçam
a entrada na Assembléia Nacional, como se tal fora coisa de somenos.
Para
os incautos, isso parecerá até ação legal da turba... E alguém pensa acaso que
os chavistas garantam de alguma forma que os legisladores não sejam disturbados
por tal gênero de público?
( Fonte: Folha de S.
Paulo )
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