Segundo noticia o Estado de S. Paulo, um dia
depois de ameaçar deixar a articulação política da reforma da Previdência na
Câmara, o presidente Rodrigo Maia negou ontem, dia 22, que
abandonará a função. Disse, no entanto, que o governo Bolsonaro não pode
terceirizar a responsabilidade.
Para o presidente da Câmara dos Deputados, o Presidente
Jair Bolsonaro deve assumir a liderança nesse processo, caso contrário
terá dificuldades para aprovar as mudanças nas regras de aposentadoria.
"O discurso dele (v.e. Bolsonaro)
é: sou contra a reforma, mas fui obrigado a mandá-la, ou o Brasil quebra. Ele
dá sinais de insegurança ao Parlamento", declarou Maia, em entrevista ao
Estadão. "Hoje o governo não tem
base. Não sou eu que vou organizá-la", e, nesse sentido, Maia também afirmou que o governo é um "deserto de
idéias". Fez, no entanto, exceção do Ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara
acrescentou que o Brasil "precisa sair do Twitter e ir para a vida
real".
E o Deputado Rodrigo Maia
acrescentou: "Ninguém consegue emprego por causa do Twitter. Precisamos
que o país volte a ter um projeto. Qual é o projeto do governo Bolsonaro fora a
Previdência e o projeto de Sérgio Moro?
Não se sabe."
O presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ)
disse ao Estado que o governo não tem
projeto para o país além da Reforma da Previdência. Passado um dia após ameaçar
deixar a articulação política para a aprovação das mudanças na aposentadoria
por causa dos ataques recebidos nas redes sociais pelo vereador Carlos
Bolsonaro (PSC-RJ), Maia calibrou o discurso e assegurou a continuidade do
trabalho. Fez, porém, várias críticas e advertiu que o Presidente precisa
deixar o Twitter de lado, além da
"disputa do mal contra o bem", e se empenhar para melhorar a vida da
população.
"O governo é um deserto de ideias", afirmou Maia. "Se tem propostas, eu não as conheço.
Qual é o projeto do governo Bolsonaro fora a Previdência? Não se
sabe". Na avaliação do presidente
da Câmara, o ministro da Economia, Paulo
Guedes, é "uma ilha"
dentro do Executivo.
Lembrado de que Bolsonaro
comparou possíveis dificuldades no relacionamento às brigas de um namoro e
avisou que vai procurá-lo, Maia disse que o presidente ficar sem conversar com
ele até o fim do mandato, não haverá problema. "Não preciso falar com ele.
O problema é que ele tem de conseguir várias namoradas no Congresso para
aprovar a Previdência. Eu já sou a favor. Ele pode me deixar para o fim da
fila", argumentou Maia.
Indagado porque decidira
abandonar a articulação da reforma, Maia respondeu: "Apenas entendo que o
governo eleito não pode terceirizar sua responsabilidade. O presidente precisa
assumir a liderança, ser mais proativo. O discurso dele é: sou contra a
reforma, mas fui obrigado a mandá-la, ou o Brasil quebra. Ele dá sinalização de insegurança ao
Parlamento. Ele tem de assumir o
discurso que faz o ministro Paulo
Guedes. Hoje o governo não tem base. Não sou eu que vou organizar a base.
Precisamos reorganizar essa conversa. O presidente da Câmara sozinho em uma
matéria como a reforma da previdência não tem capacidade de conseguir 308
votos. Está escrito lá na PEC 'autoria: Poder Executivo'. Então o Poder
Executivo precisa ser um ator ativo nesse processo político."
Perguntado se ele continua à
frente da articulação, disse Rodrigo Maia:
"Dentro do meu quadrado, sim.
Agora, acho que quanto mais eles tentam trazer para mim a responsabilidade do
governo, mais estã piorando a relação do governo com o Parlamento. Quanto mais
eu assumir o protagonismo na reforma da Previdência, pior para a reforma da
Previdência. O governo precisa vir a
público de forma mais objetiva, com mais clareza, com mais energia na votação
da reforma. Quando o Paulo Guedes vem
aqui, eles saem com boa expectativa."
