Depois da
reunião com o Presidente brasileiro no Palácio do Planalto, que
Juan Guaidós considerou "histórica", o presidente interino
(reconhecido por cerca de 50 países) fez um gesto para Nicolás Maduro, para
tentar facilitar a transição em seu pais, onde o governo chavista tem a
legitimidade contestada na ruas e não é reconhecido pelo impressionante número
acima citado - Guaidós disse que o presidente também está incluído na oferta de
anistia feita pelo Parlamento (a Assembleia Nacional, de que ele é o presidente
e constitui a única representação política legítima), e se dirige àqueles
membros civis e militares do regime que
facilitarem a transição.
Foi descartada, de plano, sem embargo, qualquer
participação de Maduro - que foi declarado "usurpador" pela
Assembleia Nacional quando encetou o seu novo "mandato" em dez de
janeiro último - no processo que envolverá a convocação de eleições para o novo
governo democrático.
E, dessarte, se manifestou o
presidente interino: "Na Venezuela temos sangue, massacres a indígenas,
boicote à ajuda humanitária, mas a anistia está sobre a mesa e ela pode incluir
todos os funcionários civis ou militares que favoreçam o processo de fim da
usurpação, governo de transição e eleições livres. Aqui o importante é gerar estabilidade, atender as necessidades do povo
e melhorar as relações com o mundo- disse ele, acrescentando: - Todos os
funcionários que acompanhem o processo de fim da usurpação, transição e
eleições estarão sujeitos a um processo de revisão, Maduro incluído.
Nesse contexto, em
entrevista coletiva, após sua reunião com o presidente Bolsonaro, Guaidós
assegurou que neste momento "todos os mecanismos que nos levem a eleições
livres podem ser implementados".
Nesse processo, Guaidós reiterou que tudo é possível, sempre e quando o
desfecho sejam "eleições livres e democráticas".
Na sua entrevista ao Globo, o líder democrático poupou a
China e a Rússia, os dois mais importantes aliados de Maduro, no cenário
internacional : " China e Rússia são aliados da Venezuela, não de Maduro,
que as usa. Há mais de quatro anos não
lhe dão créditos. São países que sabem que não existe garantia de crescimento
econômico com Maduro usurpando a Presidência. Acho que todos podem ser nossos
aliados" - acenou o Presidente interino.
Guaidós insistiu em que
retornará à Venezuela "nos próximos
dias", apesar das ameaças de prisão que tem recebido de Maduro desde que
liderou, no fim da semana passada, a fracassada tentativa de ingresso de ajuda internacional no país
através das fronteiras de Colômbia e Brasil.
A iniciativa em tela
buscou levar os militares, principal sustentáculo do regime chavista, a
descumprirem as ordens de Maduro, que mandara fechar as fronteiras e assim
enfraquecer o presidente.
Guaidós confirmou que de
Brasília irá para Assunção, e de lá provavel-mente retornará a Bogotá, e de onde
voltaria para a Venezuela.
Em Brasília, aonde
chegou na madrugada de quinta-feira, dia 28 de fevereiro, em avião da Força
Aérea da Colômbia, teve desde logo agenda cheia de encontros com autoridades e
diplomatas, com o escopo de reforçar a própria posição no seu retorno à
Venezuela, aonde está sob ameaça de prisão.
No Palácio do
Planalto, foi recebido pelo presidente Jair Bolsonaro, que o chamou de
"irmão". Bolsonaro conversou com ele por quarenta minutos, quando lhe
assegurou que a Venezuela pode contar com o Brasil. Nessa entrevista, o
presidente foi bem claro ao dizer-lhe
que qualquer atuação do Brasil para ajudar os opositores de Maduro será feita
em respeito à legislação nacional, à nossa tradição diplomática, e com base nas
decisões do Grupo de Lima. Assinale-se que esse grupo, formado por
catorze nações do Continente, rejeitou nessa segunda feira uma intervenção
militar para depor Maduro.
Na saída do encontro,
Guaidós fez questão de descer do carro para falar com seguidores que estavam na
porta do Palácio presidencial, debaixo de chuva. Seu roteiro pela capital
federal incluíu reunião na sede da
delegação da União Europeia, com 24 representantes do bloco, almoço na Embaixada do Canadá e passagem
pela dos Estados Unidos, continuando com visitas à Câmara e ao Senado, onde foi
recebido pelo presidente Davi Alcolumbre (DEM/AP).
No seu encontro
com os embaixadores europeus, o presidente da Assembleia Nacional conversou
sobre os dramas da realidade venezuelana, disse estar inteirado dos riscos que
deverá correr quando retornar à Caracas,
mas reafirmou sua intenção de "cumprir minha missão". Segundo os diplomatas presentes, a reunião,
convocada por iniciativa da Espanha, "teve momentos de forte
impacto", mas o embai- xador
espanhol, Fernando Garcia Casas
esclareceu que isso não implica, ainda, que a UE, como bloco venha a
reconhecer o "governo encarregado"
de Guaidós (dada a existência de reticências dentre países como a Itália).
Garcia Casas teve, dessarte, de afirmar: " o que nós reconhecemos é
a legitimidade da A.N. O resto ainda depende de uma decisão de Bruxelas".
É de notar-se,
por fim, que em cada reunião em Brasília, Guaidós reforçou um de seus mais
novos lemas: "A Venezuela não vive um dilema entre guerra e paz". E frisou:"Todos
queremos viver em paz,mas não se pode ter paz se massacram indígenas e negam
eleições livres."
Por fim,
tampouco deixou dúvidas de que alguma opção haja sido tirada da mesa para obter
a mudança de regime em Caracas, nem a da intervenção militar: "Não descartamos nenhuma opção para conseguir
o fim da usurpação de poder, sem custo social e com estabilidade. Sempre
dirigido pela Venezuela. Faremos tudo o que for necessário para terminar com a
usurpação."
( Fonte: O Globo )
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