terça-feira, 5 de março de 2019

O Dilema de Juan Guaidó


                                            

            Guaidó, de regresso de seu périplo de dez dias na América do Sul, nesta segunda-feira dia quatro de março, tem mostrado, como líder oposicionista, coragem e equilíbrio.
                 Apesar da guerra de nervos do regime Maduro de que ele seria detido ao regressar por sair para a América Latina, abandonando o pátrio território, ainda que por uma tournée relâmpago   Guaidó manteve a calma, tanto evitando motivos para 'reforçar' as acusações do campo chavista,  sem deixar de evidenciar uma sobranceira atitude de quem não dá motivos para ataques dos maduristas, sem contudo esquecer que ele é o Presidente interino da Venezuela, apoiado por mais de 50 países.
                   Ele soube não desperdiçar os seus poucos e delicados trunfos, pois ao usá-los com medida, sem inúteis provocações, valorizando-se na sua rápida tournée na América Latina, preservando  a força moral do candidato, ele se houve bem no seu périplo de Latino America,  evidenciando que não é nenhum novato na política, nem tampouco deslumbrado. Soube, outrossim,  atuar com a necessária afirmação política, ao seguir a trilha perigosa de um candidato com uma base contestada pelo corrupto regime chavista, sem escorregões, e, sobretudo, sabendo dosar à maravilha a pressão local das manifestações da massa popular, que soube entremear com o seu retorno e a possibilidade de tentativa de intimidação de parte de um campo chavista que mal se contém em fazer um 'agrado' ao caudillo de Miraflores, se para tanto lhe desse Juan Guaidó uma fímbria de desculpa.

                     A mesma habilidade foi evidenciada nas demonstrações que fez realizar em Caracas e alhures. Como a parte ainda exposta nessas primeiras manobras,  Juan Guaidó tem surpreendido a muitos pelo cocktail de coragem e habilidade, com que dosa as respectivas forças, tendo bem presente que Nicolás Maduro e a sua  corrupta aliança  que ainda está no poder, não desejaria outra coisa que uma escorregadela do jovem Guaidó, causada por postura provocativa do presidente interino.
                         Não que Guaidó tenha poucas cartas. Mas ele não deve esquecer que o seu jogo no imediato futuro defronta um adversário na verdade podre, e com apoiadores que tendem a sentir-se cada vez mais inseguros diante das habilidades do presidente interino.  Para isso. ele dever ter presente que  carece de fugir da hubris, porque ela, em última análise, o enfraqueceria.

                         Trata-se, na verdade, de um jogo florentino. Se souber dosá-lo e se não piscar,  as chances de prevalecer de parte de Guaidó  são muito grandes. Mas ele não pode subestimar o adversário, apesar de ter a maioria do povo venezuelano do próprio lado.

( Fonte: Folha de S. Paulo )

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