É muito provável que a maioria dos
assistentes do debate de S.Louis haja visto com alívio o final da justa
oratória. Não surpreenderá, tampouco, que tal cansaço também seja dos dois
candidatos, engessados pelo artificialismo de muitas das perguntas de um
público que é carimbado de neutro, por
mais estranho que pareça continuar sem formar juízo sobre as respectivas
vantagens e defeitos dos dois adversários, a essa altura do campeonato.
Ou muitos desses assistentes vivem em
outras esferas, ou trata-se apenas de mentirinha pro-forma das organizações respectivas. De qualquer modo, são
raras, raríssimas mesmo, as questões que vão a fundo dos respectivos
litigantes.
Talvez o que de mais interessante tenha
havido ocorreu antes do segundo
debate.
Pensaram que poderiam colocar a um
canto Donald Trump, com o escândalo
produzido pela fita com idéias e juízos do candidato republicano sobre as
mulheres. O estardalhaço foi ainda maior porque esse registro de opiniões e
visões passadas de Trump sobre a mulher reflete tão somente uma visão machista,
que não é exatamente a surpresa para o GOP
e o eleitorado em geral.
Imaginaram acaso que poderiam levá-lo
a um canto do ringue, como na imagem pugilística? A deputada Nancy Pelosi, essa
vítima democrata do gerrymander da Câmara, hipócritamente hoje um segredo de
Polichinelo, já aconselhara a Hillary Clinton
a única saída possível para alguém que manifeste comportamento psicopático:
Ignore-o!
Como não o fizeram, admitiram
implicitamente o circo com que Trump logrou efetivamente controlar o escândalo.
Como toda tática de alguém que deseja candidatar-se a psicopata, o que fez Donald? Chamou as testemunhas ainda vivas do
velho escândalo de Bill Clinton e sua presidência, com mulheres que teriam sido
vítimas dos avanços sexuais desse presidente.
Reunidas como no Velho Oeste, essas
mulheres faziam parte de outra estória, tanto que é de estranhar-se que Ken
Starr não tenha igualmente aparecido. Mas o non-sequitur
não existe para os eventuais suspeitos de psicopatia. Aquilo que provocara uma
cascata de declarações de líderes e de passados vultos do GOP, que se dissociaram do inconveniente candidato do verão, permaneceria no debate de ontem como aquele
não-evento (essas mulheres foram levadas a Saint-Louis adivinhem por quem) iria sobrepairar a atmosfera da segunda justa
oratória, e ao fim e ao cabo, mostraria que nisso Trump é imbatível. O absurdo
de suas declarações machistas que provocara o escândalo da véspera foi desfeito
na prática por um contra-argumento, a chamada ameaça, que por nada ter a ver
com o comportamento do candidato do GOP paradoxalmente o salvou de uma reação
análoga àquela que motivara a revoada de apoios dentro do GOP na reação que
precedera o debate...
E assim como no Brasil, tudo termina
na quarta-feira de cinzas (fim do carnaval), se não houve conclusão, mas apenas
armistício, postergamos para o terceiro e (felizmente) derradeiro combate
oratório, um formato que me parece dessangrado pelo formalismo.
O que no Velho Oeste tornava os debates mais
interessantes era a sua imprevisibilidade, tantas as maneiras com que podiam
concluir-se. Agora é demasiado
arrumadinho para que se aceitem todas as regras da correção. O formato atual me
parece lixiviado por uma série de precauções e de normativas, que engessam a
discussão. Ao aumentar as regras, a quem pensam que favorecem? Pois o diabo costuma tudo aceitar, eis que a
sua capacidade de pôr as coisas de ponta-cabeça é elogiada por gregos e
troianos...
( Fonte: CNN (debate em Saint-Louis) )
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