Em blog
de um punhado de anos atrás, me reportara a filme de
Woody Allen, Paris
at Midnight (Paris a meia noite). É inegável o encanto da antiga Lutetia,
onde a carreira me ofereceu a oportunidade de começar, como Segundo Secretário, a minha
experiência em missão diplomática permanente. Depois de passado no vestibular e no curso
bienal do Instituto Rio Branco, ambos
felizmente concluídos em primeiro lugar, trabalhei na Secretaria de Estado por
quatro anos, de início em divisão geográfica - que abrangia Ásia, África e
Oceânia - e mais tarde servindo no Departamento de Administração, como oficial
de gabinete (1961) a seguir, a disposição do Ministro da Indústria e Comércio
(1962), e mais adiante, de volta ao Ministério das Relações Exteriores, como Assistente do chefe da Divisão de Política Comercial, e no
mesmo ano, chefe, interino, dessa DPC (1963).
Ainda em 1963, seria promovido por merecimento a Segundo
Secretário. Pouco depois, fui removido
para a Embaixada em Paris.
Ao alcançar
Paris, vindo pelo transatlântico Giulio Cesare, após
desembarcar em Nice, o trem me traria
até a gare St.Lazare, aonde cheguei à
noite. Pela janela do táxi contemplei maravilhado os enormes vultos
arquitetônicos dessa mágica cidade dita das luzes - e sobretudo aqueles sombras
majestosas da ile de la Citè,
notadamente a catedral de Notre Dame,
que ao longo do velho Sena se desenha nas noturnas, indiferentes sombras a marcar para aqueles que a atravessam como se
fora avatar de um passado milênio.
Refazia, ainda sem o saber, o trajeto dos muitos outros que me haviam
antecedido. Pelo visto, o privilégio de
servir na missão do embaixador Souza Dantas - que despertava ciúmes até compreen-síveis
nos muitos chefes que o sucederam, aos quais por vezes desagradavam os derramados
elogios prodigados por velhos colegas no círculo parisiense e outras autoridades da elite francesa,
indicações essas que recebiam a mancheias de seus eventuais interlocutores no
governo e na sociedade parisiense. E ciumadas à parte dos chers collègues, a
relevância de Luiz Martins de Souza Dantas cresce quando se tem presente que
ele foi chefe dessa prestigiosa missão de 24.12.1922 a 19 de março de 1943, o
que abrange a velha república até quase o final do governo do presidente Getúlio
Vargas, cerca de vinte e um anos!
Na noite, que é feita de luzes e sombras, aquela Paris silenciosa, atravessada
por um velho táxi, nas largas avenidas que o Barão de Haussmann riscara na
cidade oitocentesca, eu a atravessei no anonimato de um jovem segundo
secretário, que se dirigia ao endereço do pequeno hotel des Théatres, que me fora reservado pela embaixada, na avenue
Montaigne, a poucos quarteirões da velha chancelaria de nossa Missão.
Chegava a uma missão que se dizia estar meio
preparada para receber um embaixador de
prestigio, que viria a suceder a Carlos Alves de Souza, cuja missão terminara
em janeiro de 1964. No interinato, o
ministro Raul de Vincenzi era o Encarregado de Negócios, ad interim.
Ao partir para o posto, modesto Segundo Secretário, ao passar pelo gabinete para despedir-me da
chefia, me surpreendera que o Ministro João Augusto de Araujo Castro me convocasse
ao seu gabinete, Ministro de Estado que era do Presidente João Goulart. Dada a minha condição de segundo secretário,
até me pareceria um tanto inusitada a audiência. Mais tarde, saberia que Castro
já tinha apalavrada a embaixada em Paris do então presidente João Goulart, o
que explicava o seu interesse quanto ao contato com o jovem colega.
Por isso, a missão parisiense estava sublotada quando para lá me dirigi.
Além do encarregado de negócios, ministro de segunda classe, havia um
conselheiro e dois secretários, o que
era número bastante baixo para missão de tal prestigio na carreira. (a continuar)
( Fontes: Anuários do Ministério das Relações Exteriores e impressões pessoais.)
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