sexta-feira, 1 de março de 2019

Reunião Bolsonaro - Guaidós


                    
             Depois da reunião com o Presidente brasileiro no Palácio do Planalto,  que  Juan Guaidós considerou "histórica", o presidente interino (reconhecido por cerca de 50 países) fez um gesto para Nicolás Maduro, para tentar facilitar a transição em seu pais, onde o governo chavista tem a legitimidade contestada na ruas e não é reconhecido pelo impressionante número acima citado - Guaidós disse que o presidente também está incluído na oferta de anistia feita pelo Parlamento (a Assembleia Nacional, de que ele é o presidente e constitui a única representação política legítima), e se dirige àqueles membros  civis e militares do regime que facilitarem a transição.
               Foi descartada, de plano, sem embargo, qualquer participação de Maduro - que foi declarado "usurpador" pela Assembleia Nacional quando encetou o seu novo "mandato" em dez de janeiro último - no processo que envolverá a convocação de eleições para o novo governo democrático.
                 E, dessarte, se manifestou o presidente interino: "Na Venezuela temos sangue, massacres a indígenas, boicote à ajuda humanitária, mas a anistia está sobre a mesa e ela pode incluir todos os funcionários civis ou militares que favoreçam o processo de fim da usurpação, governo de transição e eleições livres.  Aqui o importante é gerar  estabilidade, atender as necessidades do povo e melhorar as relações com o mundo- disse ele, acrescentando: - Todos os funcionários que acompanhem o processo de fim da usurpação, transição e eleições estarão sujeitos a um processo de revisão, Maduro incluído.
                   Nesse contexto, em entrevista coletiva, após sua reunião com o presidente Bolsonaro, Guaidós assegurou que neste momento "todos os mecanismos que nos levem a eleições livres podem ser implementados".  Nesse processo, Guaidós reiterou que tudo é possível, sempre e quando o desfecho sejam "eleições livres e democráticas".
                    Na sua entrevista ao Globo, o líder democrático poupou a China e a Rússia, os dois mais importantes aliados de Maduro, no cenário internacional : " China e Rússia são aliados da Venezuela, não de Maduro, que as usa.  Há mais de quatro anos não lhe dão créditos. São países que sabem que não existe garantia de crescimento econômico com Maduro usurpando a Presidência. Acho que todos podem ser nossos aliados" - acenou o Presidente interino.
                       Guaidós insistiu em que retornará  à Venezuela "nos próximos dias", apesar das ameaças de prisão que tem recebido de Maduro desde que liderou, no fim da semana passada, a fracassada tentativa  de ingresso de ajuda internacional no país através das fronteiras de Colômbia e Brasil.
                        A iniciativa em tela buscou levar os militares, principal sustentáculo do regime chavista, a descumprirem as ordens de Maduro, que mandara fechar as fronteiras e assim enfraquecer o  presidente. 
                      Guaidós confirmou que de Brasília irá para Assunção, e de lá provavel-mente retornará a Bogotá, e de onde voltaria para a Venezuela.
                        Em Brasília, aonde chegou na madrugada de quinta-feira, dia 28 de fevereiro, em avião da Força Aérea da Colômbia, teve desde logo agenda cheia de encontros com autoridades e diplomatas, com o escopo de reforçar a própria posição no seu retorno à Venezuela, aonde está sob ameaça de prisão.
                         No Palácio do Planalto, foi recebido pelo presidente Jair Bolsonaro, que o chamou de "irmão". Bolsonaro conversou com ele por quarenta minutos, quando lhe assegurou que a Venezuela pode contar com o Brasil. Nessa entrevista, o presidente foi bem claro  ao dizer-lhe que qualquer atuação do Brasil para ajudar os opositores de Maduro será feita em respeito à legislação nacional, à nossa tradição diplomática, e com base nas decisões do Grupo de Lima.  Assinale-se que esse grupo, formado por catorze nações do Continente, rejeitou nessa segunda feira uma intervenção militar para depor Maduro.
                         Na saída do encontro, Guaidós fez questão de descer do carro para falar com seguidores que estavam na porta do Palácio presidencial, debaixo de chuva. Seu roteiro pela capital federal incluíu reunião na sede  da delegação da União Europeia, com 24 representantes  do bloco, almoço na Embaixada do Canadá e passagem pela dos Estados Unidos, continuando com visitas à Câmara e ao Senado, onde foi recebido pelo presidente Davi Alcolumbre (DEM/AP).
                           No seu encontro com  os embaixadores europeus,  o presidente da Assembleia Nacional conversou sobre os dramas da realidade venezuelana, disse estar inteirado dos riscos que deverá correr quando retornar  à Caracas, mas  reafirmou sua intenção  de "cumprir minha missão".  Segundo os diplomatas presentes, a reunião, convocada por iniciativa da Espanha, "teve momentos de forte impacto",  mas o embai- xador espanhol,  Fernando Garcia Casas esclareceu que isso não implica, ainda, que a UE, como bloco venha a reconhecer  o "governo encarregado" de Guaidós (dada a existência de reticências dentre países como  a Itália).  Garcia Casas teve, dessarte, de afirmar: " o que nós reconhecemos é a legitimidade da A.N. O resto ainda depende de uma decisão de Bruxelas".
                              É de notar-se, por fim, que em cada reunião em Brasília, Guaidós reforçou um de seus mais novos lemas: "A Venezuela não vive um dilema entre guerra e paz". E frisou:"Todos queremos viver em paz,mas não se pode ter paz se massacram indígenas e negam eleições livres."
                                Por fim, tampouco deixou dúvidas de que alguma opção haja sido tirada da mesa para obter a mudança de regime em Caracas, nem a da intervenção militar: "Não descartamos nenhuma opção para conseguir o fim da usurpação de poder, sem custo social e com estabilidade. Sempre dirigido pela Venezuela. Faremos tudo o que for necessário para terminar com a usurpação."

( Fonte: O  Globo )

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