Desaparecido
em desastre de helicóptero - que caíu no mar, por conta de súbito mau tempo - e
cujo corpo nunca foi encontrado, Ulysses Guimarães é o gigante na luta pela Democracia
do Povo brasileiro.
Ulysses é desses homens que crescem com o tempo. Reponta em meio aos
anões, como predestinado para a História com agá maiúsculo.
Enfrentou o regime militar e a ameaça de cassação, e atravessou a longa
seara da contestação ao poder castrense, e dos jornais que apoiavam a
situação, para repontar com a
Constituição por ele denominada
"Cidadã", e que marcaria o próprio legado.
Como assinala Jorge Bastos Moreno, ao abrir os trabalhos da Assembléia
Nacional Constituinte, no dia quatro de fevereiro de 1987, Ulysses sinalizou o espírito que nortearia os dezenove meses
seguintes: "É um Parlamento de costas para o passado que se inaugura hoje
para decidir o destino constitucional do país."
Nessa caminhada, a Assembléia enfrentou cipoais e problemas, como o
próprio "Frankenstein" que era uma espécie de resumo composto por
grupos de trabalho para informarem a vindoura Constituição, e que não se
provaria manejável, tanto que o colégio dos Constituintes teve de desfazer-se dele para chegar ao texto que Ulysses designaria
como 'Constituição Cidadã'.
Ulysses era e sempre foi o líder talhado para as lides de Parlamento,
como seria na sua qualidade de Presidente desse colégio. Algo no entanto
parecia impedi-lo de tirar a conclusão lógica de sua liderança - estar em
posição acima dos pares, e no próprio consenso deles. Por isso, com a partida
de Tancredo Neves, que personificou a esperança, veria a cadeira presidencial
ser ocupada por alguém que não se comparava à sua liderança, seja nos anos de
travessia do deserto, seja ao avistar-se a terra firme da democracia.
Seu destino era de ser ímpar entre os pares, o nome inconteste para as horas dificeis,
respeitado pelos próprios iguais como maior do que eles, e, no entanto, por
força dos estranhos caprichos da História, não fadado a chegar ao próprio
manifesto destino, não obstante se haver desincumbido de ingentes tarefas, nos
tempos cinzentos da Ditadura militar. Por isso, já no retorno do período
democrático, seria natural vê-lo acompanhado ou por nomes já reconhecidos, como
Severo Gomes, ou por parlamentares como Pedro Simon, a quem estava fadada
trajetória política de respeito. Tal era o seu papel, que assomara como natural
aos grandes que lhe cederam a vez nas horas difíceis, mas não lhe reconheceram
tal direito ao pensarem que a procela terminara, e chegara o tempo da
normalidade, que a letra não-escrita da História costuma deixar por conta dos
homens comuns, eis que o tempo bom não parece requerer grandes vultos.
( Fonte subsidiária: O Globo)
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