Indagado sobre o governo
precisa fazer, respondeu Maia. "Ele precisa construir um diálogo com o
Parlamento, com os líderes, com os partidos. Não pode ficar a informação que o
meu diálogo não é pela matéria, é pelo toma lá, dá cá. A gente tem de parar com
essa conversa, Como o presidente vê a política? O que é a novo política para ele? Ele precisa colocar em prática a nova
política. Tanto é verdade que ele não colocou que tem 50 deputados na base. O
presidente da Câmara talvez seja o político que hoje mais defende a aprovação
da reforma da Previdência e eu vou continuar cumprindo esse papel pelo
Brasil. Faço o alerta: se o governo não
organizar sua base, se o presidente não começar a fazer política com os partidos, com os parlamentares
dialogando, vai ser muito difícil aprovar a reforma da Previdência. O ciclo dos
últimos trinta anos acabou e agora se abre um novo ciclo do qual ele é o
primeiro líder. Ele precisa saber o que
colocar no lugar."
Perguntado se o presidente ainda não o
fez, Maia respondeu: "Ele estará
transferindo para a Presidência da Câmara e do Senado uma responsabilidade que
é dele. Então, ele fica só com o bônus e eu fico com o ônus de ganhar ou
perder. Se ganhar, ganhei com eles. Se perder,perdi sozinho. Então isso para uma matéria como a Previdência é muito grave. Porque não é
qualquer votação. É a votação que vai dizer o que o Brasil quer.Se é reduzir o
número de desempregados, reduzir o número de pobres no Brasil. Se o Brasil quer
voltar a poder investir em saúde e educação ou se o Brasil vai ter
hiperinflação. Então não é uma votação qualquer para você falar assim 'leva que
o filho é teu', Não é assim. Essa é uma matéria que vai ser um divisor de águas
inclusive para o governo Bolsonaro. Então, ele precisa assumir um protagonismo.
Foi isso que eu falei. Não falei que vou deixar de trabalhar, deixar de
defender coisas que eu tenho convicção, eu não deixo de fazer porque brigo com
A. com B., com C.
Perguntado sobre o que acha se
o posicionamento do filho do presidente Carlos Bolsonaro nas redes sociais está
atrapalhando o governo, respondeu:
"O Brasil precisa sair
do Twitter e ir para a vida real. Ninguém consegue emprego por causa do Twitter.
Ninguém consegue uma vaga na escola, uma creche para uma criança, ser operado
no hospital por causa do Twitter. Precisamos que o País volte a ter projeto.
Qual é o projeto do governo Bolsonaro fora a Previdência e o projeto do
ministro Sérgio Moro? Não se sabe. Qual é o projeto de um partido de direita
para acabar com a extrema pobreza? Criticaram tanto a Bolsa Família nos últimos anos e não propuseram nada até agora para
o lugar. Criticaram tanto a evasão escolar de jovens e agora a gente não sabe o
que o governo pensa para os jovens e pensa para as crianças de zero a três
anos. O governo é um deserto de ideias.
Perguntado sobre se temos
um desgoverno, respondeu Maia:"As pessoas
estão precisando da reforma da Previdência. Mesmo que elas não saibam. As
pessoas precisam que o governo volte a
funcionar. Nós temos uma ilha de governo com o Paulo Guedes, com a equipe dele.
Tirando ali, você tem pouca coisa. Ou pouca coisa pública. Nós sabemos onde
estão os problemas. Um governo de
direita deveria estar fazendo não apenas o enfrentamento nas redes sociais
sobre se o comunismo acabou ou não, mas deveria estar dizendo: "No lugar
do Minha Casa, minha Vida, para habitação popular nós estamos pensando isso;
para saneamento, nós estamos pensando aquilo". O que o governo pensa sobre
saneamento básico?
Indagado afinal se é
por isso que o DEM até hoje não entrou na base, respondeu Presidente da
Câmara: "É porque para o DEM, como
para todos os partidos, a prioridade não são nomeações como o presidente acha,
a prioridade é conhecer qual é o projeto do governo, em que governo eu vou
entrar, quais são as propostas para que eu possa projetar 2022 ou 2032.
"Por que o embate
com o ministro Sérgio Moro? Ele tem
que encaminhar o projeto, dialogar e respeitar a tramitação, que é dada pelo
Presidente da Câmara, que foi eleito com 33.334 votos e sem o apoio do governo.
O projeto é importante. Conheço a Câmara dos Deputados razoavelmente bem.
Certamente, muito melhor que o ministro Moro. E sei como eu posso ajudar a que
o projeto sem atrapalhar a Previdência possa tramitar. O que me incomodou? O
ministro passou da fronteira. Mas tenho certeza que daqui a algumas semanas ele
vai ver que foi muito melhor para o projeto dele. Ele me mandou mensagem
hoje."
( Fonte: O Estado de S. Paulo)
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