sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Prisma republicano ?

                              
        
       Desde algum tempo, e em especial ao ensejo desta eleição, em que a qualidade dos candidatos está muito diferenciada, choca o observador da atualidade americana a maneira com que muitos dos jornalistas brasileiros radicados nos Estados Unidos como correspondentes costumam transmitir para o Brasil através dos órgãos  respectivos a sua cobertura da campanha americana.
       Talvez esses profissionais se deixem levar por  paixões pessoais e venham a confundi-las com os deveres jornalísticos de informação equilibrada e imparcial. Com efeito, o que surpreende é o hiato que existe entre a realidade transmitida por grande jornal e a visão particular de cada um, que muita vez dá a impressão de que o profissional teve acesso a outra reunião, e não àquela que é coberta pelo grande veículo de imprensa ou de comunicação.
        No passado, a realidade da comunicação era bem diversa. O correspondente de imprensa estava presente e a transmitia ao órgão respectivo, sem que o observador brasileiro tivesse oportunidade de ter uma visão simultânea do evento. Agora, nos grandes acontecimentos isto não mais se verifica. A CNN e mesmo outras estações transmitem por satélite, e proporcionam a visão simultânea de o que vá pautar o comunicado do correspondente.
         As oportunidades de cotejar impressões, mais ainda quando se tem acesso ao evento, crescem exponencialmente, e deveriam, por conseguinte, nortear a busca pela objetividade entre os coleguinhas.
         Os correspondentes, no entanto, parecem continuar embalados por realidades de antanho, quando o público brasileiro não tinha acesso nem à mídia eletrônica, nem muito menos aos grandes jornais americanos.
         Quem lê os despachos desses alegres compadres tem a impressão de que a campanha de Donald Trump não vá assim tão mal. Já a atuação de Hillary é transmitida pela Fox News ou algum senhor de opiniões similares, em que o viés de partido (no caso, o vermelho, que para os americanos quer dizer conservador, republicano) aparece sempre pendendo para a direita. Isso podia funcionar antes, quando a cobertura imediata era precária, e não se podia contrachecar a opinião dos coleguinhas com a realidade no terreno.  
           Hoje, as vantagens da intermediação ou desapareceram ou esmaeceram deveras. Por isso, será recomendável àqueles (ou àquelas) profissionais, que esqueçam por um momento as eventuais simpatias do grupo, e tratem de buscar a objetividade na informação. Como os meios e instrumentos de contrachecagem cresceram e muito, eles devem desembaraçar-se das lentes de antanho e transmitir para o público a realidade sem adjetivos. Sofrerá um pouco o respectivo ego na sua autoavaliação, mas o assistente ou o leitor agradecem penhorados, porque a veracidade na informação costuma ser o início de grandes audiências.


( Fontes: Organizações Globo, Folha, The New York Times )

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