segunda-feira, 10 de outubro de 2016

O Debate n° 2

                                        

        É muito provável que a maioria dos assistentes do debate de S.Louis haja visto com alívio o final da justa oratória. Não surpreenderá, tampouco, que tal cansaço também seja dos dois candidatos, engessados pelo artificialismo de muitas das perguntas de um público que  é carimbado de neutro, por mais estranho que pareça continuar sem formar juízo sobre as respectivas vantagens e defeitos dos dois adversários, a essa altura do campeonato.
        Ou muitos desses assistentes vivem em outras esferas, ou trata-se apenas de mentirinha pro-forma das organizações respectivas. De qualquer modo, são raras, raríssimas mesmo, as questões que vão a fundo dos respectivos litigantes.
        Talvez o que de mais interessante tenha havido ocorreu antes do segundo debate.
       Pensaram que poderiam colocar a um canto Donald Trump, com o escândalo produzido pela fita com idéias e juízos do candidato republicano sobre as mulheres. O estardalhaço foi ainda maior porque esse registro de opiniões e visões passadas de Trump sobre a mulher reflete tão somente uma visão machista, que não é exatamente a surpresa para o GOP e o eleitorado em geral.
         Imaginaram acaso que poderiam levá-lo a um canto do ringue, como na imagem pugilística? A deputada Nancy Pelosi, essa vítima democrata do gerrymander da Câmara, hipócritamente hoje um segredo de Polichinelo, já aconselhara a Hillary Clinton a única saída possível para alguém que manifeste comportamento psicopático: Ignore-o!
         Como não o fizeram, admitiram implicitamente o circo com que Trump logrou efetivamente controlar o escândalo. Como toda tática de alguém que deseja candidatar-se a psicopata, o que fez  Donald? Chamou as testemunhas ainda vivas do velho escândalo de Bill Clinton e sua presidência, com mulheres que teriam sido vítimas dos avanços sexuais desse presidente.
         Reunidas como no Velho Oeste, essas mulheres faziam parte de  outra estória, tanto que é de estranhar-se que Ken Starr não tenha igualmente aparecido. Mas o non-sequitur não existe para os eventuais suspeitos de psicopatia. Aquilo que provocara uma cascata de declarações de líderes e de passados vultos do GOP, que se dissociaram do inconveniente candidato do verão,  permaneceria no debate de ontem como aquele não-evento (essas mulheres foram levadas a Saint-Louis adivinhem por quem)  iria sobrepairar a atmosfera da segunda justa oratória, e ao fim e ao cabo, mostraria que nisso Trump é imbatível. O absurdo de suas declarações machistas que provocara o escândalo da véspera foi desfeito na prática por um contra-argumento, a chamada ameaça, que por nada ter a ver com o comportamento do candidato do GOP paradoxalmente o salvou de uma reação análoga àquela que motivara a revoada de apoios dentro do GOP na reação que precedera o debate...
          E assim como no Brasil, tudo termina na quarta-feira de cinzas (fim do carnaval), se não houve conclusão, mas apenas armistício, postergamos para o terceiro e (felizmente) derradeiro combate oratório, um formato que me parece dessangrado pelo formalismo.
          O que no  Velho Oeste tornava os debates mais interessantes era a sua imprevisibilidade, tantas as maneiras com que podiam concluir-se.  Agora é demasiado arrumadinho para que se aceitem todas as regras da correção. O formato atual me parece lixiviado por uma série de precauções e de normativas, que engessam a discussão. Ao aumentar as regras, a quem pensam que favorecem?  Pois o diabo costuma tudo aceitar, eis que a sua capacidade de pôr as coisas de ponta-cabeça é elogiada por gregos e troianos...


( Fonte: CNN (debate em Saint-Louis) )    

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